MÚSICA
Por Alessandra Costa
Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo apresentam:
“Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista” Bailarina e coreógrafa que revolucionou a dança contemporânea no Brasil, quebrando barreiras e inspirando gerações
Uma história de luta e perseverança pelo sonho de brilhar nos palcos com a sua arte, fez com que Mercedes Baptista, tornasse sua trajetória um marco histórico para a dança brasileira, tendo se tornado a primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos mais importantes palcos do país. Sua história e carreira longeva estará nos palcos em “Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista”, onde a atriz e bailarina Ivanna Cruz, conduz o enredo, relembrando origens e as batalhas da mulher negra, tal como ela, para conseguir que sua arte fosse reconhecida. A história de duas gerações que não desistiram!
A estreia será dia 20 de novembro, celebrando o Dia da Consciência Negra, às 19h, no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, Tijuca – para apenas 05 apresentações, seguindo para o Instituto Pretos Novos, na região da Pequena África, de 27 a 29 de novembro, sempre às 15h. A cidade de Itaocara, município do noroeste do estado, também receberá duas apresentações do espetáculo, nos dias 02 e 03 de dezembro. A peça tem direção artística de Luiz Antônio Rocha e texto de Ivanna Cruz, Luiz Antônio Rocha e Pedro Sá de Moraes, coreografias de Diego Rosa e Cenário e Figurinos de Eduardo Albini. Também estarão em cena os músicos/atores Chico Vibe e Lelê Benson e a montagem conta com iluminação de Ricardo Fujii. Mais de 90% da ficha técnica desse projeto é composta por artistas e técnicos negros, atuantes na cena cultural brasileira.
O espetáculo é um musical que resgata ritmos como o Jongo, a Mana Chica e ancestralidade dos ritmos trazidos da África pelos antepassados africanos, escravizados e retirados à força de suas terras e seus laços familiares e culturais e impostos à diáspora dolorosa pelos portugueses que aqui dominaram e colonizaram as terras brasileiras a partir do ano de 1500.
O repertório apresenta o resgate dessa cultura, dos sons que remetem à memória e a preservação da cultura afrodescendente, o que tanto Mercedes fez e conseguiu e que anos depois sua conterrânea, Ivanna Cruz, também seguiu pelo mesmo caminho. As duas, nascidas em Campo dos Goytacazes, nunca desistiram mesmo com a imposição de todas as formas de racismo existentes na sociedade.
O diretor artístico, Luiz Antonio Rocha, aponta que Mercedes Baptista foi e é a pedra fundamental da identidade afro-brasileira na dança influenciando várias gerações de artistas e movimentos culturais. Valorizou a identidade negra dando visibilidade, respeito às mulheres e combate ao racismo. “Sua história nos inspira, além de homenageá-la, vamos resgatar ritmos que estão desaparecendo como o Jongo e a Mana-Chica (RJ). O projeto tem como referência a cultura e a arte popular influenciadas por matrizes culturais de povos afro diaspóricos”, afirma o diretor.
Quem foi Mercedes Baptista
Nascida na cidade de Campos dos Goytacazes, Região Norte do estado do Rio de Janeiro, Mercedes Baptista superou obstáculos e quebrou barreiras raciais, abrindo caminho para futuras gerações de bailarinos negros, como eu. Sua ascensão é um testemunho do poder da arte em transcender fronteiras sociais e raciais. Foi a responsável pela criação do balé afro-brasileiro, inspirado nos terreiros de candomblé, elaborando uma codificação e vocabulário próprio para essas danças.
O seu Ballet Folclórico Mercedes Baptista foi responsável pela consolidação da dança moderna do Brasil. Ao longo de sua trajetória, Mercedes recebeu diversos prêmios e reconhecimentos, solidificando sua posição como uma das principais bailarinas do país. Sua estreia no Theatro Municipal é um momento culminante de sua carreira e um exemplo inspirador de superação.
A produção artística negra, sistematicamente apagadas e desvalorizadas, quando entendida sob o viés decolonial, evidencia o potencial intelectual e econômico da cultura afro-brasileira. São produções essenciais que possibilitam a manutenção de laços comunitários entre a população negra, assim como ofertaram as bases que estruturaram a identidade nacional. A inserção da dança afro-brasileira, batuque, canto preto e filosofia africana como eixo central da pesquisa, contribui ao fazer a ponte entre o que existiu com a atualidade.
