ARTES VISUAIS
Por Beatriz Caillaux
Terminam neste domingo, dia 7 de julho, no Paço Imperial, as exposições “Transmutação: alquimia e resistência”, da artista carioca Marcela Cantuária, um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade; “Davuls de Salé”, do artista paulistano Cadu, com a colaboração de Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde, e “bassa danza”, do artista carioca Nathan Braga.
MARCELA CANTUÁRIA
Um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade, Marcela Cantuária apresenta a exposição “Transmutação: alquimia e resistência”, com obras recentes e inéditas. Com curadoria de Aldones Nino e assistência curatorial de Andressa Rocha, a mostra traz cerca de 20 obras da artista carioca, que há cinco anos não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro. A mostra é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo.
“Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, cada tela age como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. Ela propõe uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposição.
A mostra traz trabalhos produzidos desde 2016 até os dias atuais, sendo três inéditos, realizados especialmente para esta exposição. As obras trazem questões como o protagonismo político feminino, a luta de classes e a divisão de poderes. Elas também evidenciam a diversidade de técnicas utilizadas pela artista ao longo dos anos, caminhando da tela para o espaço por meio da utilização de mídias como tecido, madeira e cerâmica. “A exposição vai abordar diversos momentos da minha trajetória, desde onde a minha pintura começa, até onde estou neste momento”, conta a artista.
Dentre as obras inéditas, estão duas pinturas de “Mátria Livre”, pesquisa que a artista desenvolve há oito anos, elaborando, por meio de um vocabulário plástico-formal, narrativas sobre como reencantar figuras femininas de luta contra o capital, o colonialismo e o patriarcado. A espinha dorsal da série consiste em reverenciar aquelas que construíram e disputaram espaços na política, lutando com teoria e prática. As novas pinturas trazem a poeta grega Safo, que viveu na ilha de Lesbos, e Marleide Vieira, militante do MST de Pernambuco, assassinada no ano passado pelo marido ao pedir o divórcio. “Represento mulheres que inspiram ações, trazendo a minha perspectiva, mostrando principalmente a força feminina. São imagens de mulheres que, na maioria dos casos, existem ou existiram enquanto lutadoras. É como criar um panteão dessas mulheres, lugar de merecimento e de imortalidade também”, afirma a artista.
Além das pinturas, está em destaque na exposição a obra “A grande benéfica” (2021), um autorretrato da artista, pintado sobre biombo, medindo 1,80m X 1,80m. “Será uma imagem ícone da exposição. Essa obra fala muito da relação que eu tenho com o tarô, fiz uma releitura da carta dois de copas, que representa o romance, e da carta do mundo, que é a realização, o ciclo, e mesclei com partes íntimas da minha vida”, conta Marcela Cantuária. “Esta obra evidencia sua estratégia de questionar e encenar junto aos espectadores as possibilidades de representação de sua identidade: enquanto ela apresenta um olhar combativo e direto em uma das faces do biombo, na outra observamos Cantuária em uma posição celebratória, em uma espécie de comunhão com o espaço onde se encontra”, ressaltam os curadores.
O nome da exposição, “Transmutação: alquimia e resistência”, é repleto de significados, assim como as obras. “Sua produção, imbuída de simbolismo e intencionalidade, remete à prática da alquimia não apenas pela transformação de materiais — que se estende além dos tradicionais pigmentos, pincéis e telas para incluir madeira e cerâmica — mas também em sua busca constante por saberes e narrativas circunscritas à margem da retórica hegemônica, na exploração do potencial humano e na revelação de outras histórias. Tais trabalhos mergulham profundamente na realidade latino-americana, discutindo e salientando questões sociais e políticas”, afirmam os curadores.
CADU
Cadu apresenta a exposição “Davuls de Salé”, que conta com a participação de três colaboradores: Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde. Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição apresenta a diversidade de linguagens exploradas pelo artista individualmente e em parceria, através de fabulações debruçadas sobre a história da pirataria, organizadas pelo escritor Peter Lamborn Wilson em seu livro “Utopias Piratas” (1995).
