OPINIÃO

Por Raphael Pinheiro

 

Vivemos em uma era de constante evolução tecnológica, onde a informação está sempre à distância de um clique. Smartphones, tablets e computadores tornaram-se ferramentas indispensáveis em nosso cotidiano, facilitando a comunicação, o trabalho e o entretenimento. No entanto, em meio a tantas facilidades e distrações, um hábito fundamental parece estar se perdendo: a leitura.

Segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2019, o número de leitores no país caiu de 56% em 2015 para 52% em 2019. Isso significa que, em um país com mais de 210 milhões de habitantes, apenas cerca de 100 milhões são considerados leitores, ou seja, leram ao menos um livro nos últimos três meses.

Essa queda no hábito de leitura pode ser atribuída, em parte, à presença cada vez maior de dispositivos eletrônicos em nossas vidas. Com a facilidade de acesso a conteúdos audiovisuais, como vídeos, séries e filmes, muitas pessoas acabam optando por essas formas de entretenimento em detrimento da leitura. Afinal, por que se dar ao trabalho de ler um livro quando se pode assistir a um vídeo curto no YouTube ou “maratonar” uma série na Netflix?

Além disso, as redes sociais também têm desempenhado um papel significativo na diminuição do tempo dedicado à leitura. A necessidade constante de verificar atualizações, curtir posts e interagir com amigos virtuais acaba consumindo horas preciosas que poderiam ser dedicadas à leitura de um bom livro.

No entanto, é importante ressaltar que a leitura vai muito além do mero entretenimento. Ela é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social do indivíduo. Ao ler, ampliamos nosso vocabulário, aprimoramos nossa capacidade de compreensão e análise crítica, além de exercitarmos nossa imaginação e criatividade.

A leitura também nos permite conhecer diferentes realidades, culturas e perspectivas, ampliando nossa visão de mundo e nos tornando mais empáticos e tolerantes. Através dos livros, podemos viajar para lugares distantes, vivenciar experiências únicas e nos conectar com personagens e histórias que nos tocam profundamente.

Infelizmente, a falta do hábito de leitura pode trazer consequências negativas para a sociedade como um todo. Uma população menos leitora tende a ser menos informada, mais suscetível a notícias falsas e manipulações, e menos capaz de exercer plenamente sua cidadania. Além disso, a diminuição do interesse pela leitura pode impactar diretamente setores como a educação e a cultura, essenciais para o desenvolvimento de qualquer nação.

Diante desse cenário preocupante, é fundamental que medidas sejam tomadas para fomentar o hábito da leitura, especialmente entre as novas gerações. Escolas e educadores têm um papel crucial nesse processo, promovendo atividades que estimulem o prazer pela leitura desde a infância.

No entanto, a responsabilidade de incentivar a leitura não se limita apenas às instituições de ensino. Os pais também desempenham um papel fundamental nesse processo, e muitos já estão fazendo a sua parte. Longe de serem vilões, muitos pais têm se esforçado para criar um ambiente propício à leitura em casa e estimular o interesse dos filhos pelos livros.

Uma das estratégias mais eficazes é a leitura antes de dormir. Ao reservar um momento tranquilo para ler com os filhos, os pais não apenas fortalecem os laços afetivos, mas também demonstram a importância e o prazer da leitura. Além disso, oferecer uma variedade de opções de leitura, como quadrinhos, livros ilustrados e histórias adequadas à faixa etária, pode tornar a experiência ainda mais atrativa para as crianças.

Iniciativas como clubes de leitura, feiras de livros e encontros com autores podem ser excelentes estratégias para despertar o interesse dos jovens pela literatura. Além disso, é importante que os pais também sejam conscientizados sobre a importância de incentivar a leitura em casa, criando um ambiente propício para essa atividade e dando o exemplo ao ler na frente dos filhos. Os pais também podem incentivar a leitura ao compartilhar suas próprias experiências literárias, discutindo livros que apreciaram e trocando ideias sobre as histórias. Dessa forma, a leitura se torna uma atividade social e prazerosa, capaz de unir a família em torno de um interesse comum.

No entanto, é preciso reconhecer que existem obstáculos significativos que dificultam o acesso à leitura no Brasil. Um deles é o alto preço dos livros, que muitas vezes torna a compra de obras literárias um luxo inacessível para grande parte da população. Mesmo com as isenções fiscais oferecidas pelo governo, os livros ainda são considerados caros para muitos brasileiros.

Outro ponto crítico é a concentração de eventos literários em grandes centros, como a Bienal Internacional do Livro, que ocorre apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Essa centralização acaba limitando o acesso de pessoas de outras regiões do país a esses importantes espaços de promoção da leitura e do conhecimento.

Além disso, a falta de investimentos governamentais em bibliotecas públicas e escolares é outro fator que contribui para o declínio do hábito de leitura. Muitas bibliotecas carecem de recursos para atualizar seus acervos, oferecer atividades de incentivo à leitura e até mesmo para manter um horário de funcionamento adequado.

Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de tornar a leitura mais acessível e atrativa para a população em geral. Políticas públicas voltadas para a criação e manutenção de bibliotecas públicas, bem como a redução dos preços dos livros, podem contribuir significativamente para a democratização do acesso à leitura.

Também é fundamental que a indústria editorial se adapte aos novos tempos, investindo em formatos mais interativos e dinâmicos, como e-books e audiobooks, que possam atrair o público mais jovem e conectado. A tecnologia, nesse caso, pode ser uma aliada, e não uma inimiga, na promoção da leitura. Mas para o autor deste texto, nada como o bom e velho cheiro de papel.

Por fim, é necessário um esforço coletivo para valorizar e celebrar a leitura como um bem cultural inestimável. Campanhas de conscientização, eventos literários e a participação ativa da mídia na divulgação de livros e autores podem ajudar a resgatar o prestígio e a importância da leitura em nossa sociedade.

Não podemos permitir que a frase “ninguém mais lê” se torne uma realidade. A leitura é um direito de todos e um pilar fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática. Cabe a cada um de nós, como indivíduos e como sociedade, fazer a nossa parte para preservar e incentivar esse hábito tão valioso. E os pais, com seu exemplo, dedicação e criatividade, têm um papel essencial nessa missão.

Afinal, como dizia o escritor francês Victor Hugo, “ler é viajar sem sair do lugar”. E que possamos continuar a embarcar nessas viagens transformadoras por muitas e muitas gerações, com o apoio e o carinho daqueles que nos guiam desde os primeiros passos: nossos pais e professores. Mas caros governantes, os mesmos olhos que mantemos nos livros, também mantemos nos senhores, viu?