Para Luiz Antonio Rocha, “é impressionante como o apagamento de tantos artistas negros, como Mercedes e muitos contemporâneos seus, sofrem até hoje. Mercedes merece ter sua história contada e recontada de todas as maneiras possíveis, pois ela foi pioneira, que enfrentou toda e qualquer adversidade e para ser a figura que se tornou”.
O espetáculo parte do encontro entre Mercedes e a atriz e bailarina Ivanna Cruz, com meio século de intervalo entre elas, duas artistas pretas da dança que nasceram na mesma Campos dos Goytacazes, uma das últimas cidades do Brasil a acatar a abolição da escravidão.
“Diante dos obstáculos, cada vez mais duros enfrentados em sua caminhada de artista negra, Ivanna encontra em Mercedes uma fonte de resiliência e encantamento, uma chave para destravar as portas do seu futuro. No espetáculo, há uma teia formada por relato pessoal, investigação histórica, dança e canções que ecoam a tradição e as raízes compartilhadas por ambas”, acrescenta Luiz.
Luiz Antonio Rocha ainda reforça que, para ele, é difícil fazer um recorte da vida de uma mulher como Mercedes Baptista e trazer à cena o protagonismo de uma mulher preta de sucesso dos anos 60, quebra não apenas um paradigma do racismo estrutural de um país, mas também traz uma história decolonial de ancestralidade.
“Essa história dialoga e faz pensar sobre o massacre cometido pelos colonizadores da América latina e do atraso histórico da realidade da sociedade da América Latina. Estamos reescrevendo a história do Brasil. A trajetória de Mercedes Baptista é absolutamente necessária para ser contada, não pode ser apagada como tentaram apagar a história do povo preto dos livros de história”, reforça o diretor artístico.
“Mercedes Baptista é um ícone da resistência e do talento. Sua presença no Theatro Municipal é um passo importante para a representatividade e inclusão racial na dança brasileira. É uma honra fazer parte de um projeto como este, pensado nos mínimos detalhes e tão sonhado em executá-lo para além de poder homenagear, apresentar a grandeza que foi e é a Mercedes Baptista”, declara Ivanna Cruz.
“Para além da primeira bailarina do Theatro Municipal, Mercedes também foi uma mulher aguerrida que manteve sempre a cabeça erguida em um propósito: mostrar que ela merecia chegar onde chegou e ainda ousar em quebrar paradigmas e mostrar a cultura da nossa gente, a cultura afro, sobretudo por interferir de maneira positiva na percepção de novos significados para o contexto da dança, com a diversidade, inclusão e memória, tão presentes na sua trajetória”, completa a atriz.
Ivanna ainda conta que, durante o processo de preparação, ficou surpresa com a força de Mercedes em empreender, em não esmorecer, ao brigar pelo espaço dela. A bailarina cuidou da criação, da venda do seu produto, sua arte, ela sabia o que acontecia em cada detalhe da cadeia de criação dos projetos dela.
“Ela mesma arrecadava e pagava cada integrante, cada cachê, ela valorizava o profissional da arte, visionária e corajosa. Para cada porta que ela encontrava fechada, criava mais força para desenvolver e executar projetos culturais numa época ainda onde a mulher não tinha voz e nem vez”, salienta Ivanna.
“Eu espero com esse projeto, passar por um processo de cura, de ressignificação, que as pessoas se reconheçam merecedoras, de uma maior união, de mãos dadas a quem se propõe a ser aliado e gritar junto pelo espaço que não é para segregar, separar é para juntar mais ainda. Eu me sinto muito forte quando encontro outras mãos que me ajudam e dizem que eu devo seguir, persistir, porque eu mesma já pensei em desistir muitas vezes. Mas eu lembro de Mercedes e tantos outros que deram o sangue para que eu pudesse estar aqui. Conhecer a nossa História faz parte do aparato de força e nivelação para se chegar aos resultados. Muita coisa mudou para os artistas negros, para o povo negro em geral mas ainda temos sim um longo caminho pela frente”, diz Ivanna.
