TEATRO

Por Alessandra Costa

 

Com Luciano Quirino na pele do renomado compositor, texto de Miriam Halfim sob a direção de Ary Coslov, o espetáculo apresenta para as novas gerações a grandeza do maior nome da ópera nacional, reconhecido no exterior e esquecido por muitos no próprio país

A história de um dos maiores compositores do Brasil, Carlos Gomes, será contada nos palcos do teatro e estreia em breve na capital fluminense. Escrita por Miriam Halfim, “Maestro Selvagem” nasce com o intuito de mostrar para o público a beleza das composições e também a controversa personalidade de um dos artistas nacionais mais renomados e ainda hoje pouco conhecido, que possui uma trajetória tumultuada e repleta de fatos surpreendentes.

A peça tem direção de Ary Coslov, e Luciano Quirino no papel do talentoso maestro compositor, transpondo para a linguagem teatral, o que é necessário saber sobre este importante compositor de ópera brasileira. A temporada será de 04 a 27 de outubro, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), Av. Rio Branco, 241-  Centro, de quinta e sexta, às 19h, sábado e domingo, às 18h.

“Fiquei impressionada com a sua história de vida, com seu talento inato, com sua fantasia ao se imaginar descendente de indígenas – talvez uma maneira de se proteger do preconceito de que eram vítimas os negros mas, sobretudo, com suas incríveis criações musicais, que deveriam ser amplamente conhecidas pelos brasileiros. É mais do que hora de homenagear o compositor de óperas que elevou o nome do Brasil ainda no século XIX, fazendo-o brilhar no célebre teatro La Scala de Milão, em quatro estreias de suas composições. Seu brilho, seu sofrimento, seu comportamento selvagem,  suas vitórias, tragédias e fracassos, são todos relevantes; independente do viés abordado, Carlos Gomes tem uma história que merece ser contada. É indispensável que os brasileiros conheçam a obra e a vida desse grande homem, maestro e compositor de óperas que granjeou fama mundial, mas ainda é pouco lembrado em seu próprio país”, declara a autora, Miriam Halfim.

Carlos Gomes é não só um dos grandes nomes da história da música brasileira, mas também da música mundial. Respeitado e reconhecido como um grande compositor em muitos países, infelizmente sua história é pouco difundida no Brasil. “Maestro Selvagem” procura mostrar para o nosso público a beleza de suas composições, suas conquistas, suas derrotas – que também aconteceram – mas sempre buscando enaltecer o quanto de perseverança de um artista negro, com estreita relação com o movimento abolicionista. O Maestro venceu pela arte e lutou por sua aceitação; transitava pela nobreza da época do Brasil do Segundo Império, e obteve êxito na Europa, exportando o valor da nossa rica sonoridade.

“Embora ele (Carlos Gomes) seja um grande músico, compositor e maestro de indiscutível talento, a peça não é exatamente um “musical”, mas procura, sim, mostrar o altíssimo nível de suas composições num contexto de muitas dificuldades, algumas tragédias, a luta contra o preconceito, suas paixões, rejeições, etc. Enfim, um gênio da música com uma vida bastante atribulada. Acredito que tomar conhecimento do enorme talento de Carlos Gomes é mais do que suficiente para mobilizar qualquer público. Nem todos sabem que ele era preto, ainda nos tempos da escravatura, e com bravura, determinação e, sobretudo, talento, venceu (quase) todos os obstáculos e se tornou um dos grandes músicos, não só da música brasileira mas também da história mundial”, explica Ary Coslov.