Entre os séculos XVI e XIX, corsários muçulmanos do Magreb devastaram navios europeus, escravizaram povos e fundaram a República Corsária Moura de Salé. Durante esse período, milhares de europeus se converteram ao Islã e se juntaram ao que Wilson chamará de “guerra santa pirata”. Essa forma anárquica de capitalismo, que os piratas tomam para si, encontra ecos nas esculturas, desenhos, filmes e instalações realizadas por Cadu e sua horda de rebeldes do mar.
O mar serve de inspiração para a série de desenhos Nadar Nada Mar, realizados em grade formato sobre papel. Sereias, Krakens, Leviatãs e outras bestas marinhas amalgamam-se, constituindo quimeras através de grafite, colagem e óleo, num imaginário simbólico barroco de terror e deslumbramento. Reforçando a ideia de fabulação e a conexão intrínseca que seu trabalho tem com a linguagem, Cadu escreveu poemas para cada uma das obras, baralhando referências das ciências, de cosmogonias e da literatura.
Dentre os trabalhos em colaboração estão as esculturas sonoras Beijo para o Mar e Pio para o Píer com Maneno Juárez. Na primeira, 21 apitos divididos em três conjuntos são posicionados a uma distância relativa entre si na galeria, servindo de veículo para diálogos pneumáticos. As esculturas produzem notas musicais, indo do agudo ao grave, do brado ao sussurro. Já na segunda, utiliza-se a técnica tradicional peruana de modelagem para construção de vasos sonoros movidos por água.
NATHAN BRAGA
A exposição “bassa danza”, do artista carioca Nathan Braga, é a primeira exibição solo em sua cidade natal, que marca seu retorno após três anos morando em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), Nathan foi aluno intercambista de Belas Artes na Universidade de Salamanca, na Espanha, tendo sido o segundo brasileiro a receber a Bolsa Iberoamericana do Santander para tal curso.
Com curadoria de Aldo Victorio Filho, são apresentadas cerca de 25 obras pertencentes a quatro séries diferentes de trabalho, produzidas desde 2019 até hoje, nas quais o artista versa sobre o ponto de inflexão entre as figuras mitológicas de Thanatos e Eros, realçando o jogo erótico envolvido entre as obras e na relação delas com o público visitante.
“Pinturas, esculturas, cerâmicas não são colocadas como linguagens ou modalidades plásticas impermeáveis umas às outras, pois as obras expostas, a despeito da completude técnica e material nas quais se encerram, se afirmam em outra lógica para além da artesania suporte/técnica/material. Se articulam, pois, na indizível força que ativam em conjunto. Uma ópera, um concerto, uma fuga, um silêncio a depender do ir e vir de cada visitante. Uma dança.”, conta o curador Aldo Victorio Filho.
A pesquisa para esta exposição se iniciou a partir da leitura que o artista fez do livro Eros: o Doce-Amargo de Anne Carson, no qual a autora vai pensar de forma ensaística as relações dicotômicas presentes no desejo, o jogo psicológico entre os amantes e a implicação histórica e social da representação ambígua dessas relações, através de análises iconográficas e semânticas, desde a Grécia Antiga. A aproximação entre arte e literatura tem sido um modus operandi do artista, que já dedicou uma exposição individual ao último livro publicado em vida pelo poeta Mário Quintana, fazendo dessa aproximação uma possibilidade de construção de famílias monstruosas, através de interdisciplinaridades, intermaterialidades e intertextualidades, objetivando borrar as fronteiras entre as coisas, como faz o próprio Eros.
Serviço: Exposições “Transmutação: alquimia e resistência”, de Marcela Cantuária, “Davuls de Salé”, de Cadu, e “bassa danza”, de Nathan Braga
Exposição: até 7 de julho de 2024
Paço Imperial
Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
Terça a domingo e feriados, das 12h às 18h.
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: Midiarte Comunicação
Beatriz Caillaux: beatriz@midiarte.net (21) 98175.9771 www.midiarte.net