SAÚDE
Por Joyce Enzler com colaboração de Simone Kabarite
Entre os dias 8 e 10 de outubro, aconteceu, no auditório térreo e pátio da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), a 2ª Conferência de Promoção da Saúde da Fiocruz, organizada pela Coordenação de Promoção da Saúde da Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), com o objetivo de refletir sobre a trajetória do campo da Promoção da Saúde, que teve como marco a publicação da Carta de Ottawa, em 1986, e, no Brasil, a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Além de reafirmar o compromisso da Fiocruz com a Promoção da Saúde e com o Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como referência o conceito ampliado de saúde.
A mesa de abertura contou com a presença do vice-presidente da VPAAPS/Fiocruz, Hermano Castro; do diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes; da representante da Superintendência de Promoção da Saúde da Subsecretaria de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do município do Rio de Janeiro (SPS/SUBPAV/SMS-RJ), Luciana Ribeiro; o representante do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (DEPPROS/ SAPS/ MS), Adauto Martins; da representante da Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil (OPAS-Br), Regiane Rezende; do presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc), Paulo Garrido; da -vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Machado.
A mesa teve a mediação da Coordenadora da Promoção da Saúde da VPAAPS/Fiocruz e da 2ª Conferência de Promoção da Saúde, Adriana Castro. “A nossa equipe organizou esse evento possibilitando a participação do maior número de pessoas e a maior transparência na entrega da produção técnica dessa instituição, abrindo o debate para a sociedade e tornando esse acervo público, por isso o encontro será transmitido pelo canal da Fiocruz”, informou Adriana ao dar início ao evento. Para Adriana, é fundamental tornar os conteúdos públicos, como é o compromisso da Fiocruz, em concordância com o Movimento Internacional de Acesso Aberto ao Conhecimento.
Na ocasião, Hermano Castro ressaltou a importância de manter a chama de luta sempre acesa, independentemente dos resultados das eleições no país. “É necessário um combate à fome, à queimada, contra o desmatamento e tudo que vem acontecendo de ruim no Brasil, porque isso tem um impacto enorme nas populações mais pobres. Precisamos combater o Racismo Ambiental existente no Brasil e a 2ª Conferência faz parte dessa luta”, argumentou.
Já Marco Menezes, destacou o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, sobre a Aliança Global contra a fome e a pobreza. “O presidente Lula colocou os desafios atuais que precisamos enfrentar. Falar de Promoção da Saúde é falar também do enfrentamento da fome no mundo, na América Latina e no nosso país. Outros temas relevantes, que precisam ser discutidos em todas as áreas, como saúde pública, saúde coletiva, são a emergência climática e a crise hídrica”, observou.
O representante do Ministério da Saúde, Adauto Martins, disse que um dos focos do governo é a redução das iniquidades socioambientais, de gênero e de raça. Além disso, tem como desafio trabalhar a intersetorialidade nesses campos e possibilitar a articulação da política de Promoção da Saúde com as outras políticas. “Não tem como fazer Promoção da Saúde somente com a saúde. A gente precisa se articular e envolver outros setores, para que a gente possa pensar o território e o cuidado da pessoa, observando a sua inserção no espaço e no território”, enfatizou.
A representante da SMS-RJ, Luciana Ribeiro, reforçou a importância de ter um espaço produtivo como o da conferência para a busca de direitos na garantia de uma vida saudável em todo o seu contexto. Destacou também a transversalidade da Promoção da Saúde e sua atuação com outras áreas. “Mas sempre pensando em desenvolver ações com olhar ampliado, com a escuta ativa daquele cidadão no nosso munícipio e considerando o indivíduo em todos os aspectos socioambientais culturais”, afirmou.
Para Regiane Rezende, o trabalho que a Fiocruz desempenhou e desenvolveu durantes esses 40 anos à frente da Promoção da Saúde, provocando e instigando a conhecer e fazer mais pela saúde da população, foi fundamental. “Com a chegada de Jarbas Barbosa à direção da organização, criou-se o Departamento de Determinantes Sociais e Ambientais para mostrar o compromisso do enfrentamento das iniquidades na região mais desigual do mundo, as Américas”, assegurou.
