CULTURA
Por Marrom Glacê
Tendo como tema “A Força da Mulher Ancestral”, evento prioriza as abordagens femininas nos cinco dias de programação, que se encerra no dia 02 de fevereiro com um grande cortejo em homenagem a Iemanjá.
Após levar mais de 5 mil pessoas à sua primeira edição, que evocava a força do tambor ancestral, a 2ª edição do evento “Encontro de Povos de Terreiro” acontece de 29 de janeiro a 02 de fevereiro na Gamboa, espaço sagrado para as religiões de matriz africana, com uma programação totalmente gratuita. Celebrando a cultura afro-pindorâmica e tendo como norte desta edição o tema “A Força da Mulher Ancestral”, o evento acontece com um enfoque majoritariamente feminino, trazendo às palestras nomes como Mãe Flávia Pinto, Elaine Marcelina, Sol Shakur, Iyá Luciana Carneiro, Janamô e Mãe Sara Pinheiro – também dirigente da ÚNICA (União Umbandista, Luz, Caridade e Amor) e organizadora do evento ao lado de Leandro Bacellar e Ramon Alcântara, produtores do Encontro. Reconhecido como um dos grandes estudiosos das religiões de matriz africana, o escritor e professor Luiz Antônio Simas entra como único representante masculino da programação.
A 2ª edição do Encontro conta ainda com rodas de conversa, apresentações de dança, música e teatro, oficinas, culinária, feira de artesanato e um espaço de recreação para crianças, possibilitando a ida das mães com seus filhos.
O projeto é contemplado pelo edital PRÓ-CARIOCA (LINGUAGENS) – PROGRAMA DE FOMENTO À CULTURA CARIOCA – EDIÇÃO PNAB – POLÍTICA NACIONAL ALDIR BLANC, categoria “MOSTRAS, FESTIVAIS E MULTILINGUAGENS”, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura e contemplado no Zonas de Cultura com cogestão da Fetaerj.
Com a programação dividida entre o CCU – Centro Cultural da UNICA e o espaço Sacadura 154, no dia 02 de fevereiro acontece a participação do evento no circuito Praça da Harmonia – Praça Mauá – Sacadura 154 o Cortejo e Presente de Iemanjá com os Filhos de Gandhi.
“O objetivo do Encontro de Povos de Terreiro é mostrar para a sociedade a importância da cultura negra e originária, a cultura dos povos de terreiro. Nossa cultura e identidade preta e indígena sofreram muito apagamento com as imposições do colonizador. É de primeira ordem mostrar que Exu não é diabo, que banho de erva não é bruxaria. É necessário reverenciar e celebrar a beleza da nossa ancestralidade e suas tradições, perpetuando o que os negros e os povos originários deixaram marcados na nossa sociedade”, sintetiza Mãe Sara, cuja inspiração deu corpo ao projeto.
Combater o preconceito, a intolerância e o racismo religioso é um dos propósitos do evento, mas ele não se limita a isso. Ao longo do Encontro serão apresentadas diversas palestras e rodas de conversa com temáticas relevantes sobre a Umbanda e a Africanidade. Dentre os recortes da programação deste ano estão reflexões sobre o matriacardo, sustentabilidade, relações entre diversidade de gênero, travestilidade e ancestralidade e a “nagotização da Umbanda”.
“A Umbanda começa na colonização, nasce da união do povo Banto com os povos originários. Existe muita referência da religião a partir de 1908, através do médium Zélio Fernandino de Moraes, contudo, não se encontram escritos sobre a Umbanda antes do Zélio. Nessa deficiência, muitos terreiros começaram a misturar seus fundamentos e migrar para o Candomblé, unindo duas religiões diferentes. O problema não é migrar ou reunir os fundamentos, nosso alerta é que existe raiz na Umbanda e em sua respectiva formação ancestral. Portanto, prezamos por um resgate de nossa ancestralidade, dos verdadeiros fundadores da Umbanda, ao invés de fundamenta-la, sem pesquisa e entendimento, somente no Nagô”, pondera Leandro Bacellar.
A pesquisa cuidadosa e o olhar interessado nas raízes da Umbanda têm dado o tom do Encontro, inclusive na escolha do tema deste ano, “A força da mulher ancestral”. O produtor Ramon Alcântara reconhece a responsabilidade e honra em poder projetar e investigar a mulher ancestral, e reitera que a proposta do evento não é apenas fortalecer a religião, mas também discutir e celebrar a mulher, consolidando na região a cultura da entrega do Presente de Iemanjá, a grande mãe de todas as cabeças, prática realizada há muitos anos pelos Filhos de Gandhi, ambicionando um avanço rumo à projeção nacional.
“A temática será abordada com diversas frentes e num prisma diverso. As rodas de bate papo e palestras compactuam com a missão desta edição, exaltando essa mulher preta e a mulher originária, mas também a mulher contemporânea, artista, artesã, trabalhadora, mãe, avó, filha. Vamos debater a trajetória que trouxe as mulheres brasileiras até aqui, refletindo sobre os nossos sagrados e nossa cultura. É um evento multi-linguagem, onde fizemos de tudo para levar para o foco da celebração as Yabás, a mulher preta e indígena e a mulher entidade”, ressalta Ramon.
Mãe Sara reconhece que o debate sobre africanidades e povos originários já está no nosso dia a dia, mas acredita que é preciso amplificar essa comunicação e potencializar a resistência, aprofundando o tema para todos, negros e brancos. “Para que os negros não percam suas identidades e para que os brancos aprendam ou mantenham o respeito. Temos muita coisa pra debater e informar. Buscamos propagar que a Umbanda é muito mais que uma religião, é uma filosofia de vida. É a nossa história, nossa cultura e identidade. Queremos mostrar que os povos de terreiro têm em sua cultura a verdadeira força, e que o respeito, a tolerância e a consciência do espaço do outro são imperativos. E deixando evidente que estaremos sempre aqui, em todos os espaços. Isso é o óbvio, não nos apagarão”, conclui Mãe Sara.
