MÚSICA
Por Renan Simões / Revisão de Gisele Guion
Seguem os álbuns não brasileiros que mais me cativaram em 2024:
Cindy Lee – Diamond Jubilee
Eis que a Pitchfork Media atribui uma nota altíssima para um álbum independente de um artista drag com duas horas de duração, 32 músicas originais, disponível inicialmente apenas no YouTube e em um website. Parecia o checklist perfeito para supervalorizar um álbum só por ser “diferentão”. Entretanto, para minha surpresa, Diamond jubilee, do Cindy Lee, projeto do canadense Patrick Flegel, se mostrou incrível do início ao fim. A música é muitas vezes torta, suja, imprevisível e desoladora, mas ao mesmo tempo traz muita esperança, boas lembranças e ganchos musicais que grudam na mente – características do hypnagogic pop, que propõe essa revisita ao passado. Destaco a elegante e assertiva faixa-título, a nostálgica Dreams of you, e a seção central do álbum, que consegue abarcar o vazio, o pulsar dançante e a agressividade em uma sequência impecável: Til polarity’s end, Realistik heaven, Stone faces, GAYBLEVISION, Dracula e Lockstepp.
The Cure – Songs of a Lost World
The Cure é uma rara banda que conseguiu envelhecer bem produzindo músicas originais. Em seu primeiro álbum de inéditas desde 2008, o grupo consegue se mostrar altamente necessário em 2024, e sem perder sua identidade. São músicas para um mundo perdido, para um mundo em ruínas, para um mundo em que a hipocrisia religiosa mata mais que tudo, para um mundo onde a verdadeira besta do fim dos tempos é a ganância humana. Música do apocalipse, só que bem acessível para todos. Música emocionante.
Läuten der Seele – Die Reise zur Monsalwäsche
A música experimental, como a música de qualquer gênero, pode cair muito facilmente na mesmice, na simples reprodução de fórmulas e clichês do gênero. Em meio aos álbuns experimentais que ouvi em 2024, destacou-se Die reise zur Monsalwäsche, de Läuten der Seel, projeto do músico Christian Schoppik. O álbum, de ambient e drone, possui duas faixas longas como texturas e viradas instigantes, em uma mescla espetacular com a música de concerto, especialmente a coral. Na segunda metade da segunda faixa, há também inserções jazzísticas bem improváveis em um contexto como esse.
Alan Sparhawk – Can U Hear
Alan Sparhawk e Mimi Parker, casados e parceiros musicais, lançaram 13 álbuns e 10 EPs entre 1994 e 2021, com a banda Low, em uma carreira consistente, criativa e revolucionária; considero seu último álbum um ápice criativo. Após o falecimento de Mimi Parker em 2022, em decorrência de um câncer, Alan Sparhawk seguiu em uma carreira solo ainda mais tortuosa. Em seu primeiro álbum, sua voz encontra-se sempre processada, e Can u hear é um apelo desesperado ao infinito vazio, requerendo que sua amada confirme se o ouve – resposta que ele provavelmente nunca terá.
Brittany Howard – What Now
What now, faixa título do álbum que Brittany Howard lançou em 2024, é uma pedrada de rock dançante, atirada por uma verdadeira autoridade do rock moderno.
Father John Misty – Being You
Quando acerta a mão, Father John Misty cria músicas matadoras. Eu já estava com saudades de suas canções grandiosas, as últimas das quais presentes em God’s favorite customer (2018); em Mahashmashana, encontramos a tocante Being you.
Fine – Remember the Heart
Embora esteja no espectro da introspecção triste, Rocky top ballads é um álbum agradável como um todo, e foi a melodia torta de Remember the heart que eu tive a vontade de revisitar continuamente.
Seefeel – Sky Hooks
Sky hooks é a faixa mais incrivelmente estranha de 2024, onde vozes e flautas de outro planeta são sobrepostos a uma batida primal. A faixa integra um dos dois EPs lançados pelo grupo em 2024, após anos sem nenhum material inédito.
The Smile – Bending Hectic
Inicialmente, Bending hectic se desenvolve como a maioria das faixas dos projetos paralelos dos integrantes do Radiohead – interessantes, belas, bem construídas, mas não chegam no ápice de explosão e intensidade expressivas que caracterizam o grupo. Entretanto, após três minutos de música, surge um mantra poderoso, cuja reiteração, mais três minutos adiante, é puro deleite e intensidade.
Willow – symptom of life / b i g f e e l i n g s
Em seu álbum intitulado empathogen, Willow nos traz canções pop complexas, calcadas em um jazz roqueiro e virtuoso, e dentre as quais destaco symptom of life e b i g f e e l i n g s.