Segundo Paulo Garrido, essa conferência movimenta a esperança por representar a resistência viva ao avanço da extrema direita, que busca atingir as ações de Promoção da Saúde tão cruciais para a saúde pública. “A 2ª conferência é uma excelente iniciativa e está em convergência com a pauta que o nosso sindicato defende, propõe e formula. Esse é o nosso compromisso com a saúde e a vida”, declarou.
De acordo com Cristiani Machado, é necessário articular mais o debate nas ações educacionais da Fiocruz e na comunicação pública sobre Ciência e Saúde. Cristiani também salientou a contribuição da prática Ciência Cidadã para o campo da Promoção da Saúde. “Não no sentido só de levar o conhecimento científico, mas no reconhecimento de que todas as pessoas são construtoras de conhecimento”, evidenciou.
Práticas Internacionais de Promoção da Saúde
Após a cerimônia de abertura realizou-se a conferência da coordenadora da Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis, Mirieme Ferreira. Com mediação da chefe de gabinete da presidência, Zélia Profeta, discutiu-se o conceito de município saudável, definido como inclusivo e sensível para todos os cidadãos e cidadãs. Zélia parabenizou Adriana Castro e toda a sua equipe pela forma como foi organizada a 2ª Conferência, privilegiando a integração de vários temas e instituições. “Na Fiocruz, temos uma capacidade de elaboração muito importante, mas precisamos avançar na implementação integrada tanto internamente quanto no discurso para fora, por isso achei muito interessante a composição de quem organizou essa iniciativa”, elogiou.
A pesquisadora Mirieme abordou o desenvolvimento do movimento municípios saudáveis, que nasceu logo após a Conferência de Ottawa. Na Europa, é um movimento forte, composto de mais de 100 cidades e membros de 30 redes nacionais. Em Portugal, nove municípios juntaram-se para discutir as abordagens de Promoção da Saúde, com o intuito de encontrar soluções para problemas comuns, e formalizaram a Rede em 1997. “O conceito de cidade saudável é trabalhado com uma multiplicidade de determinantes da saúde e ao trabalhá-los, nós também estamos a promover a saúde, aumentando a esperança e a qualidade de vida das pessoas que residem nestes municípios”, explicou.
Tarde foi dedicada ao Fio PromoS
A programação da tarde foi inteiramente dedicada ao Programa de Pesquisa Translacional em Promoção da Saúde – Fio-PromoS. A fim de trazer dados atualizados sobre o Programa, a organização convidou para compor a primeira mesa do tema, a coordenadora geral, Luciana Garzoni (IOC-Fiocruz), e os coordenadores adjuntos, Antônio Henrique Almeida de Moraes Neto (IOC-Fiocruz), e Wagner Martins (Gerência Regional de Brasília- Gereb/Fiocruz). A mediação ficou a cargo da assessora de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz (VPAAPS), Sandra Fraga.
Na abertura, Antônio ressaltou a importância do evento e da Câmara Técnica de Promoção da Saúde para o fomento de iniciativas no IOC, como também para a visibilidade de ações já existentes. “Há muitos pesquisadores que não se enxergam fazendo promoção da saúde e fazem muito bem. Então, é importante valorizar essas iniciativas”, afirmou. Na sequência, Wagner Martins fez uma apresentação com referências mundiais sobre o tema, como os objetivos do desenvolvimento sustentável – ODS – da Agenda 2030 e o conceito de One Health- Saúde Única.” É importante construir uma rede de territórios saudáveis e sustentáveis, onde a territorialidade poderá nos fornecer informações e possibilitar a troca de saberes. A ciência tem que dialogar com a comunidade, com o saber tradicional”, colocou.
Fechando a mesa, Luciana Garzoni apresentou um histórico do Programa e algumas iniciativas contempladas. Na fala, destacou que o edital envolveu todas as unidades da Fiocruz, participantes da Câmara Técnica de promoção da Saúde, responsável pela construção do programa. “Nós já tínhamos o Programa Institucional Territórios Sustentáveis e Saudáveis (PITSS), que acontecia em paralelo, então sempre tivemos uma discussão muito rica, porque a equipe do PITSS também participava destes debates”, relatou.
O final do primeiro dia do evento contou com mais dois painéis de pesquisas do programa Fio Promos. Para conferir na íntegra, acesse o canal da Fiocruz no YouTube