ARTES VISUAIS
Por Bia Sampaio
Ars, Artis. Techne, Digitalis.
Sergio Gonçalves Galeria de São Paulo abre sua primeira exposição coletiva e aborda mídias digitais nos trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros
Vem do latim o nome da mostra apresentada a partir do dia 11 de março na Sergio Gonçalves Galeria, que abriu as portas em São Paulo recentemente, em uma casa na Alameda Gabriel Monteiro. “Ars, Artis. Techne, Digitalis.” segue o tema da edição deste ano da DW – Design Week de São Paulo, “Mãos x Máquina”, destacando a interação entre tecnologia e criatividade na produção artística e no design contemporâneo. Na exposição da galeria, o marchand Sergio Gonçalves reúne artistas brasileiros e estrangeiros de diversas nacionalidades, cujas obras provocam a reflexão sobre o impacto das mídias digitais nos tempos atuais. Em sua primeira participação na DW, a galeria reforça sua posição como um espaço de experimento na Arte Contemporânea, abrindo as portas para novas narrativas visuais, sempre em busca de inovação.
Nesta curadoria, ele selecionou artistas que experimentaram e que ainda experimentam novas maneiras de expressão, unindo arte e tecnologia e criando um diálogo entre o toque humano e a precisão das máquinas. Nomes como Abraham Palatnik, Cruz-Diez e Martha Boto, por exemplo, que foram pioneiros em novas formas de expressão com o uso de inovações em suas épocas, fazem parte desta seleção apurada, que conta ainda com outros nomes de destaque como Bruce Maclean, Julian Opie, Michael Craig-Martin, Vik Muniz e Toyota.
“Sempre que algo novo surge no cenário, o questionamento aumenta sobre a morte da pintura, da fotografia natural, do fazer artístico… foi assim com o advento da fotografia, da computação, da internet e, novamente agora, com o advento da IA, a Inteligência Artificial que tantos temem. Quais caminhos ela aponta?”.
“Nosso objetivo é mostrar que, longe de substituir o artista, a tecnologia poder ser uma extensão da criativadade humana, ampliando possibilidades e transformando a maneira como percebemos a Arte e o Design, por exemplo”, afirma Sergio Gonçalves.
Artistas participantes
Abraham Palatnik, Alexandre Mazza, Bernard Pras, Bernardo Mora, Bruce Mclean, Catherine Yass, Cruz-Diez, Duda Rosa, Iván Navarro, Jê Américo, Julian Opie, Julio Le Parc, Martha Boto, Marcelo Magnani, Michael Craig-Martin, Sarah Morris, Vik Muniz, Yutaka Toyota
Saiba mais sobre Sergio Gonçalves
Quando o marchand e colecionador carioca Sergio Gonçalves abriu seu primeiro espaço cultural, quase 30 anos atrás, o panorama das artes era bem diferente do que é hoje – nomes brasileiros como Adriana Varejão, Beatriz Milhares e Vik Muniz ainda não figuravam nos rankings internacionais e as feiras como SP Arte e Arte Rio sequer existiam. Sua galeria de arte contemporânea na Barra da Tijuca, inaugurada em 1996, algum tempo depois assumiria o nome do empresário e desembarcaria no Centro Histórico carioca, além de continuar com a filial no CasaShopping, apresentando artistas incensados como Ângelo de Aquino, Emanoel Araújo, Wesley Duke Lee, Ascânio MMM, Carlos Vergara, Aguilar, Siron Franco, entre outras estrelas plurais.
Mantendo o endereço carioca até hoje, em 2017, a grife expandiu os horizontes para São Paulo, proporcionando uma nova experiência no formato “casa-galeria”, com atendimento by appointment em que Gonçalves promoveu inúmeras imersões no mundo das artes, com almoços e jantares informais (e disputadíssimos), com a presença de artistas e experts, propiciando uma interação original com as obras expostas. “É sobre viver e conviver com a arte”, explica.
