TEATRO

Por Alessandra Costa

SESC RJ E ENTRE LUGARES MARÉ APRESENTAM:

 Das Dores – A Opereta Favelada

Manifesto contra extermínio da juventude preta e favelada estreia no Sesc Copacabana

De 18 de julho a 11 de agosto

Mais que uma peça, um manifesto contra a política de extermínio do estado contra a juventude preta e favelada, essa é a definição do espetáculo Das Dores – A Opereta Favelada, dirigida pela vencedora do 33º Prêmio Shell de Teatro de Melhor Direção em 2023, e vencedora do prêmio de Melhor Direção pela APTR, também em 2023, e com mais de 20 anos de carreira, Renata Tavares.

Com texto e músicas de Marcos Bassini, a peça foi uma das vencedoras do Núcleo de Dramaturgia Firjan SESI e agora realiza temporada no Sesc Copacabana, entre os dias 18 de julho e 11 de agosto. Das Dores – A Opereta Favelada conta a história de Maria das Dores, uma mulher pobre, preta e favelada, que vê o filho sendo assassinado no meio de uma manifestação. É um drama musical que questiona a atuação da sociedade sobre as questões raciais e as práticas anti-racistas, econômicas principalmente. A peça tem ritmos brasileiros, encenados e tocados pelas atrizes e os atores. A plateia acompanha um jogo de cena que vai intensificando as relações revelando toda a  estrutura social.

Das Dores – A Opereta Favela foi criada a partir do relato de mães da periferia que perderam seus filhos para a violência do estado e é encenada por artistas oriundos do grupo de teatro Entre Lugares Maré, com mais de 13 anos de história na favela da Maré, pelas mãos da encenadora Renata Tavares.

“Das Dores é uma missão. Esse texto chegou logo depois da pandemia, pelas mãos do Marcos Bassini que confiou a mim e, consequentemente, à todas as pessoas envolvidas no projeto. Quando nós lemos, ficamos tão impactados com a história que eu disse: Vamos fazer! Não sabia quando, nem como. A gana de querer colocar essa peça no mundo foi abrindo janelas para que pudéssemos avançar”, explica Renata.

Ao todo, o espetáculo mobiliza 30 artistas que atuam no território da Maré, retratando a vivência das vidas faveladas, explicitando a violência policial e confrontando a política genocida do Estado, chamando a atenção do público e dos formadores de opinião para que esta guerra finalmente chegue ao fim. Renata Tavares reforça que o tema do espetáculo escancara o que há de mais violento contra as populações periféricas.

“Eu já sabia que o tema era (é) tenebroso, doído, sem compreensão do que se espera da vida. Entretanto, poder ser mais uma voz na luta dessas mães mulheres que tiveram seus filhos assassinados pelo Estado é o que nos move, é o que me dá coragem. Eu olho para essas mulheres e me encorajo mesmo com medo do meu coração doer”, lamenta.

O Atlas da Violência, um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que 76,5% dos assassinatos no Brasil, no ano de 2023, tiveram pessoas negras como vítimas. A diretora lembra ainda que as vítimas possuem familiares e o espetáculo revela o tamanho da crueldade do Estado contra essas pessoas.

“A gente, essas mães mulheres que somos da periferia, sabemos que as vítimas têm CPF e cor. E mesmo com todas as discussões sobre o racismo, todos os nossos avanços, não foram suficientes para repensarem o sistema, a estrutura e a instituição Estado que insistem em culpabilizar pessoas pretas, faveladas e periféricas. Das Dores é uma peça política, é dessa forma que penso ela”, comenta.

O objetivo de Das Dores – A Opereta Favelada é contar essas histórias através da arte e desenvolver o teatro político com um tom mais provocador, um caminho para encontrar outras possibilidades, teorias e colocá-las em práticas, criar reflexões, pensar na construção/evolução da sociedade brasileira com mais equidade.

