Em 4 de maio de 2014 fomos à nossa celebração na montanha, com motivo de cumprir-se os 45 anos daquela data tão memorável. Foi um “antes de” e um “depois de” para todos! Aquele dia aconteceram várias coisas: A alocução , a roda de prensa, entrevistas a Silo e reunião posterior com participantes e viajantes de diversos lugares. Desta vez nos encontramos novamente para comemorar, fizemos cerimônias, ouvimos a Arenga gravada e demos testemunho de como estas ideias foram incidindo positivamente em nossas vidas, comentários e agradecimentos conjugam-se em emotivos relatos. Este é o meu. Embora talvez o mais significativo e simples seja o do participante que, depois de ouvir Silo, comentou: “e…a ficha caiu aos poucos…” Isto é, vai se caindo em conta de tamanhas verdades, nos permitindo ver que as coisas podem ser de melhor modo. O testemunho prévio ao meu fez referência à decisão de ‘deixar de sofrer’, com base no tema principal da arenga, como algo crucial, descrevendo este amplamente. Sem dúvida é algo para incorporar, cedo ou tarde, o fato de querer superar o sofrimento, é decisivo. Mas não sabíamos disso até aquele dia. Antes conhecíamos outras coisas. Contávamos com muitos recursos. Porém, este tema foi desvendado nesta ocasião pela primeira vez. É importante compreender isso bem, porque o sofrimento desnecessário freia a vida, complica as coisas. Este se apresenta de diversas maneiras e também é enganoso. Nos faz acreditar que ‘não é para tanto’. Que ‘sofrer, sofrer’ é coisa de lugares em guerra, onde se passa fome, ocorrem catástrofes, mas não em nosso diário viver. Porém, não é assim, nem de longe. Também parece que o sofrimento de alguém pode fazer os outros sofrerem; Isto é como aquilo de ‘trata os outros….’, mas ao contrário! Por isso é imprescindível se propor a sua superação. Como mínimo, acredito que o sofrimento social e pessoal nos indica que ‘algo não vai bem’ e que se deve mudar… Lembro-me de uma amiga andaluza que nos começos de sua participação no Siloismo dizia: “Me disseram: ‘olha, isto é para não sofrer’, e eu me disse: ‘Ah, isto é o meu!’ Belo não? É assim. A propósito, agora nessas terras está sendo construído outro Parque de Reflexão. Isto teve vários passos, começou em 1967 quando ele nos falou que iria anunciando o de Silo. Nós pensamos ‘que bom!’. Depois ele propôs adiantar tudo para metade do ano 1968, mas já quando mencionou que se retirava para morar na montanha é que vimos que isso era sério, muito sério, mais ainda considerando a censura daquela ditadura… Ele se instalou na paisagem cordilheirana a começos de 1969 e no março seguinte começaram os preparativos do ato previsto para abril-maio. Foi-nos dada a permissão com a célebre frase ‘ir falar nas pedras’, já que foi pedido um lugar na cidade e outro na montanha, pensávamos em um local espaçoso e pouco convencional. Não o negaram, então viemos para o local na cordilheira. Ali estivemos desde a manhã daquele dia 4, era um dia ensolarado, como o de hoje. Aos poucos chegavam os viajantes em ônibus e carros, e os jornalistas no meio do enxame de policiais armados ‘custodiando’ a paisagem. Para o meio-dia um orador apresentou textos anteriores de Silo, até que este desceu a montanha e começou com aquele famoso ‘Se viestes aqui…’ Então iniciou Silo, com o núcleo de seu ensinamento, de sua proposta, Silo começou a andar. Finda a mensagem, ele entregou aos presentes um objeto, dizendo: ‘ a ti, meu irmão, lanço esta esperança… ’, como uma forma manifesta de se comunicar com as pessoas. Seu interesse permanece. Depois, fomos para a confêrencia de prensa, com vários jornalistas, alguns respeitosos, outros nem tanto… Alguém perguntou ‘E agora, como seguirá Silo?’ Ele respondeu: “As pessoas dirão, as pessoas dirão…” E foi assim que desde aquele momento tivemos uma vida com dois aspectos: um para si mesmo e o outro público, no qual empresaríamos a proposta sempre que fosse possível, tentando sermos coerentes, pensando , sentindo e agindo na mesma direção. Depois fomos para o centro da cidade, para a casa de amigos, onde concluiu a jornada. Trocamos sobre o ato realizado, Silo nos presenteou com um livrinho com a proposta de levar adiante este projeto – antecedente do Humanismo e A Mensagem- que continuava abrindo a participação amplamente. Demos então um salto para frente. Já existia Silo, contávamos com seu ensinamento, com sua corrente de ação em gestação. Tivemos a clara sensação, o registro nítido de uma grande conquista, se tínhamos conseguido fazer isso, contra vento e maré, poderíamos fazer muitas coisas mais. Sem dúvida nenhuma. Isso nos entusiasmava. Algo grande e bom tinha acontecido ali, poderíamos comunica-lo, dar continuidade e projeção para o futuro.
Punta de Vacas, 04 de maio de 2014