Além dos endereços próprios no Rio e em Curitiba, com um pé no Brasil e o outro nas melhores bienais, feiras e festivais, hoje a Sergio Gonçalves Galeria é responsável pela curadoria das mostras Artefacto em diversos estados brasileiros e reconhecida também pela consultoria de alguns dos escritórios de arquitetura e design mais expressivos do País, desmitificando o reducionismo do uso da arte na decoração, valorizando as obras com aplicações mais consistentes, longe da vulgaridade das combinações cromáticas entre elementos. Com um acervo composto por obras de mais de 100 artistas, entre nomes locais e estrangeiros que abrangem pinturas, fotografias, esculturas, desenhos, gravuras, instalações e site specifcs, a galeria foi inaugurada em agosto de 2024, no número 484 da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, endereço seminal do design no Brasil. Ali, no perímetro conhecido como “Upper Gabriel”, ele carimba um novo ciclo do business com a expo individual de Carlos Araujo, artista de enorme envergadura cujas pinturas dramáticas reverberam com força nessa e em outras terras.
Serviço
Ars, Artis. Techne, Digitalis.
Abertura: 11 de março, terça-feira, das 14h às 18h
Visitação: até 22 de março de 2025
Local: Sergio Gonçalves Galeria
Endereço: Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 484 – Jardim América – SP
Funcionamento: de segunda a sexta, das 10h às 19h; aos sábados, das 10h às 15h
Contatos: www.sergiogonçalvesgaleria.com/@sergiogoncalvesgaleria
Informações à imprensa: BriefCom Assessoria de Comunicação/Bia Sampaio: (21) 98181-8351/biasampaio@briefcom.com.br/@briefcomcomunicacao
Abraham Palatnik
Nascido em 1928 em Natal, Brasil, Abraham Palatnik foi um pioneiro da arte cinética no país. Sua técnica inovadora envolvia instalações elétricas que criavam movimentos e jogos de luzes, destacando-se os “Aparelhos Cinecromáticos”. Influenciado por estudos em física e mecânica em Tel Aviv, Palatnik buscou integrar arte e tecnologia. Seu trabalho teve um impacto significativo na arte contemporânea brasileira, com obras em acervos de instituições como o MoMA, em Nova York, e o MAM, em São Paulo. Em 2018, recebeu o Prêmio Faz Diferença na categoria Artes Plásticas, promovido pelo jornal O Globo.
Alexandre Mazza
Alexandre Mazza é um artista contemporâneo brasileiro conhecido por suas pinturas abstratas que exploram cores vibrantes e formas geométricas. Sua técnica envolve o uso de acrílico sobre tela, criando composições que remetem ao construtivismo. Influenciado por artistas modernistas brasileiros, Mazza busca dialogar entre a arte concreta e a contemporaneidade. Seu trabalho tem sido exibido em diversas galerias no Brasil, contribuindo para a renovação da pintura abstrata no país.
Bernard Pras
Bernard Pras é um artista francês renomado por suas anamorfoses, uma técnica que combina escultura e ilusão de ótica. Ele cria composições tridimensionais a partir de objetos variados, como brinquedos, sucata, ferramentas e tecidos, organizando-os de forma aparentemente caótica. No entanto, quando vistos de um ângulo específico ou através de uma lente, esses elementos se alinham para formar imagens nítidas, muitas vezes retratos de figuras icônicas ou recriações de obras clássicas da arte. Seu trabalho explora a percepção visual e a relação entre a matéria e a imagem, desafiando a forma como enxergamos o mundo ao nosso redor. Inspirado pelo movimento do trompe-l’œil e pela arte contemporânea, Pras transforma objetos comuns em elementos essenciais de sua narrativa artística. Suas obras brincam com a perspectiva e a memória coletiva, exigindo do observador um olhar atento e um deslocamento físico para descobrir a figura oculta no aparente caos.
Bernardo Mora
Bernardo Mora é um escultor uruguaio cuja obra se destaca pelo uso de materiais reciclados e sucata metálica. Sua técnica envolve a soldagem e montagem de peças, resultando em esculturas que frequentemente abordam temas ecológicos e sociais. Influenciado pelo movimento Arte Povera, Mora busca questionar o consumismo e a sustentabilidade através de sua arte. Suas obras foram reconhecidas em bienais de arte na América Latina, destacando-se pela originalidade e mensagem ambiental.
Bruce McLean
Nascido em 1944 na Escócia, Bruce McLean é um artista multifacetado que transita entre a escultura, pintura, performance e fotografia. Conhecido por seu humor e abordagem irreverente, McLean utiliza técnicas variadas para desafiar as convenções artísticas. Influenciado pelo movimento da arte conceitual britânica, seu trabalho teve impacto significativo na cena artística do Reino Unido. Recebeu o Prêmio John Moores de Pintura em 1985, consolidando sua posição no cenário artístico internacional.