“A expressão da arte do povo preto tem suas características, tem suas nuances, tem seu jeito de ser e fazer, finalmente conseguindo se desvencilhar de um modo de produção niveladamente eurocêntrica. Isso vem mudando, a demanda para que nós possamos contar nossas histórias, cantar nossas músicas e falar de tudo o que nos norteia e nos constrói como uma cultura característica, se faz necessária. É a nossa hora de contarmos à nossa maneira, com todo o colorido e a vibração dos nossos sons, sobre o que nos pertence e quebrar essa corrente histórica de aniquilamento, de apagamento, derrubando mais uma forma de escravidão, a do silenciamento forçado sobre quem somos”, celebra, Ivanna.
Para Pedro Sá Moraes o projeto é como uma reparação, uma pequena colaboração para jogar luz sobre a fortaleza de uma mulher que tanto lutou com as armas mais nobres para quebrar paradigmas, a arte. Gritou com os batuques e a sua dança para mostrar que merecia ser vista e ouvida.
“Falar sobre Mercedes Baptista é não deixar que sua trajetória brilhante seja esquecida e, sobretudo, com relação às novas gerações que possuem o direito e a obrigação de conhecer quem fez pela sua cultura. No caso de personalidades afrodescendentes, a responsabilidade é não permitir mais um apagamento histórico de pessoas negras que se mostraram capazes e enfrentaram tantas divergências para estarem nos lugares de direito”, comenta.
A estreia da peça sobre Mercedes Baptista no Teatro é aguardada com grande expectativa. O enredo, construído por meio de extensa pesquisa sobre a trajetória artística e vida pessoal da artista, promete inspirar um novo público e reforçar o compromisso do teatro com a diversidade, inclusão, respeito e consciência da ocupação dos espaços pela comunidade afrodescendente.
“Falar de Mercedes é falar do novo com o olhar no futuro. Uma mulher preta que quebrou o tabu do tutu branco e da sapatilha cor de rosa e ganhou o mundo. Sua história se repete e inspira artistas pretas que tiveram suas histórias interligadas não apenas pela dança, mas principalmente pelo racismo, que interviu no caminho de todas elas”, finaliza Luiz Antonio Rocha.
Ivanna Cruz, atriz e bailarina multifacetada que respira arte
A atriz, dançarina, produtora, Educadora Popular e professora de dança Afro, nasceu em Campos dos Goytacazes, Cursou Teatro Experimental do SESC e Curso Técnico Profissionalizante da Cal. Atuou em espetáculos como: “Vestido de Noiva”, “Antígona”, “A Serpente”, “Marido Oscar”, “O outro lado da história”, “O boi e seus alegres brincantes”, “Histórias Encantadas”, “A Arca de Noé”, ”Ilê Sain à Oxalá”, 2000 a 2015 “A menina e o vento” “As Feras”, de Vinicius de Moraes de 2017 a 2019. Dirigiu os musicais: “Metal contra as nuvens” e “Batuque das Tias”, e o infantil “A Fada cheia de ideias”. Participou dos Curtas Metragens “Broadway” dir. de Maycon Gual ( 2017) e “A Casa de Pedra”, dir. Ricardo Conti (2018). Participou da novela “Quanto Mais Vida melhor”, na Rede Globo. Ivanna também está a frente de trabalhos como ativista cultural na cidade onde desenvolve um trabalho em terreiros e escolas divulgando a tradição popular da cidade com danças como “Mana Chica”, uma dança similar às quadrilhas de roda com nuances do Fado do tempo da escravidão.
Luiz Antonio Rocha, um operário das artes por vocação
Produtor, autor e diretor teatral, é um dos mais conceituados diretores de casting do mercado, segundo a revista Veja. Foi membro do conselho da Michael Chekhov Brasil e em 2012, fez parte do júri oficial do International Emmy Awards realizado em Nova York. Foi indicado ao prêmio Shell de 2019 na categoria inovação por Paulo Freire, “O Andarilho da Utopia”. Sendo considerado por Flávio Marinho no seu livro “Quem tem medo de besteirol” como um dos reinventores do gênero. Seus espetáculos, além de ficarem muito tempo em cartaz, possuem uma marca autoral com grande sensibilidade que valoriza a força do ator e da palavra. Seus últimos espetáculos são: “ Anima”;“O Profeta”, uma releitura filosófica da obra de Khalil Gibran; “ Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio, “Zilda Arns, a dona dos Lírios ; “Brimas” , “ Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”, “ A história do Homem que ouve Mozart e da Moça do lado que escuta o Homem” , “Uma Loira na Lua”; “Eu te darei o Céu” entre outros.