“Pra mim, enquanto artista, cidadã brasileira, preta, mulher, moradora de Bangu, trabalhando no território da Maré há 13 anos, ainda não consigo exaltar somente as belezas das periferias e das favelas. E tem sim! São lindas, são incríveis, únicas, plurais, diversas, felizes! Porém continuam nos matando, nós matam em vida. É necessário que falemos sobre isso. Falemos ainda, ainda, ainda, porque não acabou, não são casos isolados, aconteceu ontem, hoje e infelizmente amanhã”, analisa Renata Tavares.

Ela conclui relembrando as fraudes que o Estado cria em cenas de crimes, tentando terceirizar a culpa e colocar as vítimas como algozes, mas, nos dias atuais, é impossível passar despercebido com tantas tecnologias disponíveis para coibir os crimes dos agentes de segurança pública.

“A cada evento que o Estado nega o direito delas, alterando o local do extermínio, mentindo, oferecendo um abraço inimigo conspirador ou num julgamento de 10 anos sem criminalizar os assassinos porque eles fazem parte do sistema. Para essas mães mulheres há uma dualidade de sentimentos que são: de impotência, de interrupção e a resiliência, a força para lutar! Então, sigamos com elas na luta! Axé”, finaliza a diretora.

Sinopse: Maria das Dores coloca um caco de vidro contra o pescoço e ameaça se matar em rede nacional se o Estado não trouxer o responsável pelo assassinato de seu filho. Em outro plano, um autor de teatro a entrevista e, inspirado por Antígona, busca transformar a trágica história de Das Dores em musical, numa tentativa de mostrar o drama de todas as mães que perdem os seus filhos, dando início ao embate: a quem pertence essa história?

Sobre o Entre Lugares: 

A 12ª Edição do projeto Entre Lugares Maré, com atividades realizadas no Museu da Maré localizado no Morro do Timbau, visa celebrar os 13 anos de existência do projeto, fortalecendo a capacitação artística dos jovens e adultos, a manutenção de espaços culturais e a democratização de produções artísticas estabelecida no Museu da Maré. Será destinado para 30 jovens e adultos com idade a partir de 14 anos, residentes na favela da Maré. O projeto pretende resgatar a memória de território e a valorização da identidade dos moradores desta comunidade, trazendo em suas atividades, com o seu produto principal a execução de cinco oficinas (pesquisa de campo- leitura e escrita / restauro de figurino / corpo-movimento / iluminação / montagem teatral).

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Marcos Bassini

Encenação: Renata Tavares

Elenco: Diogo Nasi, Dom Yuri, Leona Kali, Mila Moura, Ramires Rodrigues e Renata Tavares.

Direção Musical: Renata Tavares, Pedro Lima, Zaratustra, Rafael Rougues e Dom Yuri.

Música – Marcos Bassini

Cenografia: Rafael Rougues e Flávio Vidaurre

Iluminação: João Gioia e Lucas da Silva

Preparação Vocal/Direção Vocal: Pedro Lima

Preparação Corporal/ Direção de Movimento: Gabriela Luiz

Figurino e visagismo: Tiago Ribeiro

Operador de Luz: Lucas da Silva

Operador de som: Zaratustra

Social Mídia: Mila Moura, Leona Kali, Victor Braga

StoryMaker: Victor Braga

Designer Digital: Diogo Nasi

Designer Gráfico: Flávio Vidaurre

Produção: Renata Tavares, Ramires Rodrigues

Captação de imagem: Marcos Brendon

Assistente de Produção e Encenação: Bianca Barbosa

Assistente de Produção e Encenação: Sheilla Cintra

Contrarregragem: Rafael Rougues e Thiago Manzotti

Fotógrafo/ Videomaker/ Edição: Zé Bismarck

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa

Direção de Produção: Vanessa Greff

Idealização: Entre Lugares Maré

SERVIÇOS

Espetáculo Das Dores- A Opereta Favelada

Entre 18 de julho  até 11 de agosto de 2024

De quinta a domingo

Horário: 20h3O

Local: Mezanino do Sesc Copacabana – Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ

Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)

Informações: (21) 2547-0156

Bilheteria – Horário de funcionamento: Terça a sexta – de 9h às 20h; Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h.

Classificação indicativa: 12 anos

Duração: 80 minutos

Lotação: Sujeito à lotação

Gênero: Drama Musical