Catherine Yass
Catherine Yass, nascida em 1963 no Reino Unido, é uma artista renomada por suas fotografias e vídeos que exploram a percepção e a arquitetura. Sua técnica distintiva envolve a sobreposição de negativos e positivos, criando imagens etéreas e desorientadoras. Influenciada por questões urbanas e espaciais, Yass investiga a relação entre o ambiente construído e a experiência humana. Foi finalista do Prêmio Turner em 2002, refletindo seu impacto na arte contemporânea britânica.
Carlos Cruz-Diez
Carlos Cruz-Diez (1923-2019) foi um artista venezuelano e uma figura central na arte cinética e óptica. Sua técnica envolvia a criação de obras que exploravam a cor como uma experiência autônoma, muitas vezes utilizando estruturas físicas para decompor a luz. Influenciado por movimentos modernistas e pela ciência da percepção, Cruz-Diez teve um impacto duradouro na arte contemporânea, com obras exibidas globalmente. Recebeu diversas honrarias, incluindo o Prêmio Internacional de Arte Contemporânea de Mônaco em 1980.
Duda Rosa
Artista plástico paulistano de ascendência italiana e portuguesa, conhecido por suas obras que exploram a geometria e o movimento. Crescido em um bairro tradicional de São Paulo nos anos 70, suas experiências de infância – marcadas por brincadeiras de rua e um cotidiano de liberdade – influenciaram profundamente sua criatividade e expressão artística.
Sua trajetória na arte começou nos anos 80 como artista gráfico, criando desenhos para serigrafia. Em 1998, durante um período de crise pessoal e profissional, Duda iniciou suas experiências na arte abstrata, utilizando tintas vibrantes e técnicas gestuais. Esse período catártico deu origem a uma série de obras expressivas, caracterizadas por volumes e cores dinâmicas.
A carreira de Duda Rosa tomou um rumo decisivo quando recebeu uma encomenda para uma obra geométrica. Esse desafio o levou a explorar a geometria lúdica, resultando na série “Ludimetria”, composta por mais de 200 trabalhos ao longo de 10 anos, com forte influência da Op Art. Em 2008, buscando novos desafios, Duda desenvolveu a série “Movimetria”, que explora a sobreposição de camadas e elementos geométricos, criando um efeito cinético de movimento visual. Suas obras carregam um caráter exploratório e provocativo, desafiando a percepção e oferecendo experiências visuais surpreendentes. Duda Rosa consolidou sua linguagem artística com um estilo inconfundível, contribuindo significativamente para o cenário contemporâneo da arte brasileira.
Iván Navarro
Nascido em 1972 no Chile, Iván Navarro é conhecido por suas esculturas e instalações que utilizam luzes de néon e espelhos para explorar temas de poder e controle. Sua técnica envolve a manipulação de luz e espaço para criar ilusõesópticas e reflexões infinitas. Influenciado pela ditadura chilena e questões políticas, Navarro aborda temas como repressão e liberdade. Representou o Chile na Bienal de Veneza em 2009, destacando-se no cenário internacional da arte contemporânea.
Jê Américo
Jê Américo é um artista brasileiro cuja obra abrange pintura, escultura e instalação. Sua técnica caracteriza-se pelo uso de materiais orgânicos e reciclados, criando peças que dialogam com a natureza e a sustentabilidade. Influenciado por culturas indígenas e arte popular brasileira, Américo busca resgatar tradições e saberes ancestrais. Seu trabalho tem sido exibido em diversas exposições no Brasil, contribuindo para a valorização da arte ecológica e comunitária.
Julian Opie
Julian Opie, nascido em 1958 no Reino Unido, é reconhecido por seu estilo minimalista que simplifica figuras humanas e paisagens em formas essenciais. Utilizando técnicas digitais e tradicionais, Opie cria obras que remetem a sinais gráficos e cultura pop. Influenciado por movimentos como o Pop Art, seu trabalho teve impacto significativo na arte contemporânea, sendo amplamente colecionado e exibido internacionalmente. Em 1995, foi premiado com o Prêmio Sargent de Pintura Contemporânea.
