A atual pandemia veio agravar a dependência social das tecnologias digitais. Isto consolidou o poder pré-existente das grandes empresas, acentuando simultaneamente a vigilância e o controle sobre os cidadãos.
Sem dúvida, o domínio digital sob um regime de grandes dados (Big Data) e inteligência artificial irá acelerar com a atual crise. A questão-chave é, então, qual a sociedade digital e sob que modelo será dominada pelas grandes empresas digitais, de extração e exploração de dados, com ou sem consentimento, orientada para os seus lucros privados e para os interesses dos seus clientes empresariais ou estatais? Ou será um modelo sob controle democrático dos cidadãos, com primazia para o interesse público e para o bem-estar da maioria?
Tendo em conta a insuficiente inserção, na agenda pública da América Latina e Caribe, da discussão sobre os impactos da era digital nas aspirações de progresso equitativo dos povos e o carácter disperso e fragmentado das respostas populares à esta realidade, a Conferência “Utopias ou Distopias – Os povos da América Latina e das Caribe face à era digital” pretende estabelecer um plano comum de ação.
Esta iniciativa visa compreender as características e a orientação atual do sistema tecnodigital e identificar estratégias de luta que estejam ligadas de forma transversal, setorial e territorial, e que exprimam as exigências dos cidadãos e das organizações populares a fim de travar o avanço das transnacionais da tecnologia digital na nossa autodeterminação.
Simultaneamente, as Conferências procuram reforçar o intercâmbio integral, permanente e inclusivo de iniciativas e ações em curso ou a planejar e estabelecer mecanismos para uma maior cooperação entre elas.
Para além do planejamento de ações comuns e por setor, entre os eixos fundamentais da proposta constam a geração de propostas de políticas públicas a adotar e a coordenação de campanhas de sensibilização, clarificação, formação e ação conjunta entre os intervenientes coletivos.
Finalmente, é necessário visualizar e explorar paradigmas alternativos de desenvolvimento que contestem os significados civilizatórios e culturais.
O espírito deste projeto não se limita à mera denúncia, mas visa avançar no sentido da apropriação tecnológica e da soberania. Trata-se de uma mudança cultural. O mundo que virá será diferente daquele em que viemos e queremos construir o mundo a que aspiramos.
Ao contrário dos atuais ambientes multissetoriais que lidam com estas questões, completamente permeados pelo setor empresarial privado, a disputa entre utopias ou distopias exige um encontro entre organizações e movimentos sociais, academias, iniciativas de ativismo tecnológico e redes de comunicação popular.
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