MÚSICA

Por Renan Simões

 

A série Discografias aborda a obra de alguns artistas que cruzaram minhas apreciações musicais, muitos dos quais com pouquíssimas publicações a seu respeito. O primeiro artista da série é João Pimenta, músico capixaba que foi colega de trabalho do meu pai e de quem conheço dois álbuns desde a mais tenra infância. O próprio Pimenta tem elaborado textos sobre sua produção fonográfica.

Texto de João Pimenta (com adaptação final de Renan Simões):

Depois que me aposentei, investi em uma plataforma para registrar minhas composições em casa, ideia essa dada por Otávio Ribeiro, contrabaixista e grande amigo que tinha participado do CD Torta capixaba. Transformei um dos quartos do meu apartamento em um home-studio, que é o laboratório para o músico. Otávio Ribeiro instalou uma placa de áudio Focusrite e um Pro Tools, e me deu muitas aulas. Com o tempo, gravamos várias músicas de minha autoria.

Eu e minha esposa já éramos espíritas kardecistas, e eu observava que os grupos espíritas usavam muitas músicas lindas, mas bastante antigas. No primeiro grupo espírita que participei, tocávamos esse repertório; atuei durante anos tocando em aberturas musicais. Os médiuns recebiam muitas psicofonias que se tornavam hinos da casa. Com o tempo, a direção da casa quis registrar este rico material em um CD, e me pediram ajuda para levar o projeto adiante. Recebi também a incumbência de musicar as principais orações que eram usadas nas aberturas dos trabalhos diários.

Eles utilizavam o Pai Nosso, que eu já havia musicado para o CD Orquídea, e que gravamos com a participação do Coral da TELEST. Então me debrucei sobre a Prece de Cáritas, que é uma psicografia da médium Francesa Mme.W. Krell, de 25 de dezembro de 1873; trabalhei doze dias nesta canção, finalizando em 11 de maio de 2011. A terceira oração não pôde ser divulgada, ficou só para uso interno. Conversei com o Otávio Ribeiro da minha intenção de fazer um álbum com músicas espíritas; ele, que também é espírita, abraçou a ideia, e eu segui compondo.

Foram 18 músicas trabalhadas. Começamos as gravações das que já estavam prontas; os arranjos de base foram feitos por mim, sempre anotando as linhas melódicas e cifras no programa Sibelius, com uma ajuda primorosa do Otávio. A produção foi de nós dois. Eu toquei violão de aço e nylon, bases, solos e piano, e usamos muito o recurso MIDI para fazer cordas, contrabaixo acústico, metais e etc. Fiz os vocais, com participação da minha filha Luciana, além das flautas e metais. Otávio programou as baterias, fez os contrabaixos, mixagem e masterização, e colaborou imensamente com a escolha de todos os instrumentos MIDI.

Quanto ao impacto, penso que só agora é que as pessoas estão descobrindo estas músicas, e tenho ouvido muitos elogios. Este álbum foi publicado somente nas plataformas digitais (Spotify e outras), com o nome Espírito & alma, o que parece ser redundante, mas foi para delinear que “Alma” é quando se está encarnado e “Espírito” quando se está desencarnado.

Prece de Cáritas e Pai Nosso são duas orações muito conhecidas no meio espírita. Não conhecia, até o momento, nenhuma música para o Passe; então, me atrevi a fazer uma letra e música. O silêncio foi escrito pelo mestre Chico Xavier; pedi permissão à Federação Espírita Brasileira (FEB) para utilizar a poesia e decidi musicá-la; é uma das que mais gosto. Descobri um grande amigo e poeta na Casa Espírita Cristã (CEC), do bairro Ibes (Vila Velha/ES): Francisco Leite. Ele me mostrou letras maravilhosas, como Entre dois mundos, Quando florirem os campos, Eu vi um menino, O dia e a semente e Mãos iluminadas; todas essas foram musicadas e incluídas no trabalho. Canção do filho pródigo é uma parceria com José Carlos Fiorido, que retratou em poesia a parábola da volta do filho pródigo. Mediunidade e fé é uma psicografia do poeta Formiga, captada pelo médium Carlos A. Baccelli, pelo espírito Paulino Garcia, e se encontra no livro Entre a sombra e a luz (2001). Por fim, A alma, em compasso ternário, foi inspirada pelo livro O problema do ser, do destino e da dor (1908), do francês Léon Denis.

Não pretendo ser ousado, mas creio que a maior parceria foi a ajuda dos nossos irmãos invisíveis, pois deu muito trabalho fazer tudo com apenas três pessoas; entretanto, desde quando começamos, nada ficava sem solução.