Um novo relatório da Amnistia Internacional documenta a forma como Israel levou a cabo atos proibidos pela Convenção sobre o Genocídio, com a intenção específica de destruir os palestinianos em Gaza.

A Amnistia Internacional diz ter encontrado  bases suficientes para concluir que Israel cometeu e continua a cometer genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza ocupada. A conclusão foi apresentada no lançamento do relatório “You Feel Like You Are Subhuman” [Tu sentes-te como se fosses sub-humano]: O genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza.

Na apresentação, a secretária-geral da organização, Agnès Callamard, diz que o novo relatório “demonstra que Israel levou a cabo atos proibidos pela Convenção sobre o Genocídio, com a intenção específica de destruir os palestinianos em Gaza. Estes atos incluem assassinatos, causar lesões corporais ou mentais graves e infligir deliberadamente aos palestinianos em Gaza condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física. Mês após mês, Israel tem tratado os palestinianos em Gaza como um grupo sub-humano indigno dos direitos humanos e da dignidade, demonstrando a sua intenção de os destruir fisicamente”.

“A nossa investigação revela que, durante meses, Israel persistiu em cometer atos genocidas, plenamente consciente dos danos irreparáveis que estava a infligir aos palestinianos em Gaza. Continuou a fazê-lo, desafiando os inúmeros avisos sobre a situação humanitária catastrófica e as decisões juridicamente vinculativas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que ordenavam a Israel que tomasse medidas imediatas para permitir a prestação de assistência humanitária aos civis em Gaza”, afirmou Agnès Callamard.

Face aos factos analisados e as provas recolhidas, as conclusões são óbvias e ”devem servir de alerta para a comunidade internacional: isto é genocídio. Tem de acabar já”, prosseguiu, alertando os países envolvidos na transferência de armas para Israel que “devem saber que estão a violar a sua obrigação de prevenir o genocídio e correm o risco de se tornarem cúmplices do genocídio”. Palavras dirigidas em especial aos EUA e Alemanha enquanto maiores fornecedores de armas, “mas também mais Estados-Membros da UE, o Reino Unido e outros, devem agir agora para pôr termo imediato às atrocidades cometidas por Israel contra os palestinianos em Gaza”.

Israel diz que é tudo mentira, Amnistia lembra que “a intenção genocida pode coexistir com objetivos militares”

Em resposta ao relatório da Amnistia Internacional, um porta-voz da diplomacia israelita apelida a ONG de organização “deplorável e fanática” e acusa-a de ter produzido “mais uma vez um relatório fabricado que é totalmente falso e baseado em mentiras”. Para o governo sionista, o “massacre sionista” foi levado a cabo pelo Hamas a 7 de outubro do ano passado e desde então o”s cidadãos israelitas têm sido sujeitos a ataques diários em sete frentes diferentes”, pelo que “Israel defende-se contra estes ataques agindo em total conformidade com as normas internacionais lei”.

No relatório de quase 300 páginas, a Amnistia Internacional refere que “Israel tem argumentado repetidamente que as suas ações em Gaza são legais e podem ser justificadas pelo seu objetivo militar de erradicar o Hamas. Mas a intenção genocida pode coexistir com objetivos militares e não tem de ser a única intenção de Israel”. Além disso, tendo em conta o contexto do apartheid e ocupação militar ilegal em que decorrem estes atos, a secretária-geral da ONG conclui que “a intenção de Israel é a destruição física dos palestinianos em Gaza, quer em paralelo, quer como meio para atingir o seu objetivo militar de destruir o Hamas”.

Este trabalho de investigação incluiu 212 entrevistas a testemunhas e vítimas palestinianas, o exame no terreno e de provas visuais e digitais, incluindo imagens por satélite, bem como a análise de declarações de altos responsáveis governamentais e militares israelitas. “Em várias ocasiões, a organização partilhou as suas conclusões com as autoridades israelitas, mas não recebeu qualquer resposta concreta à data da publicação”, sublinha a Amnistia Internacional.