ARTES VISUAIS
Por CWeA Comunicação
Criador de fantasias em serigrafias para o carnaval baiano, em que introduziu elementos da cultura e das religiões afro-brasileiras, o artista nascido em 1961 em Salvador é atuante há mais de quarenta anos, e há 26 anos fundou o Cortejo Afro.
Ele é ativo também no circuito internacional da arte, onde é convidado para importantes exposições, como a 24a Bienal de Sidney (março a junho de 2024), e a mostra “Quilombismo”, em 2023, na Haus der Kulturen der Welt (Casa das Culturas do Mundo), em Berlim, a convite de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, nome preeminente na cena da arte contemporânea global, e anunciado como curador da 36ª Bienal de São Paulo, em 2025.
Alberto Pitta, no Solo ArtRio 2024
Pavilhão Mar, estande S3
25 a 29 de setembro de 2024
Marina da Glória
Av. Infante Dom Henrique, s/n
Rio de Janeiro
Para o projeto SOLO da ArtRio 2024, Alberto Pitta (1961, Salvador), referência no carnaval da Bahia com suas serigrafias que revolucionaram as fantasias, apresenta desdobramentos de sua série “Moradismo”, conjunto de pinturas em tinta e impressão sobre tela, que vem desenvolvendo nos últimos dois anos, em que aborda a arquitetura popular brasileira, em especial a do interior do Nordeste, incluindo casas de axé. Na série, Alberto Pitta combina fachadas de casarios, terreiros e igrejas com elementos associados às religiões de matriz africana, como búzios e símbolos de orixás, principalmente os presentes na mitologia iorubá, oriunda do oeste africano e amplamente presente em Salvador e no Recôncavo baiano.
A série “Moradismo” começou a ser desenvolvida em 2023, e foi exposta em “O Quilombismo: Of Resisting and Insisting. Of Flight as Fight. Of Other Democratic Egalitarian Political Philosophies” (“De Resistir e Insistir. Do voo como luta. De outras filosofias políticas igualitárias democráticas”), na Haus der Kulturen der Welt (Casa das Culturas do Mundo), em Berlim, a convite de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, nome preeminente na cena da arte contemporânea global, e anunciado como curador da 35ª Bienal de São Paulo de 2025. Acima, imagem da obra “Moradismo” (2024), pintura e impressão sobre tela, com 113 x 164 cm.
MORADISMO – QUILOMBISMO
“Moradismo” é uma associação ao termo “Quilombismo”, cunhado pelo pensador e artista afro-brasileiro Abdias do Nascimento (1914-2001), para se referir à experiência vivida pelos quilombolas durante a violência da escravidão, em que criaram modos de vida alternativos de sobrevivência e compartilhamentos. A arquitetura popular ou vernacular – de caráter local ou regional, em que são empregados materiais e recursos do próprio ambiente, portanto ligadas às questões geográficas e culturais, possuindo por isso uma identidade – pode também representar uma estratégia para fazer do solo estrangeiro uma nova morada.
“Ile N’lá – Casa Grande” (2024), com 168 x 200 cm, traz as técnicas de serigrafia e pintura em branco sobre branco, que o artista tem desenvolvido. Ao centro, uma figura humana com sua casa e o opaxorô, ferramenta do orixá Oxalá – que tem o branco como sua cor-símbolo, e representa a criação do mundo, dos seres humanos e a sabedoria dos mais velhos. A prática de revisitar suas telas de serigrafia antigas é recorrente no processo de trabalho de Alberto Pitta. Nesta obra, por exemplo, vemos um elemento gráfico circular utilizado na indumentária criada por ele para o carnaval do Oludum – de que Pitta foi diretor artístico de 1984 a 1997 – em 1992, que teve como tema Índia, os Caminhos da Fé. Trata-se do Ashoka Chakra, símbolo que integra a bandeira nacional indiana, e representa a autonomia de seu povo indiano, e ainda vida e movimento.
Outro trabalho presente no espaço de Alberto Pitta no Solo ArtRio 2024 é “Oxotokanxoxo” (2024), com medidas de 141 x 132 cm (imagem abaixo). O título significa “caçador de uma flecha só”, em ioruba, e a obra narra o ato heróico que deu origem ao mito do orixá Oxóssi, o caçador. Oxóssi, e seu ofá – o arco com uma só flecha – conseguiu matar um grande pássaro que assustava sua aldeia. Na imagem, se vê um arco com uma flecha apontado para um grande pássaro. Abaixo de ambos, um casario.
Em “Quem come quiabo não pega feitiço” (2024), com 117 x 166 cm, e “Festa de Caboclo II” (2024), com 117 x 164 cm, estão a dimensão simbólica e festiva da energia vital da comida e sua relação com a espiritualidade, evocando também a fartura e a prosperidade para os lares.
Parte dos trabalhos, todos em grandes dimensões, participaram também da mostra coletiva “Stirring the Pot”, realizada na Casa da Cultura da Comporta, em Portugal, de julho a agosto de 2024, uma parceria entre as galerias Nara Roesler – que representa Alberto Pitta – e Fortes d’Aloia e Gabriel, com curadoria de Nancy Dantas.
