MÚSICA
Por Renan Simões
A série Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O segundo artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador que produziu uma obra espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O próprio Gimu tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos:
Meus álbuns dos últimos anos são todos muita escuridão, e acho que não tinha mesmo como ser diferente. Os últimos anos têm sido, talvez, os mais difíceis dessa vida maravilhosa que tenho. Até penso em fazer algo mais iluminado (atravessa, luz!) mas no final fica tudo um caos, tudo meio que desabando. (Olá, caos! Vc de novo por aqui?)
A criação de The realm… foi um troço bem desencontrado, tudo muito picotado. Naquelas de trabalhar um pouco em uma música, depois parar, esquecer um pouco dela, voltar, não lembrar direito o que tinha feito, nem sempre lembrar como a música havia começado. A sensação não é bacana. O bom é quando parece que tudo tá redondinho dentro da cabeça, quando você para e pensa e consegue lembrar de tudo, o que é o quê, de onde veio cada parte, terminar uma música e começar a outra, etc. Isso também não tem rolado assim de jeito nenhum nos últimos anos. Caos.
Com The realm… eu queria fazer um álbum de “slow very dark and gloomy black doom metal”, mas tinha que achar um jeito de fazer doom metal do meu jeito. A ideia foi fazer tudo soar como que esmagado, sons esmagados, texturas destroçadas, som “ruim” como conceito (bom…), não pensar tanto em criar coisas bonitas, melodias bonitas. Me segurar para aceitar que algumas músicas nem melodia teriam.
O Andy Cumming, em https://soundsandcolours.com/articles/brazil/on-the-margins-brazilian-music-round-up-gimu-black-snake-808-nalesca-mantega-hanni-palecter-j-g-b-akira-umeda-and-more-58376/ , acertou em cheio quando escreveu:
“Higher things soa como black metal passado por uma prensa, saindo do outro lado como um Burzum achatado, mas com rugidos distorcidos e distantes adicionados”.
Black metal ambient 🙂
O álbum foi lançado pelo selo The Committee For Sonic Research, que também lançou outros álbuns meus.
Você pode ouvir uma entrevista com o Simon, dono do selo, aqui:
https://www.tcfsr.net/podcasts
É o primeiro “play”.
“A discussão sobre o selo é aproximadamente cronológica desde sua formação em 1985 e é pontuada por uma dúzia de faixas do catálogo da TCFSR” (trecho do site).