Por Pascal Derungs
Elon Musk, o bilionário norte-americano do sector tecnológico, mantém múltiplas amizades com líderes estatais e populistas de direita, que apoia publicamente sempre que estes lhe concedem benefícios empresariais para o seu império de negócios. Dessa forma, ele promove a direita reacionária, desde a Argentina à Índia, e joga ativamente na política mundial em seu proveito.
Elon Musk corteja deliberadamente um grupo de chefes de Estado que pensam da mesma maneira que ele, elogiando e apoiando as suas políticas. Em troca, o empresário tecnológico de 52 anos especula principalmente sobre benefícios empresariais lucrativos para o seu império de negócios centrado na Tesla, no SpaceX e na Starlink – e isso com grande sucesso. Este facto foi meticulosamente documentado por um trio de autores do New York Times (NYT).
Desde a ascensão global dos populistas e nacionalistas, Musk tem cortejado consistentemente desde o chinês Xi Jinping e o israelita Benjamin Netanyahu, até Recep Tayyip Erdogan na Turquia e Giorgia Meloni na Itália. O brasileiro Jair Bolsonaro também fez parte do círculo de apoiantes até à sua derrota eleitoral, e mesmo depois dela. O argentino Javier Milei e o indiano Narendra Modi estão atualmente no centro dos avanços de Musk.
Os aplausos de Musk são um lisonjo para os líderes mundiais
A plataforma de Musk nas redes sociais X (antiga Twitter) é o centro das trocas dos “elogios por favores”. O multimilionário utiliza-a para manifestar um apoio descarado aos seus camaradas de opinião. Nessa plataforma, Musk apoiou sistematicamente os pontos de vista deles sobre as questões de género, celebrou a sua rejeição do socialismo, e afrontou agressivamente os seus inimigos. Para poder agir mais livremente, Musk chegou mesmo a intervir pessoalmente na alteração das diretrizes de conteúdo do X.
Criticou o “vírus da mentalidade woke” e aquilo a que chama “o falhanço da esquerda” que, segundo ele, teria conduzido a problemas como o da imigração ilegal e o da diminuição das taxas de natalidade.
Ao fazê-lo, proporcionou aos seus “amigos” um imenso alcance mediático e um enorme impulso à sua reputação, segundo relata o NYT. O apoio de Elon Musk deu a muitos chefes de Estado nacionalistas e de direita um maior prestígio internacional. Estes, por sua vez, propagandearam avidamente o apoio de Musk como uma forma de aprovação das suas políticas e popularidade.
Nenhum outro mega-bilionário e empresário norte-americano cultiva tão publicamente relações ideológicas com líderes mundiais para promover os seus interesses pessoais e empresariais, resume o NYT.
Uma mão para dar, outra para receber
De acordo com a investigação do New York Times, Elon Musk tem vindo a pedir — e a receber — benefícios para as suas empresas mais lucrativas, a Tesla e a SpaceX, no âmbito das suas atividades políticas:
- Na Índia, Musk conseguiu direitos de importação muito mais baixos para os veículos da Tesla (15% em vez de 100%), obtendo assim uma grande vantagem competitiva. Isto aconteceu apenas dois meses depois de ter feito campanha na Plataforma X a favor dum lugar permanente para a Índia no Conselho de Segurança da ONU.
- No Brasil, abriu um novo e importante mercado para a Starlink, o serviço de Internet por satélite da SpaceX. Jair Bolsonaro concedeu-lhe a licença de exploração apenas sete meses depois de a mesma ter sido solicitada, dando à Starlink uma grande vantagem sobre a concorrência.
- Na Argentina, Musk negociou um acesso favorável ao mineral lítio, o componente mais importante das baterias da Tesla. Também obteve rapidamente do novo presidente Milei uma licença de exploração para a Starlink, anteriormente bloqueada. Isto tudo depois de ter abertamente ajudado a popularizar o libertário Javier Milei como o “novo rosto da direita moderna”.
Aa atividades políticas de Elon Musk são parte integrante dos seus planos de negócio
As atividades políticas de Musk há muito que são orientadas pelos seus interesses comerciais, escreve o NYT. O jornal baseia-se em declarações de cinco antigos executivos da Tesla e da SpaceX, pessoas que trabalharam bem de perto com Musk mas que estão contratualmente proibidas de falar publicamente.
Artigo original pode ser lido aqui
Tradução do alemão para a PRESSENZA por Vasco Esteves