Marco Diana, 50 anos, ex-maresciallo[1] do exército, morreu. Com ele, as mortes por exposição ao urânio empobrecido sobem para 381, enquanto mais de 7.500 pessoas estão doentes.

O dossiê “urânio empobrecido” foi um dos carros-chefes (junto com “No Tav”, “No F35”…) com o qual o M5S (Movimento 5 Estrelas), no passado, ganhou muitos votos e conquistou um apoio esmagador.

Em relação às centenas de mortes e milhares de doentes expostos ao urânio empobrecido, a justiça e a verdade foram ignoradas, ou até mesmo abertamente contestadas, pela centro-direita e centro-esquerda. Mas também desapareceram do campo de interesse dos mesmos pentaestrelados assim que o cobiçado governo foi alcançado.

Uma carta da Associação Nacional de Vítimas de Urânio Empobrecido (Anvui) chegou nesses dias à mesa do presidente da Comissão de Defesa, Gianluca Rizzo (M5S). Vincenzo Riccio, presidente da Anvui, não poupa críticas: “Na atual legislatura todos os cargos” úteis “para mudar as coisas foram ocupados por figuras do movimento ao qual você pertence”. A referência é ao projeto de lei, ainda guardado nas gavetas, criado a partir do relatório final da comissão parlamentar de inquérito presidida pelo deputado Gian Piero Scanu (Partido Democrático). Em relação ao campo da saúde e segurança ocupacional dos militares, no relatório se destaca e existência de “questões críticas e chocantes -na Itália e em missões no exterior- que contribuíram para semear mortes e doenças.”

Embora reconhecendo que o deputado Rizzo deu uma contribuição ativa à Comissão de Inquérito, o presidente das vítimas lembrou-lhe que chegou a hora de continuar “a batalha iniciada pelo deputado Scanu”. Depois de ter expressado estima pelo deputado Rizzo, o deputado Scanu rogou-lhe que a proposta de lei levasse o nome do mesmo Rizzo para garantir o início do processo parlamentar e o convidou a ter a “coragem política” para levar a cabo o caminho da aprovação. Processo que está sendo muito difícil porque, de acordo com fontes bem informadas, a tramitação do projeto de lei está sendo bloqueada até mesmo pela presidente da XI Comissão do Trabalho, Deborah Serracchiani.

Atualmente Gian Piero Scanu é presidente honorário da Associação das Vítimas do Urânio Empobrecido e representa a “memória histórica” ​​de um enredo que, com a devida contextualização, lembra às obstruções de justiça relativas aos massacres da primeira república.

– Em que consiste a lei que as vítimas do urânio empobrecido tanto almejam?

– A lei nasceu do relatório final da IV Comissão de Inquérito por mim presidida, e seria muito importante em termos de prevenção. No âmbito dos acidentes de trabalho, desmantela a jurisdição interna na qual o controlador e o controlado são ambos militares subordinados ao Ministério da Defesa e, entre outras coisas, o controlador está hierarquicamente subordinado ao controlado. A lei atribuiria a competência de controle a uma terceira entidade, o Inail (Instituto Nacional do Seguro Social de Acidente do Trabalho). É deste ponto que surge a forte resistência à sua aprovação. Hoje, o paradoxo é que os soldados que servem nas chamadas “missões de paz” são os menos protegidos.

– Mas porque confiou ao deputado Rizzo esse projeto de lei que o senhor mesmo redigiu e que é filho da Comissão de Inquérito que o senhor presidiu?

– “Invoquei” a ajuda do deputado Rizzo porque tinha participado ativamente dos trabalhos da Comissão de Inquérito, tinha votado a favor do meu relatório final, ao contrário de alguns colegas do meu próprio partido e porque, no entanto, tinha sido nomeado presidente da Comissão de Defesa. Todavia, meu jogo acabou com a rejeição do projeto de lei pelo governo e depois com o fim do meu mandato e minha exclusão das candidaturas pretendida por Renzi. Devo dizer que as coisas correram mal com o governo anterior, mas com este governo estão piorando ainda mais.

– Apenas o M5S é culpado por o projeto de lei ainda estar guardado na gaveta?

– Absolutamente não. Devo destacar que pela segunda vez o Partido Democrático, que continua sendo meu partido apesar de tudo, se opõe a um ato de justiça que qualquer pessoa de bom senso deveria defender. É desanimador encontrar no atual ministro da defesa Guerini (PD) a mesma obstinação impeditiva das ex-ministras Pinotti (PD) e Trenta (M5S).

E, além disso, é preciso dizer que a culpa deste impasse é do parlamento como um todo: não é só a comissão de defesa, mas também as comissões de trabalho e assuntos sociais. A comissão de trabalho é sim presidida pelo deputado Serracchiani, que também é do meu partido, mas todas as forças políticas estão presentes. Pois bem, as comissões de mérito estão bloqueando o projeto. Aparentemente, aquela vontade que se destacou durante a legislatura passada, pela qual se emitiram ordens e se estabeleceram atitudes, continua presente e ativa e continua impedindo um salto civilizatório, que já chegaria tarde. É uma atitude que não condiz com a de um país civilizado. Estão demolindo a credibilidade institucional como um todo.

– A Associação das Vítimas do Urânio Empobrecido definiu a ex-ministra da defesa, Pinotti, como uma “figura que sempre teve uma atitude negacionista, impeditiva e no mínimo desagradável do ponto de vista humano e político”. O que você acha da sua recente nomeação como presidente da Comissão de Defesa do Senado?

– Com certeza, não é motivo de esperança.


[1] Posto do exército italiano.

 

Traduzido do italiano por Cristiana Gotsis