02.08.24 – Venezuela – Rosi Baró

Muitos amigos, sabendo que vivo na Venezuela e devido às notícias que circulam no estrangeiro após as eleições presidenciais realizadas a 28 de Julho, pediram-me que os informasse sobre o que está realmente a acontecer, porque as campanhas de desinformação dão como certo que foi cometida uma fraude eleitoral e inundaram os meios de comunicação social e as redes sociais no estrangeiro. Vou tentar resumir a forma como vejo e interpreto a situação a partir daqui.

A primeira coisa a registar é que, nas semanas que antecederam as eleições, foi pedido aos 10 candidatos que assinassem um compromisso de respeitar os resultados emitidos pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Todos eles assinaram, com exceção do candidato oposicionista da Plataforma Unitária Democrática, Edmundo González Urrutia, que é apadrinhado por María Corina Machado. Com esta recusa de respeitar os resultados, já se sabia de antemão o que iam fazer. Não foi assim uma surpresa para ninguém quando a oposição repetiu o guião da fraude e sem apresentação de provas, o que tem feito em todos os processos eleitorais em que não ganhou.

O presidente do CNE emitiu o seu primeiro boletim no mesmo dia das eleições, depois da meia-noite, e garantiu que com 80% das mesas apuradas e com uma tendência “conclusiva e irreversível”, Maduro fora reeleito para um terceiro mandato com 5.150.092 votos, ou 51,20%. Ao mesmo tempo, o presidente do CNE denunciou uma pirataria maciça feita contra a página na internet do CNE, ataque esse que deitou o seu site abaixo e atrasou o processo, impossibilitando a publicação de um balanço detalhado da votação.

A oposição, como já se sabia, voltou logo a gritar “fraude”, apelando ao povo para que protestasse e saísse à rua. A partir desse momento, começou uma guerra em várias frentes. Em primeiro lugar, ao nível da comunicação social: surgiram gravações de há oito anos, e até material difundido ainda antes das eleições, incluindo audiovisuais de acontecimentos noutros países que mostravam gigantescas marchas e protestos. É verdade que as pessoas saíram às ruas para se manifestarem, mas não na dimensão mostrada nos vídeos que circularam nos meios de comunicação e nas redes, especialmente no estrangeiro.

No dia seguinte às eleições, María Corina Machado declarou numa conferência de imprensa que o vencedor das eleições era o seu candidato, Edmundo Gonzalez, afirmando ter visto 73% dos registos de votação transmitidos pela CNE a certificar o triunfo de Gonzalez, e assegurando que este tinha obtido 70% dos votos e Maduro apenas 30%, tendo com isso apagado da estatística todos os restantes candidatos.

Na mesma conferência de imprensa, disponibilizou um link para que qualquer pessoa pudesse aceder às folhas de contagem e verificar o seu voto. Logo a seguir, Alejandro Terán Martínez, um perito em questões de petróleo, denunciou que o seu irmão Julio César Terán Martínez, bilhete de identidade 9.946.044, aparecia como se tivesse votado embora já estivesse morto desde 2022. Terán apresentou queixa ao Ministério Público, e é muito provável que apareçam também outras queixas, como já aconteceu noutras ocasiões.

Os protestos da oposição tornaram-se violentos, com a ajuda de criminosos e mercenários treinados no estrangeiro a cometerem atos de vandalismo: bloquear ruas com pneus a arder, queimar veículos, queimar autocarros, escolas, hospitais e instituições governamentais, e isso simultaneamente em quase todo o país. Já foram presos mais de 1.046 criminosos que confessaram que foram pagos pela oposição para produzir esses atos de terrorismo, desta vez nos bairros populares, com o objetivo de aterrorizar a população e provocar um confronto. Um confronto que não ocorreu. O Presidente apelou aos militantes para que não os defrontassem e permanecessem nas suas casas. As forças armadas e a polícia tomaram conta da situação. Como resultado destes atos, mais de 70 funcionários públicos ficaram feridos e, infelizmente, um deles morreu.

Por seu lado, o Chefe de Estado, Nicolás Maduro, fez duas aparições mediáticas e políticas extraordinárias, a 31 de Julho, que desmontaram todas as histórias, bem como a atmosfera que estava a ser criada internacionalmente:

A primeira foi a sua apresentação perante o Supremo Tribunal de Justiça, especificamente perante a Câmara Eleitoral, com o objetivo de introduzir um recurso contencioso para que todo o processo eleitoral seja verificado, todos os candidatos e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) convocados, e todas as provas estudadas, incluindo os registos eleitorais. Tudo isto para que o mais alto tribunal da República possa analisar o que aconteceu e tomar uma decisão que devolva a paz e a tranquilidade ao país.

A segunda aparição foi a conferência de imprensa que deu aos meios de comunicação internacionais a partir do Palácio de Miraflores. Apresentou em pormenor todas as suas dúvidas a respeito dos próprios meios de comunicação social, a quem criticou duramente. O Presidente perguntou porque é que os meios de comunicação social querem uma guerra na Venezuela, um confronto civil, porque é que mentem tanto, porque é que dão tanta atenção às notícias falsas. Com esta intervenção, o Presidente desmontou todas as mentiras da ultradireita e instou-os a apresentarem às autoridades as suas alegadas provas de fraude.

A Sra. María Corina Machado e o seu candidato Sr. Edmundo Gonzalez, desde então não voltaram a ter qualquer aparição pública e, na terça-feira, a Costa Rica ofereceu-lhes a possibilidade de obterem um asilo político. Hoje, quinta-feira, dia 1 de Agosto, e depois das detenções, da conferência de imprensa e do recurso apresentado pelo Presidente ao Tribunal de Justiça, os surtos de violência cessaram, e há um clima de calma nas ruas – e esperamos que assim continue.

Para quem quiser informações mais pormenorizadas, eis aqui algumas ligações adicionais:

 


Tradução do espanhol por Vasco Esteves para a PRESSENZA