Para Luciano Quirino, receber o convite e poder trazer a história deste grande artista foi um dos maiores presentes dos últimos meses. “Somos dois corpos negros em tempos diferentes, mas ainda assim, enfrentando os mesmos problemas, lutas e dilemas quase 200 anos depois. Fascinante a oportunidade que estou tendo de criar uma personagem tão controversa, intensa, intempestiva, antagônica, bipolar, suas estratégias de sobrevivências, amores, paixões e uma vasta obra musical. O pouco conhecimento ou nenhum de muitos sobre a obra e vida do Maestro Compositor Carlos Gomes, me leva a crer em um resgate histórico artístico e cultural de um dos “nossos” artistas pretos mais geniais do século XIX. Meu interesse, além de contar a história de suas obras, composições e conquistas, está na humanização do Maestro Compositor Carlos Gomes em toda sua amplitude”, completa.

A vida e a carreira do maestro Carlos Gomes 

Carlos Gomes (1836-1896), foi um grande compositor brasileiro, que nasceu em Campinas, São Paulo, no dia 11 de julho de 1836. Filho de Manoel José Gomes, o “Maneco Músico”, e de Fabiana Maria Cardoso, desde cedo “Tonico” (como era chamado) demonstrou interesse pela música. Teve seu contato com a música por meio dos estudos com o pai, e com 15 anos já compunha valsas, polcas e quadrilhas. Com 18 anos compôs a “Missa de São Sebastião”, dedicada ao pai. Aos 21 compôs a modinha “Suspiro d’Alma”, com versos do poeta romântico português Almeida Garrett.

É autor da famosa ópera ‘O Guarani’, inspirada no romance do escritor cearense José de Alencar. Foi considerado o maior compositor lírico das Américas e o segundo nome mais encenado no Teatro Alla Scala de Milão, um dos mais tradicionais da Europa, atrás apenas de Giuseppe Verdi. Escreveu as composições: “Fosca”, melodrama em quatro atos que estreou no Scala de Milão, “Salvador Rosa” (1874) e “Maria Tudor” (1879), uma homenagem à Maria I da Inglaterra. O Imperador do Brasil, Dom Pedro II, o agraciou com a “Imperial Ordem da Rosa”. Em seus últimos anos, já muito doente, e em dificuldades financeiras, Carlos Gomes compôs seu último trabalho, “Colombo”, oratório em quatro atos para coro e orquestra a que chamou “poema vocal sinfônico” e dedicou ao quarto centenário do Descobrimento da América. A obra foi encenada em 1892 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro. Ainda em 1895, o compositor chegou ao Pará, já doente, para ocupar a diretoria do Conservatório de Música de Belém, Pará, cidade onde faleceu no ano seguinte, no dia 16 de setembro de 1896.

Sobre a autora da peça:

Miriam Halfim, advogada, dramaturga, ocupa a cadeira de Membro Titular da Academia Carioca de Letras; Sócia Titular, membro do Pen Club do Brasil; Bolsista da Fulbright, pesquisa William Faulkner, Univ. Mississipi, USA; Graduação e Mestrado em Literatura Inglesa – UFRJ; Direito pela UERJ,  CAP – membro da Comissão de Aprovação de Projetos da Secretaria de Cultura do Estado – maio de 2010/maio 2012; avaliadora externa do Centro Cultural da Justiça Federal no edital de artes cênicas 20121; Diretora do Museu Judaico do Rio de Janeiro. Ex-professora de Literatura Inglesa e Americana, UERJ e Faculdade da Cidade. É autora de mais de 30 peças teatrais, 15 já encenadas, e oito livros publicados, premiada em diversas categorias literárias.

Ary Coslov e sua expertise na direção de atores 

Com uma carreira consolidada e mais de 60 anos de estrada, o ator e diretor Ary Coslov iniciou sua trajetória artística em 1963, no programa “Grande Teatro”, na TV-Rio. De lá para cá, dirigiu mais de 30 novelas como Andando Nas Nuvens, Uga-Uga, Esplendor, Duas Caras, Fina Estampa e Guerra dos Sexos.

Além de trabalhos no Brasil, Ary também dirigiu a novela peruana El Hombre que debe Morir e a norte-americana El Magnate. Já no cinema, Ary interpretou três personagens nas obras O Mundo Alegre de Helô (1967), Anjos e Demônios (1970) e Lost Zweig (2005).