SOLO ARTRIO 2024
O projeto da Nara Roesler em fazer um espaço dedicado exclusivamente a Alberto Pitta foi um dos dez selecionados pelo curador Ademar Britto, para o programa SOLO, na ArtRio 2024. Os trabalhos de Alberto Pitta poderão ser vistos no pavilhão MAR, na área externa, projetado pelo arquiteto Pedro Évora.
SOBRE ALBERTO PITTA
Filho de Mãe Santinha, ialorixá do Ilê Axé Oyá, educadora e exímia bordadeira, especialista em ponto Richelieu, Alberto Pitta nasceu em 1961, em Salvador, em meio a panos e tecidos. Desde cedo compreendeu que os tecidos e vestimentas não se restringiam a um caráter utilitário, pois, de acordo com as cosmovisões africanas, são um meio de inserir o homem na natureza e colocá-lo em contato com seus ancestrais. Pitta mantém seu ateliê no mesmo espaço onde nasceu, e tem como elemento central de seu trabalho a estamparia têxtil e a serigrafia, embora também venha se dedicando à pintura e a obras escultóricas nos últimos anos.
Com uma carreira de mais de quatro décadas, a produção de Pitta é muito ligada a festividades populares e em diálogo com outras linguagens, como a indumentária. Seu trabalho tem uma forte dimensão pública, tendo sido o autor de estamparias presentes em blocos afro do carnaval como o Olodum, Ilê Ayê, Filhos de Gandhy – na comemoração de seus 70 anos, em 2019 – e o seu próprio, o Cortejo Afro.
ESTAMPARIAS
Ainda no final dos anos 1970, Alberto Pitta começou a fazer estamparias para os trajes dos blocos carnavalescos afro de Salvador. Essas estampas apresentam signos, formas e traçados que evocam elementos tradicionais africanos e afro-diaspóricos, em especial os oriundos da mitologia yorubá, muito presente em Salvador e no recôncavo baiano. Nas palavras do curador Renato Menezes: “De fato, signos, formas e traços que evocam grafismos tradicionais africanos encontraram, sobre seus tecidos, um lugar privilegiado de educação das massas e de contação de histórias que só fazem sentido coletivamente. Se a escrita, na obra de Pitta, se organiza no conjunto de padrões e cores que reinterpretam a cosmovisão yorubá, a leitura, por outro lado, diz respeito à relação estabelecida no contato entre corpos em movimento, quando as ruas da cidade viram terreiro. Pelas dobras dos tecidos que cobrem os foliões percorre um alfabeto de letras e afetos, mobilizados pela música e pela dança: é no corpo do outro que se lê o texto que nos completa”.
Alberto Pitta participou de importantes mostras dentro e fora do Brasil. Dentre as individuais, se destacam: “Outros Carnavais”, na Nara Roesler Rio de Janeiro (2024); “Mariwó”, na Paulo Darzé Galeria (2023), em Salvador e “Eternidade Soterrada”, organizada pela Carmo & Johnson Projects (2022), em São Paulo. Dentre as coletivas, se destacam sua participação na 24a Bienal de Sidney (2024); “O Quilombismo”, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim (2023); “Encruzilhada”, no Museu de Arte Moderna de Salvador (2022), em Salvador, e “Um Defeito de Cor”, no Museu de Arte do Rio (2022), Rio de Janeiro. Seu trabalho figura em coleções institucionais, como: Instituto Inhotim, em Brumadinho; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; e Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.
SOBRE NARA ROESLER
Nara Roesler é uma das principais galerias de arte contemporânea do Brasil, representa artistas brasileiros e latino-americanos influentes da década de 1950, além de importantes artistas estabelecidos e em início de carreira que dialogam com as tendências inauguradas por essas figuras históricas. Fundada em 1989 por Nara Roesler, a galeria fomenta a inovação curatorial consistentemente, sempre mantendo os mais altos padrões de qualidade em suas produções artísticas. Para tanto, desenvolveu um programa de exposições seleto e rigoroso, em estreita colaboração com seus artistas; implantou e manteve o programa Roesler Hotel, uma plataforma de projetos curatoriais; e apoiou seus artistas continuamente, para além do espaço da galeria, trabalhando em parceria com instituições e curadores em exposições externas. A galeria duplicou seu espaço expositivo em São Paulo em 2012 e inaugurou novos espaços no Rio de Janeiro, em 2014, e em Nova York, em 2015, dando continuidade à sua missão de proporcionar a melhor plataforma possível para que seus artistas possam expor seus trabalhos.
Serviço: “Alberto Pitta – SOLO”, ArtRio 2024”
25 a 29 de setembro de 2024
Pavilhão Mar, estande S3, ArtRio
Marina da Glória
Av. Infante Dom Henrique, s/n
Rio de Janeiro
ArtRio – Informações e horários: https://artrio.com/artrio/informacoes-uteis
Mais informações: CWeA Comunicação
Claudia Noronha – +5521.99360.2330
Lilian Diniz –+5521.99372.6395