Juan Verástegui Vásquez, Diálogos do Sul Global
Lima (Peru),

Tradução: Beatriz Cannabrava

Os altos índices de segurança social na Venezuela são consequência de dois governos sensibilizados com a dor e a fome do seu povo, assim como da aplicação de um modelo em que os lucros do petróleo ficam no país.

A Venezuela resiste ao embate cometido brutalmente, e seguirá resistindo, encarnada em seu presidente Nicolás Maduro, assim como o fez com Hugo Chávez Frías. Para Maduro, mais fácil teria sido “abraçar” saqueadores, entregando as riquezas e sua ideologia a nefastos interesses neoliberais, mas teria afundado seu povo na indignidade, na desonra, na fome e na miséria.

A dignidade e soberania dos povos não se resgatam sob a imploração queixosa de vassalos. Este foi o trabalho de despóticos e entreguistas governantes oligárquicos e neoliberais que do Peru tiraram o decoro, a liberdade e também as tremendas riquezas, ficando o país com as migalhas aventadas por grandes transnacionais e países do ocidente.

A quantiosa renda petroleira na Venezuela era saqueada e levada para fora do país. Muito antes, pertencia à coroa espanhola. Em Dezembro de 1998, Hugo Chavez F. ganhou a eleição para Presidente. Em 2006, declarou ilegais os 32 convênios petroleiros firmados entre 1990-1997 e os renegociou entre as transnacionais e a PDVSA, (empresa pública petroleira da Venezuela), criando empresas mistas nas quais a PDVSA possui 60% da propriedade, para uma maior arrecadação fiscal cuja origem é o petróleo.

Na Constituição Venezuelana, (através de Hugo Chávez) estipula-se que o Estado reserva para si, por conveniência nacional, a atividade petroleira e outras indústrias, assim como as explorações, serviços e bens de interesse público e de caráter estratégico. O Estado reserva para si ainda uma participação de 50% nas novas empresas mistas (que antes era de 35%), como máximo, além de desenvolver atividades de exploração, extração, recoleção, transporte e armazenamento, e assim se emitiram uma série de leis para uma maior arrecadação da renda petroleira para a Venezuela.

O oposto ao que vergonhosamente sucede no Peru. Aqui, levam milhões de ouro, prata, gás, petróleo, sem pagarem absolutamente nada, envolvidos em corrupção e ratarias. Hugo Chávez, pelo contrário, revolucionou as estruturas de uma economia dependente e saqueada, mas também de profundas melhoras em favor de seu povo. Vejamos.

População subalimentada?

A Venezuela tem menos de 5%, (FAO, FIDA, e “Programa Mundial de Alimentos”, 2014), está à altura de países desenvolvidos, como EUA, Alemanha, Japão, França, e mesmo que Cuba. Encontra-se acima de regiões em desenvolvimento, com uma percentagem de 13,5%, e de países subdesenvolvidos, com um a população subalimentada de 27,5%. Então, a renda petroleira, longe de sair fora da Venezuela, fica para alimentar o seu povo.

Disponibilidade de energia alimentar (em Kcal/dia por pessoa)

Venezuela dispõe de 2,949 Kcal/dia por pessoa. O Peru de 2,721. Isso significa que a Venezuela consume mais de 228 Kcal/dia e pessoa que o Peru (CEPAL –  2015)

Taxa de mortalidade infantil

A Venezuela tem 14%, Colômbia 15%, Peru 15%, o que quer dizer que a Venezuela tem 7,1% menos mortalidade infantil que os dois países anteriores. Cuba se destaca-se neste indicador com 4%. (UNESCO-2015). A mortalidade infantil, antes de Hugo Chávez, era de 21,4%.

Raquitismo moderado e grave (2008-2012)

A Venezuela tem 16%, enquanto o Peru 18% e Guatemala 48% (UNESCO-2015).
Em “Alimentação Escolar”, com Hugo Chávez, brindando dejejuns, almoços e refeições grátis e de qualidade. No início foram 250 mil estudantes, em 2008 chegaram a 4 milhões de estudantes, um crescimento de 1.500%, que consistiu em sucos Yukypak de laranja com croissant, queijo creme, presunto e queijo, e inclusive durante o recreio se lhes dava sacos de leite.
80% da educação venezuelana é pública e gratuita.

O ingresso à Universidade é um direito, não há exame de ingresso

Entre 1999 e 2007, o número de médicos de atenção primária no setor público aumentou mais de 12 vezes, de 1.628 para 19.571, o que equivale a um crescimento de 1.102%, levando assim atenção médica a milhões de venezuelanos em situação de pobreza que antes não tinham serviços de saúde. Em 1998, o país contava com 417 salas de emergência, 74 centros de reabilitação e 1.628 centros de atenção primária. Em 2007 passou a 721 salas de emergência, 445 centros de reabilitação e 8.621 centros de atenção primária, incluindo as 2.500 clínicas populares em bairros de escassos recursos (UNESCO). Admirável!

A Venezuela foi declarada Território Livre de analfabetismo, cuja taxa está agora abaixo dos 4%. Em seu informe de 2013, o país foi catalogado como o segundo da América Latina e o quinto no mundo com maior número de alunos universitários em relação à população total (UNESCO). No Peru, o analfabetismo entre as mulheres alcança 7,5%, em homens, 2,7%, na área rural é de 19,3% para mulheres, e em Huánuco chega mesmo a 21,3%.

