MÚSICA

Por Renan Simões

 

A série Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O segundo artista da série é Gimu, grande amigo e influenciador que produziu uma obra espetacular e única no cenário brasileiro de música experimental. O próprio Gimu tem elaborado textos sobre seus álbuns favoritos:

Senses não teria esse nome. Seria algo como “todas as coisas em tudo o que não consigo perceber”. Uma viagem minha um dia observando Genoveva, minha filha canina, enquanto ela percebia o mundo – e a realidade – à sua maneira, com as orelhinhas fazendo alguns movimentos, o narizinho meio empinadinho dando aquelas fungadinhas rapidinhas, os olhos na noite. Eu estava chapado. Ela não. Estava chapado nela também. Era noite e estávamos na varanda do primeiro apartamento onde ela viveu, seu primeiro lar. Agora estamos no seu sexto lar, e ela faz 9 anos daqui a uns dias. Hoje é dia 10/06/2024. 

Senses é um nome bem sonso para um álbum, mas não tive tempo para escolher um esperto. O selo achou o “todas as coisas…” meio estranho demais. Imagina! (risos) Estou pensando aqui agora, enquanto escrevo: eu cedi, né? Que coisa! Mas no final das contas era isso mesmo, é um álbum sobre os sentidos, sobre sentir (não de FEELING, mas de SENSE), sobre o que é a realidade pra mim e o que é a realidade para Genoveva e… expande isso aí para qualquer espécie que você queira escolher. A minha já é diferente da sua, ser humano mais inteiro do que eu, porque não enxergo mais muito bem, e meus ouvidos não devem ser lá mais grandes coisas mais também. E dor é parte da minha realidade. Os ossos, ai, os ossos! (risos).

Tá. Aí concordei com o nome bocó que tem tudo a ver.

Senses deveria ter sido meu segundo álbum pelo extinto selo UAE da Noruega, que lançou meu álbum Of the spirit, of the space. O selo pagou pela masterização do álbum, e eu escolhi quem iria masterizá-lo, um norte-americano chamado Rafael Anton Irrisari, que faz música muito linda. Entretanto, no meio do caminho, o selo encerrou suas atividades porque o dono adoeceu e preferiu ficar quietinho no seu canto pra sempre. Grande escolha! Enviei o álbum para alguns selos e acabou sendo lançado pelo selo Unknown Tone Records (EUA). A arte da capa foi uma sugestão do selo e eu só aceitei. 

Os títulos (em português):

  1. Mundos dentro de mundos: dentro de mundos, dentro de mundos, dentro de mundos. Microscópios e telescópios revelam.
  2. Coisas do passado: de milhares de milhões de ano atrás até aqui. Ou de outro dia até aqui. Como o passado te moldou? Por escolha?
  3. Lilás claro: só porque amo essa cor mesmo. Fiz essa canção em algum momento em que estava ouvindo muito o Entroducing do DJ Shadow, novamente, álbum que amo desesperadamente. Ela não tem nada a ver com a música de Entroducing mas tem tudo a ver com tudo o que ouvi na vida. Ou seja.
  4. Olho primitivo: uma canção biológica, tirada de algum documentário sobre criaturas ancestrais, sobre como foi a evolução do olho.
  5. Mais puro: não sei porque “mais puro”. Talvez pelo som da palavra, “purer”. É engraçado dizer “purer”: /ˈpjʊərər/ ou /ˈpjʊərə/.

6. Sentidos: e já que “sentidos” virou o nome do álbum, vai também como nome da última faixa.

https://gimu.bandcamp.com/album/senses

Segue link para a resenha do álbum que eu realizei, visto que este ficou em 46º lugar do meu ranking de melhores discos da música brasileira:

#46 – Gimu – Senses (2017) – Ranking dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira (até 2020)