Com mais de 70 peças teatrais no currículo, 40 delas como diretor, Ary Coslov também contabiliza diversas com premiações, como os prêmios Shell e APTR (Associação dos Produtores Teatrais do Rio de Janeiro), como Melhor diretor de teatro, em 2009, por “Traição” de Harold Pinter; e o Prêmio Rosário em Cena, de Melhor Ator, por “Lá Fora, Temporal”. Em 2024 dirigiu “Van Gogh entre Corvos”, assinando a dramaturgia ao lado de Marcelo Aquino.

Luciano Quirino e sua versatilidade no teatro, na TV e no cinema 

Versátil e talentoso são dois adjetivos que traduzem a capacidade de Luciano Quirino de interpretar personagens diversos. Esteve de volta à programação natalina da Globo no especial “Juntos a magia acontece” e já pôde ser visto nas telinhas e telões em personagens que vão de policiais a papéis shakespearianos, como também em séries para a garotada – caso de “Detetives do prédio azul”, sucesso do canal infantil Gloob já com 13 temporadas. Integrou o elenco de “Meu preço” (2018) E a novela “Laços de Família”; dramas de sucesso, a exemplo de “Gonzaga de pai pra filho” e “Domésticas”; e em documentário, encarnando outro multiartista, Arthur Bispo do Rosário, em “Eu preciso dessas palavras escritas”, filme cult catalogado no Museu Bispo do Rosário, que correu o mundo.

No teatro já interpretou textos de grandes dramaturgos como Ibsen, Shakespeare e David Mamet, autor de “Race”, em que atuou sob direção de Gustavo Paso. Esteve em várias séries, como “Sob pressão”, da Globo, e “Galera FC”, exibida na HBO Max. Quirino foi também protagonista de “9mm- São Paulo”, exibida na Fox e que ganhou o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como Melhor Série Policial. Em 2017, o ator foi homenageado no Santos Film Fest de 2017, com direito a estrela na calçada da fama do tradicional Cine Roxy. Naquela ocasião, Quirino apresentou o curta-metragem “Os Bons Parceiros”, que o levou ao Festival de Cannes no ano seguinte.

SINOPSE:

O espetáculo conta a história de Carlos Gomes, um dos maiores maestros compositores do país, pouco conhecido do grande público. Traz à cena a beleza de suas composições, sua controversa personalidade e a trajetória tumultuada e surpreendente.

Ficha Técnica:

Texto:  Miriam Halfim

Direção: Ary Coslov

Atuação: Luciano Quirino

Participações especiais: Larissa Nunes, Gustavo Maya e Ricardo Lopes

Cenário : Marcos Flaksman

Iluminação: Aurélio de Simoni

Figurino: Samuel Abrantes

Direção de movimento: Marcelo Aquino

Assistente de direção: Johnny de Castro

Assessoria de imprensa: Alessandra Costa

Projeções mapeadas: Renato Krueger

Assistente de cenário: Bidi Bujnowski

Assistente de Figurino: Vinicius Eco

Cenotécnico: Humberto Jr e equipe

Fotógrafo: Guga Melgar

Programação visual: Isio Ghelman

Mídias sociais: Rafael Gandra

Produção executiva: Bárbara Montes Claros

Direção de Produção: Celso Lemos

Realização: MM – Halfim Produções Artísticas Ltda

Serviço:

Onde: Centro Cultural da Justiça  Federal.

Av. Rio Branco 241, Centro

Datas: de 04 a 27 de outubro

Sessões extras: dias 11, 17, 18, 24 e 25/10 – às 16h

Dias: Quinta e sexta, às 19 h. Sábado e domingo, às  18h.

Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia)

Lotação: 141 lugares

Duração: 70 minutos

Classificação: 14 anos