Pedro Sá Moraes e sua versatilidade e sensibilidade artística
Ator e músico, começou sua carreira musical como intérprete de samba, compartilhou palco e gravações com mestres do gênero, como Nelson Sargento, Wilson Moreira, Elton Medeiros e outros. Em 2007, lançou-se como compositor de MPB, e a carreira internacional se abriu em frequentes turnês pela Europa, América Latina, Ásia e América do Norte. Foi escolhido pela rede nacional de rádios públicas (NPR) dos Estados Unidos os dez artistas revelação de 2012, aclamado pelo jornal The New York Times. Em 2016, vencedor do Prêmio Profissionais da Música como Melhor Cantor, naquele ano. Em 2018, estreou o solo “A Paixão de Brutus”, uma adaptação autoral sua sobre o Julius Caesar de Shakespeare, com direção de Norberto Presta, com o qual visitou dezenas de cidades brasileiras. A Folha de São Paulo, numa crítica de destaque, afirma que “Pedro Sá Moraes se transmuta, como um trovador, em versos de um lirismo tocante e pungente”. Em 2018, junto a Jéssica Barbosa, realizou Em Busca de Judith, que estreou como peça-filme em 2021, contemplado pelo Edital da Lei Aldir Blanc, e estreou nos palcos em 2022 em temporada no Itaú Cultural (SP). Desde 2020, dedica-se a aprofundar sua pesquisa sobre a relação entre a música popular brasileira e o teatro, através de um doutorado em Artes Cênicas, pela Universidade de Campinas (UNICAMP), em São Paulo.
FICHA TÉCNICA
Espetáculo ‘Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista’
Texto: Ivanna Cruz, Luiz Antônio Rocha e Pedro Sá Moraes
Canções: Pedro Sá de Moraes
Encenação: Luiz Antônio Rocha
Atriz: Ivanna Cruz
Instrumentistas/atores: Chico Vibe e Lelê Benson
Cenário e Figurinos: Eduardo Albini
Projeto de Luz: Ricardo Fujii
Coreografia e preparação corporal: Diego Rosa
Direção musical: Pedro Sá Moraes
Preparação Vocal: Jorge Maya
Assistente de direção: Tai Xavier
Consultoria Jongo/ Mana-chica: Neusinha da Hora e Neide da Hora
Agradecimentos especiais: Viviane Ramiro e Dona Ruth
Fotografia: Jow Coutinho e André Brito
Aderecistas: Nilton Souza
Confecção figurino raízes: Marcos Vieira
Tingimento figurino raízes: Aline Nogueira
Costureira: Maria Madalena de Oliveira
Operador de luz: Thiago Monte
Assessoria de imprensa: Alessandra Costa
Mídias sociais e edição vídeos: Jow Coutinho
Design Gráfico: Cristhianne Vassão
Elaboração de Leis de incentivos: Lilian Maya
Gestão de novos projetos: Jarbas Galhardo
Produção Executiva: Ivanna Cruz e Luiz Antônio Rocha
Direção de Produção e Prestação de contas: Karina Nadaletto
Produção: Arteiro Produções & Espaço Cênico Produções Artísticas & Teatro em Conserva
SERVIÇOS
Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista
Classificação: Livre
Duração: 80 minutos
Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro de 20 a 23 de novembro – às 19h e 24 de novembro – às 18h
Rua José Higino, 115 – Tijuca
Lotação: 150 lugares
ENTRADA GRATUITA: Retirada de ingressos no site do Rio Cultura
Instituto Pretos Novos de 27 a 29 de novembro – às 15h.
Rua Pedro Ernesto – 32 – 43 – Gamboa
Lotação: 60 lugares
ENTRADA GRATUITA: Retirada de ingressos no site do Sympla
Rede Cine + Itaocara
Rua Coronel Roque Teixeira Alves, 83, Itaocara – dias 02 e 03 de dezembro- às 19h
Lotação: 65 lugares
ENTRADA GRATUITA: Retirada de ingressos no site do Sympla