OPINIÃO

Por Eduardo Alves

Estamos no século XXI. Já é possível saber, desde a metade do século passado, que a primeira inteligência que movimenta o cérebro sapiens é a inteligência emocional, se assim podemos chamar. Isso não quer dizer que há ordens de inteligência ou mesmo valores sobre as várias inteligências. Sabe-se, porém, que a inteligência emocional é motivada pelas emoções e pelos sentimentos e, por essa razão, pode-se afirmar também que é uma inteligência que inicia naturalmente. Ou seja, a criança que acaba de nascer, chora por que sente dor ou sente fome; a mesma criança sorri por alguma razão que motive a emoção da alegria; e mesmo que ainda consiga se movimentar e se alimentar sozinha, é dependente de alguma pessoa que cuide. 

O seu rosto já muda as formas motivado pelos sentidos que organizam a primeira inteligência que é emocional. Nesse primeiro momento, mas que acompanhará a pessoa sapiens em toda a existência do corpo, as múltiplas inteligências cognitivas só aparecerão para saber o porquê, o como e o para quê, mas isso só iniciará após os 4 ou 6 anos de idade do corpo. Por enquanto só existe a primeira inteligência que é natural e universal. O cérebro, que sente, pensa e organiza é o que faz todas as conexões. 

Mesmo a inteligência emocional precisará das conexões para o cognitivo no cérebro com o desenvolvimento do corpo em sociedade, afinal somos animal político, não vivemos isolados, o tão repetido indivíduo é uma ideologia que no capitalismo foi criada e é bem articulada para justificar o lucro. 

Não há ilhas na sociedade e muito menos no cérebro. O cérebro não para de movimentar mensagens e respostas, comunicações que fazem movimentar o cérebro e circulam em todo o corpo. Para assim não ocorrer o cérebro e o corpo precisam estar danificados. 

Esse princípio das inteligências depende de vários fatores para poder existir. Mas esses fatores não são, quaisquer um deles, no caso desta inteligência, motivados pela experiência ou pelo conhecimento construído pela pessoa. Se não houver qualquer problema no cérebro que iniba, dificulte ou danifique o próprio cérebro ou qualquer parte do corpo, todas as pessoas iniciam com inteligência emocional. Pode-se afirmar, portanto, que a inteligência emocional é a única inteligência universal e que existe no corpo sapiens desde o pré-natal até a morte e, com isso, o fim do corpo. 

Diferente de todas as outras inteligências não é o estudo, o empenho, a dedicação, a disposição, que fará ela existir, ainda que no decorrer da

existência do corpo todos os elementos que são produtos do cognitivo precisarão aparecer para o desenvolvimento da própria inteligência emocional e para a existência e desenvolvimento de quaisquer outras inteligências. 

Pode-se afirmar que todas as outras inteligências são alcançáveis e possíveis de serem criadas, construídas e nutridas. Em todas, sem exceção, será necessário a saúde do corpo. Assim como a alimentação, a proteção, o cuidado, o investimento coletivo entre conexões de cuidadores e do pequeno novo corpo nascente. 

O ser humano, sapiens sapiens, é um animal político, vive em conexão e socialmente e, diferente de outros animais como a girafa, o cavalo, o veado e o antílope, que nascem prontos para andar, pois ao nascer já precisam se proteger logo após o nascimento para não serem devorados, assim que o ser humano nasce precisa de cuidadores para conseguir continuar vivo. O que todos os corpos precisam para iniciar a vida social é de alimentação, cuidado, local de acolhimento e de pessoas que façam garantir o desenvolvimento do corpo, da saúde e da vida. Infelizmente não são todas as pessoas que possuem essas condições. Ou seja, em todos as outras inteligências, as condições sociais e o impacto com as desigualdades faz muita diferença. 

Não vivemos na ilha das fantasias, quer dizer, as pessoas não nascem com o mesmo cérebro e muito menos com as mesmas condições para sobreviver no ambiente que está articulado em todo o mundo existente. Muitas pessoas já nascem com danificações no cérebro que impactam desde o pré-natal, causado pelas condições dos geradores do corpo que são pai e mãe biológicos, mesmo que não sejam as pessoas que iniciam como cuidadores do novo ser. E tudo isso influencia nas condições cerebrais. Mas vencido esse primeiro passo, as condições sociais são as que atuam na sobrevivência e no desenvolvimento do corpo em sociedade. Muitas conexões ocorrem por impulso do que existe, pela necessidade ou pelas inteligências que vão se formando, que são movimentos singulares e coletivos em cada ser sapiens que exista.

Aqui, neste inicial e suave ensaio, o que importa é a compreensão de quem somos e o que precisamos pensar e fazer para viver com mais dignidade no mundo capitalista. Não é universal que todas as pessoas tenham condições e possibilidades para conhecer e desenvolver as várias inteligências, muito pelo contrário: nem as condições necessárias para que o corpo tenha energia para que os ajustes naturais e universais existam são assegurados para todas as pessoas. 

O cérebro não para de pensar, mas para que a vida melhore o pensamento não basta. E, como já podemos notar com essas linhas grafadas, não é o pensar que o corpo garante a sua existência e sim o sentir. 

O pensar vai ocorrendo no cérebro naturalmente, mas o pensamento dos neurônios com suas múltiplas sinapses por todo o corpo, não é o mesmo pensar que importa para o corpo viver melhor em sociedade, muito menos para se aproximar do que se chama de dignidade. Para isso é necessário ter condições básicas para viver e investir no estudo e na construção das conexões necessárias para construir o avanço rumo a maior inteligência que sempre será coletiva, nas diversas diferenças entre dominação e liberdade. 

Cada vez é mais necessário fazer o movimento que organize conexões que possam ampliar a inteligência em favor da vida. Para além do acolhimento, o que é fundamental para que se organize a empatia, se faz necessário também investimento em comunicação e conhecimentos que sejam organizados para avançar na formação. Um certo momento já foi repetido que “quem sabe mais luta melhor”, mas o saber, que organiza o conhecimento para avançar em dignidade humana, precisa cada vez mais da mistura de conhecimento cognitivo com empatia e simpatia para que os passos seja cada vez mais coletivos para se ampliar. 

A estética da guerra já se mostrou equivocada socialmente e nas organizações políticas que se afirmam como defensores da dignidade humana e do avanço de todas as dimensões da vida. Uma das principais dimensões é conseguir avançar com inteligência coletiva para que a maioria social conquista também a organização como maioria política e possa organizar, com empatia e superando todos os leques da violência, a ideologia dominante narcisista que, nos tempos atuais, fica ainda mais fortalecida com a divulgação do empreendedorismo, que faz até dos espaços do Estado conquistados em eleições se firme como novo empreendimento que gira a favor do lucro e do falso individualismo que predomina na organização das pessoas. 

Eis um dos grandes desafios do período: construir organizações que possam investir na comunicação e formação que façam avançar a empatia e conquistem a dignidade humana. Avançar em dignidades e superar as diversas desigualdades é um dos desafios centrais que coloca, principalmente, a formação e comunicação no núcleo central da organização coletiva para construir e avançar na inteligência em favor da vida. 

As conexões entre os seres humanos socialmente iguais, com toda a diversidade existente, é uma ação fundamental para avançar neste rumo. Eis nosso tempo e um dos desafios centrais, construir e avançar nas conexões que ampliam as pessoas para ações em favor de uma sociedade mais dignidade humana em todas as dimensões da vida.