Apesar dos boicotes desapiedados, os seis milhões de venezuelanos que têm mais problemas recebem a cada 21 dias a sua cesta básica de comida nos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP). De acordo com Ángeles Maestro, cada cesta básica de comida, a um preço de 0,5 dólares, inclui 2 kg de lentilhas, 3 kg de arroz, 2 kg de farinha de milho, 2 kg de leite em pó, 3 kg de pasta, 1 kg de feijão-preto, 1 kg de açúcar, 1 lata de molho de tomate, um frasco de maionese, 5 latas de atum em conserva e 2 litros de óleo. Também existe, ao mesmo preço, uma cesta básica de produtos de limpeza e de higiene pessoal.

Hugo Chávez e Nicolás Maduro entregaram, gratuitamente, ao seu povo, 4,3 milhões de moradias. Nenhum país no mundo brinda com estes benefícios a seu povo. Esperam chegar a mais de 5 milhões.

Estes êxitos são consequência de dois governantes sensibilizados com a dor e fome de seu povo. Tampouco haveria sido possível sem a aplicação de um modelo socialista, no qual os lucros do petróleo ficam no país.

A Venezuela não invadiu nenhum país, pelo contrário, ajuda muitos povos com sua renda petroleira. Até o Peru foi beneficiado com casas doadas por Hugo Chávez após o terramoto de Ica (no Peru). Aqui, a reconstrução esteve cheia de corrupção: 16 anos depois (Diário El Comércio), os prefeitos sustentam que a maior brecha de construção de instalações corresponde a monumentos educativos e históricos; Na província de Ica, só 30% dos colégios afetados em 2007 foram reconstruídos, faltando ainda 70%; Os distritos mais afastados do litoral registram um avanço de 50% em obras de reconstrução do sistema de esgoto.

Pacifismo e o bloqueio

A Venezuela é um país pacífico e amigo. Por sua grande sensibilidade social, o governo venezuelano vende petróleo em condições preferenciais a muitos países latino-americanos, totalizando um montante de 148 milhares de milhões de US$, que estão pendentes de cobrança. No entanto, desencadeou-se um bloqueio, excessivamente duro e perverso, mesmo desatado, contra crianças, anciãos e pessoas indefesas.

Os preços especulativos são incrementados irracionalmente todos os dias, quer em remédios, alimentos, papel higiênico, produtos de limpeza, higiene, provocados por acaparamento, contrabando, etc. provocando desabastecimento e sabotagem. Estes especuladores vendem, deliberadamente, carne, queijo ou uma caixa de ovos a preços inalcançáveis, obtendo lucros exorbitantes.

Não são difíceis de obter produtos agrícolas como frutas e vegetais, no entanto é extremamente difícil encontrar medicamentos ou produtos de higiene. São duas empresas que produzem esses bens, as norte-americanas Procter & Gamble e Johnson & Johnson, controlando o mercado venezuelano. Têm um monopólio de 90% da oferta.

Sanções unilaterais são condenadas internacionalmente

O Conselho da DDHH [Direção Geral dos Direitos Humanos] da ONU, aprovou em Março de 2018 uma resolução condenando as sanções unilaterais impostas pelos EUA e a União Europeia contra a Venezuela, ocasionando um inclemente impacto contra o povo venezuelano. Já anteriormente, em 2015, a Venezuela se tinha declarado em “emergência nacional” pela “ameaça não usual e extraordinária que a política externa dos EUA representa para a segurança da nação bolivariana”.

Congelaram e bloquearam todos os ativos da PDVSA e sua filial CITGO nos Estados Unidos. Agora, não compram nem um galão de petróleo (antes, 80% se destinavam aos Estados Unidos); o Banco Conmerzbank (Alemanha) fechou contas de bancos venezuelanos e da PDVESA, etc. Inglaterra se nega a liberar 31 toneladas de ouro, pertencentes à Venezuela, porque apoiaram a Guaidó e é de sua propriedade (medida imposta por países do ocidente), etc.

Um venezuelano residente no Peru reflete e diz: “Se fico no Peru e tenho filhos, eles correm o risco de ser anêmicos como no Peru, onde há cerca de 50%, enquanto na Venezuela não há nenhum; correm o risco de ser desnutridos crônicos, enquanto na Venezuela isso não existe; correm o risco de ser analfabetos, enquanto na Venezuela é zero”.

A Venezuela possui uma riqueza extraordinária, tem o primeiro lugar em reservas mundiais de petróleo, tem gás, ouro, ferro, bauxite, diamantes, com um valor superior ao PIB do Paraguai ou da Bolívia, carvão… e terras raras. E tem, fundamentalmente, seu povo com dignidade e nacionalismo invejáveis e insuperáveis. O Peru tem também imensas riquezas, mas que de nada nos servem, nunca nos serviram; mais de três milhões de compatriotas passam um dia por semana e vão dormir sem comer.

Todas estas riquezas configuram um imposante potencial para que nenhum venezuelano precise de emigrar, e nenhum deles sofra o que estão sofrendo. Todos eles seriam muito felizes e nada lhes faltaria, se não fossem as drásticas sanções que lhes impõem.

Maduro desprega múltiplas estratégias para devolver o bem-estar ao seu povo. Estamos seguros de que sairá vitorioso.