20 DE NOVEMBRO. DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Há mais de 30 anos, o professor-sindicalista,Júlio César Condaque Soares milita no Quilombo Raça & Classe. Para ele, a verdadeira liberdade do povo negro brasileiro depende da compreensão, em torno da qual, o racismo e o capitalismo devem ser destruídos. Segundo ele, a organização política da comunidade negra “letrada e não letrada” é a única saída para derrubada destes dois inimigos. O Professor Júlio Condaque é graduado em História pela Uerj/FFP. Pós-graduado História da África – Universidade Cândido Mendes e Mestrado em Educação/UniRio. Convidado da coluna NOTA-PRETA, no Dia Nacional da Consciência Negra, o Professor Júlio Condaque nos brinda com a aula, a seguir:
Aquilombar as lutas em defesa da vida, contra a pandemia e o racismo! Fora bolsonaro! Fora sergio camargo da fundação palmares!
Parem de Nos Matar – Vidas Negras Importam
Em meio a maior pandemia vivenciada mundialmente e, aqui, no Brasil, que tornou pública a grande desigualdade social, denunciada, há anos, pelos movimentos sociais negros. Apontando que poderemos chegar, este ano a 200 mil mortes, onde a maioria das vitimas tem sido a população negra e pobre que, associada à a crise estrutural do capitalismo, aprofunda a fome e o desemprego. Mais a política de “Segurança Pública”(?) com operações policiais e o negacionismo do governo de Bolsonaro e Mourão, que aumenta o genocídio afro-indígena e do povo pobre, seja pela violência policial ou pelas consequências da Pandemia, diante de uma desestruturação de anos do SUS articulada com a irresponsabilidade e corrupção que, segue sobre o orçamento da saúde e educação.
Acompanhamos os noticiários da violência praticada pelo estado à população negra estadunidense. Lá, além das denuncias, foram às ruas e se rebelaram contra o Estado racista. Aqui, no Brasil, de acordo com diversas pesquisas 75% das vítimas assassinadas são mulheres, jovens e homens negros. A cada 10 assassinatos, 8 são mortos pela polícia, que em sua maioria, é negra. As mulheres negras são aa maiores vitimas do minicídio, e estupros e violência homofóbicas.
Como se não bastassem a violência racial e policial, nós negras e negros, ainda lutamos pela reparação. São s 350 anos de regime escravocrata. O estado brasileiro tem uma dívida histórica com afro brasileiros, que sofrem com o desemprego. Os ataques diários aos direitos trabalhistas e a precária condições de moradia nas favelas, e falta de acessos à saúde, educação e saneamento básico. Tem mais: renda e vacinação obrigatória para todos contra a Covid 19.
Nós negros, negras e não brancos, alinhados na luta antirracista, temos como tarefa neste 20 de Novembro ecoar nossas reivindicações e exigências de reparações históricas e o fim da política de encarceramento e perpétuo. Fim ao analfabetismo. Fim à falta de moradia. Entendendo que, não há humanização no capitalismo, que as opressões, que o racismo estão intrínsecos ao capitalismo; que barbariza nossa existência. Nossa luta diária é a proteção da vida. Por concursos públicos. Mais empregos , renda. Não aos cortes de salários dos servidores. Estabilidade com reforma administrativa. Não a carteira verde amarela que, será fim dos direitos trabalhistas e da Consolidação das Leis Trabalhistas- CLT. Pelo não pagamento da dívida externa. A não reabertura das escolas. Gritamos Fora Bolsonaro e Mourão e Sergio Camargo.
Um 20 de Novembro em honra de Zumbi e Dandara
Dia da Morte de Zumbi de Palmares, grande guerreiro e ícone das lutas quilombolas. Zumbi liderou, por décadas, o Quilombo de Palmares, um dos maiores e mais conhecidos da Historia do Brasil Negro. Esta data é pauta de reivindicação de anos de muita luta dos Movimentos Negros, por entender que a comemoração do 13 de Maio, imposto historicamente pelos governos, não representava nossas ideais de liberdade e igualdade, colocando princesa Izabel como redentora do povo negro. Quando sabemos que, foi com o suor, o sangue e as lutas de ancestrais quilombolas, que alcançamos a abolição da escravidão negra, no Brasil .
Apesar de seguirmos combatendo décadas de violência racial, desigualdades sociais e de gênero, porque apesar da abolição a verdadeira liberdade não veio, à medida que nosso povo negro não teve nenhum tipo de reparação pelos anos de escravidão, simplesmente abriram as portas das senzalas. Sem moradia, sem emprego, sem direitos sociais mínimos de vida, ganharam a estrada para morrer. Mais ao contrário do que imaginaram, foram sobrevivendo às margens, às periferias, às favelas das cidades. Sigamos na guerra, para que esta data, seja reconhecida como feriado por todos os municípios dos pais; até atingir o status de Feriado Nacional.
O Racismo Estrutural e seus capitães do mato 2.1
Historicamente a população negra vem sendo utilizada e servindo aos propósitos da burguesia, dos ricos e poderosos brancos, no mundo. No Brasil, mesmo no pós-abolição, pós-colonialismo, a realidade de vida da população negra sempre foi limitada de direitos, pautada pela perseguição e violência de seus corpos. Os parcos avanços e ganhos (não têm nem cem anos) não vieram porque os governos foram generosos. Ao contrário, sempre foi com muita luta, combinada com os interesses políticos da época. Mas mesmo o pouco conquistado, dentro desta sociedade do capital que sobrevive da opressão e da exploração dos trabalhadores negros e pobres, maioria do exército de reserva deste país, vem sendo ameaçado e retirado.
Diante das perversas ações de Bolsonaro, um governo de ultra direita com requintes facistóides, que se elegeu com um discurso racista, machista, lgbtefóbico, xenófobico e violento, que não tem poupado esforços, em seus ataques e retiradas de direitos da classe trabalhadora de conjunto, mas que recaem com muito mais perversidade sobre negros e pobres. Como se não bastasse, tem tido como asseclas, Sérgio Camargo (Presidente da Fundação Palmares) e Fernando Holiday (Deputado Federal-SP). Apesar de negros, tem sistematicamente proferido ataques a nossa cultura e ao nosso povo negro. Com o uso de posições mentirosas e no reinventar “da roda da história ocidental e racista”. No dia 23 de outubro de 2020, Holiday disparou contra as cotas, política-afirmativa, que é uma escada para a reparação histórica. Sérgio Camargo, por sua vez, diz que, Palmares e Zumbi eram fora da Lei. Ele também propaga a fake-news que “Zumbi dos Palmares era violento com as mulheres”. Os impropérios desses capitães do mato despolitizam a questão negra e cumprem a cartilha liberal e racista: ataque a maioria da população brasileira, que é negra. Seguindo o festival de bizarrices de Camargo, contra a negritude, uma se destaca. Trata-se uma portaria assinada por ele, então presidente da Fundação Palmares e publicada, na edição desta quarta-feira (11/11/2020) do “Diário Oficial da União”, em que muda as regras para a seleção e publicação dos nomes e biografias das personalidades negras notáveis, no site da entidade. Uma das alterações: a lista passará a fazer, apenas, homenagens póstumas. Ou seja, vai conter somente nomes de personalidades já mortas. Isso deve levar à exclusão da galeria de pessoas do campo artístico como Gilberto Gil, Elza Soares e Martinho da Vila, entre outras. Prestando um desserviço à causa negra, a exemplo dos capitães do mato 2.1