SERVIÇO:
“ENCONTRO DE POVOS DE TERREIRO – A FORÇA DA MULHER ANCESTRAL”
QUANDO: 29 de janeiro a 02 de fevereiro
ENDEREÇOS DOS ESPAÇOS:
CCU – Centro Cultura Única: Rua Sacadura Cabral, 109 – Saúde
Sacadura 154: Rua Sacadura Cabral, 154 – Saúde
ENTRADA GRATUITA
PROGRAMAÇÃO
QUARTA-FEIRA – 29 DE JANEIRO
CCU:
15h – PALESTRA “Salve o Matriacardo – O Manual da Mulher Búfala”
Com Mãe Flávia Pinto (Tradução em LIBRAS) + Lançamento de Livro
17h – RODA DE CONVERSA “A Força da Mulher Ancestral” (Tradução em LIBRAS)
Com Mãe Flávia Pinto, Elaine Marcelina e Mãe Sara Pinheiro
Mediação: Gisele Machado
20h – ABERTURA OFICIAL DO FESTIVAL
Batucada de Macumba com Curimba UNICA
QUINTA-FEIRA – 30 DE JANEIRO
CCU:
13h – VIVÊNCIA/OFICINA
Capoeira com Anderson Dyno
16h – PALESTRA
“Xica Manicongo – A Pequena África em Transição” (Tradução em LIBRAS)
Com Sol Shakur
17h – RODA DE CONVERSA
“Diversidade de Gênero, Travestilidade e Ancestralidade” (Tradução em LIBRAS)
Com Sol Shakur, Kaye A’nu e Mãe Sara Pinheiro
Mediação: Gisele Machado
19h – VIVÊNCIA/OFICINA
Samba de Roda com ReconcaRio
20h – APRESENTAÇÃO MUSICAL
RECONCARIO
SEXTA-FEIRA – 31 DE JANEIRO
CCU:
14h – VISITA GUIADA EDUCATIVA – Cais Do Valongo x Pequena África
Com Rafael Moraes
15h – VIVÊNCIA / OFICINA
Artesanato de Axé – Caçando Sonhos
Com Mariana Pinheiro
17h – RODA DE CONVERSA
“Axé é Sustentabilidade” (Tradução em LIBRAS)
Com Marcelle Oliveira, Mãe Sara Pinheiro (Única) e Iyá Luciana Carneiro (Terreiro Sustentável)
Mediação: Gisele Machado
19h – PALESTRA
“Mulher Ancestral: Feminismos, Territórios e Resistências Decoloniais” (Tradução em LIBRAS)
Com Janamô
21h – APRESENTAÇÃO MUSICAL
Janamô
SÁBADO – 1º DE FEVEREIRO
SACADURA 154:
12h – APRESENTAÇÃO MUSICAL
CURIMBA UNICA
12h às 20h: ESPAÇO DE RECREAÇÃO INFANTIL
12h às 21h: FEIRA DE ARTESANATO
12h às 21h: MOSTRA DE CULINÁRIA – CASA OMOLOKUM
12H30 – RODA DE CONVERSA
“A mãe de santo, a dirigente de terreiro, a zeladora. A matriz é mulher” (Tradução em LIBRAS)
Com Mãe Márcia Marçal e Mãe Sara Pinheiro.
Mediação: Gisele Machado
Lançamento do Livro: “Faria Tudo Outra Vez – Mãe Márcia Marçal”
14h – VIVÊNCIA/OFICINA
“Nas Águas de Iemanjá”
Com Armazém Cultural das Artes
14h – PALESTRA
Com Luiz Antônio Simas
16h – APRESENTAÇÃO DE DANÇA
Cia de Dança Afro Bamboyá
17h – APRESENTAÇÃO DE TEATRO DANÇA
Awure Mirim – Ilê Asé D’Oluaiyè Ni Oyá
18h30 – APRESENTAÇÃO MUSICAL
Mulheres da Pequena África
21h – SHOW MUSICAL
Tambores de Olokum convida Glória Bonfim
DOMINGO – 02 DE FEVEREIRO
SACADURA 154:
09h – (Praça da Harmonia x Praça Mauá x Sacadura 154)
CORTEJO, LAVAGEM E ENTREGA DO BALAIO DE YEMANJÁ
COM PARTICIPAÇÃO DO CORTEJO E PRESENTE DE YEMANJÁ dos FILHOS DE GANDHI
12h às 20h: ESPAÇO DE RECREAÇÃO INFANTIL
12h às 21h: FEIRA DE ARTESANATO
12h às 21h: MOSTRA DE CULINÁRIA – CASA OMOLOKUM
12h às 13h45
1º BLOCO FESTIVAL DE CURIMBA ENCONTRO DE POVOS DE TERREIRO / 2ª EDIÇÃO
14h – APRESENTAÇÃO MUSICAL
FILHOS DE GANDHI
15h30 às 17h
2º BLOCO FESTIVAL DE CURIMBA ENCONTRO DE POVOS DE TERREIRO / 2ª EDIÇÃO
17h30 – APRESENTAÇÃO MUSICAL
LETÍCIA VENTANIA
18h30 – APRESENTAÇÃO MUSICAL
CARTA NA MANGA
21h – SHOW MUSICAL
FINA BATUCADA convida CURIMBA ÚNICA