Julio Le Parc
Julio Le Parc é um artista plástico argentino, conhecido por seu papel fundamental na arte cinética e óptica. Sua obra explora luz, movimento e a percepção visual, criando experiências dinâmicas que envolvem o espectador. Utilizando materiais reflexivos, jogos de luz e estruturas móveis, Le Parc desafia a estática tradicional da arte e propõe uma interação ativa com o público. Como um dos fundadores do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV) na década de 1960, ele buscou romper com a arte elitista e aproximá-la do espectador, explorando efeitos ópticos que provocam ilusões e sensações vibrantes.
Martha Boto
Martha Boto (1925-2004) foi uma artista argentina pioneira na arte cinética e óptica. Sua técnica envolvia o uso de materiais como acrílico, alumínio e luzes para criar obras que exploravam o movimento e a percepção visual. Influenciada pelo abstracionismo geométrico e pelas inovações tecnológicas de sua época, Boto buscava desafiar a percepção do espectador através de ilusões de movimento e profundidade. Seu trabalho teve impacto significativo nodesenvolvimento da arte cinética na América Latina e na Europa, sendo reconhecida em exposições internacionais. Recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio Nacional de Pintura na Argentina.
Marcelo Magnani
Marcelo Magnani é um artista contemporâneo brasileiro conhecido por suas pinturas que exploram a relação entre cor e forma. Utilizando técnicas mistas sobre tela, Magnani cria composições abstratas que evocam paisagens e emoções. Influenciado pelo modernismo brasileiro e por artistas como Iberê Camargo, seu trabalho busca uma síntese entre a abstração lírica e a geometria. Magnani participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil, contribuindo para o cenário da arte contemporânea nacional.
Michael Craig-Martin
Michael Craig-Martin, nascido em 1941 na Irlanda, é um artista conceitual conhecido por suas representações vibrantes de objetos cotidianos. Sua técnica
envolve o uso de cores planas e linhas precisas para retratar itens banais, transformando-os em ícones visuais. Influenciado pelo minimalismo e pela arte pop, Craig-Martin explora a relação entre imagem e significado. Seu impacto na arte contemporânea é notável, tanto por suas obras quanto por seu papel como professor, tendo influenciado uma geração de artistas britânicos. Em 2016, foi condecorado com o título de Cavaleiro pela Rainha Elizabeth II por suascontribuições às artes visuais.
Sarah Morris
Sarah Morris, nascida em 1967 no Reino Unido, é uma artista reconhecida por suas pinturas geométricas e filmes que investigam a arquitetura urbana e a psicologia das cidades. Utilizando técnicas de pintura acrílica em cores vibrantes,Morris cria composições que refletem padrões arquitetônicos e estruturas sociais. Influenciada pelo modernismo e pela cultura pop, seu trabalho oferece uma análise crítica das dinâmicas urbanas e do poder. Morris já exibiu suas obras em importantes instituições internacionais e participou de bienais de arte, consolidando seu impacto no cenário artístico contemporâneo.
Vik Muniz
Vik Muniz, nascido em 1961 em São Paulo, Brasil, é um artista renomado por suas obras que utilizam materiais inusitados para recriar imagens conhecidas. Sua técnica envolve o uso de elementos como açúcar, chocolate, lixo e pigmentos para compor suas obras, que são posteriormente fotografadas. Influenciado pela arte pop e pela cultura de massa, Muniz explora a percepção e a reprodução de imagens na sociedade contemporânea. Seu trabalho teve impacto global, com exposições em museus de prestígio como o MoMA em Nova York e a Tate Modern em Londres. Em 2010, foi indicado ao Oscar pelo documentário “Lixo Extraordinário”, que retrata seu projeto artístico com catadores de materiais recicláveis no Rio de Janeiro.
Yutaka Toyota
Yutaka Toyota, nascido em 1931 no Japão, é um escultor e pintor que desenvolveu grande parte de sua carreira no Brasil. Conhecido por suas esculturas em aço inoxidável, Toyota utiliza técnicas de polimento e corte para criar obras que interagem com a luz e o espaço, produzindo efeitos ópticos e sensoriais. Influenciado pelo concretismo e pelo minimalismo, seu trabalho busca explorar a relação entre forma, espaço e percepção. Toyota teve um impacto significativo na arte pública brasileira, com esculturas instaladas em espaços urbanos de várias cidades. Recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio de Escultura na Bienal Internacional de São Paulo em 1967. Esses artistas, com suas distintas trajetórias e abordagens, contribuíram de maneira significativa para o enriquecimento da arte contemporânea, cada umexplorando técnicas e temáticas que ampliam os horizontes da expressão artística.