Este artigo faz parte da série “5o anos depois: VIVA a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS!” que a PRESSENZA está a publicar desde meados de Março 2024.
A “Revolução dos Cravos” 1974-75 trouxe aos portugueses a liberdade após 48 anos de fascismo, e às colónias portuguesas de África a independência após 500 anos de domínio imperial.

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Perguntas feitas a vários jovens portugueses, de idades compreendidas entre os 17 e os 36 anos, sobre a “Revolução dos Cravos” 1974-75 em Portugal:

  1. Qual o teu primeiro nome, a tua idade e ocupação?
  2. O que foi a Revolução dos Cravos iniciada a 25 de Abril 1974?
  3. Quantos anos durou a ditadura em Portugal antes dessa data? (resposta correta: 48 anos)
  4. Que Revolução gostarias que acontecesse hoje no nosso país?
  5. O que é para ti a Democracia?

 


  1. Daniela, 21 anos, lojista, de origem angolana (Almada)

  2. A Revolução dos Cravos foi a libertação de Portugal, resumidamente.
  3. Não, sinceramente não sei quanto tempo a ditadura durou, mudei-me para cá muito recentemente. A história que sei não é a de Portugal. Eu sou de Angola. Portugal libertou-se e libertou as colónias também.
  4. Eu acho que a imigração devia ser um pouco mais controlada. De momento não considero Portugal seguro porque têm acontecido muitas coisas que antes não aconteciam. Não vou dizer que são a maioria dos imigrantes, até porque eu também sou uma, mas as coisas estão a sair do eixo e não é isso que os imigrantes procuram. Nós procuramos o nosso bem-estar próprio, e não é isso o que tem acontecido, os imigrantes que vêm para cá pensam que podem fazer tudo e mais alguma coisa. Não há segurança nas ruas como antigamente havia, e isso tem condicionado a satisfação de muita gente, inclusive eu. Quando cheguei cá, isto não estava assim.
    (E a falta de segurança vem da parte dos imigrantes?) Eu não posso dizer que isto acontece só com imigrantes, eu acredito que, por causa de um, os outros fazem também. Eu penso que isto tem acontecido mais frequentemente porque a imigração está descontrolada.
  5. A Democracia é respeito, é respeitarem-se uns aos outros.

 


  1. Adriano, 30 anos, serviços de segurança privada, nascido na Guiné-Bissau (Almada)

  2. Eu infelizmente não assisti a esse momento, mas segundo o que ouvi dizer, foi justo a revolução popular motivada pelo sofrimento popular. Foi necessário acontecer a revolução do 25 de abril. Hoje eu posso dizer que essa revolução trouxe também uma inovação para o povo da Guiné, pois Portugal saiu daquele regime ditatorial, da escravatura. Se o povo portugues estava a sofrer, o povo guineense teve de o sentir também, pois os portugueses eram os nossos colonizadores. Nesse caso, tudo aquilo que é bom para Portugal, também é bom par a Guiné, e vice-versa.
  3. Bom, eu não consigo precisar a duração, mas penso que esse período de salazarismo pode ter durado 10 ou 20 anos, pode ter durado muito por causa do descontentamento da população.
  4. ?
  5. Para mim a democracia é a liberdade da expressão do povo, porque é o povo que manda em democracia, não são os políticos, já que é a maioria que escolhe quem é que eles querem para os governar.

 


  1. Ana, 19 anos, toma conta da sua filha (Almada)

  2. Eu não conheço muito de história para lhe ser sincera. Já ouvi falar, mas não muito, não me lembro assim de grande coisa.
  3. Não sei.
  4. Os empregos provavelmente, que é uma coisa que até os jovens hoje em dia têm dificuldade, e os pais também em dar uma boa vida aos filhos, e por isso os filhos têm que ir trabalhar, e não há condições nem meios para que isso aconteça. Habitação é a coisa mais essencial para ser mudada neste momento, as coisas não estão bem e as pessoas revoltam-se. É exatamente por isso que as coisas estão como estão em termos de drogas, por exemplo.
  5. O que é a democracia? não sei.

 


  1. Tiago, 19 anos, desempregado (Almada)

  2. Foi uma coisa boa, as pessoas deixaram de ser escravas, agora são escravas do governo porque é este que paga, mas o dinheiro só serve para pagar as contas e a renda, não sobra para mais nada. Uma pessoa trabalha o mês todo só para pagar as contas. Foi só isso que foi bom no 25 de abril, mas as pessoas acabam por continuar a ser escravas de qualquer forma.
  3. Sinceramente não sei, talvez uns 100 anos.
  4. Gostaria que os violadores fossem tratados mais a sério na prisão. Eles chegam, vão a julgamento e saem. Por exemplo, se for uma pessoa que vende droga, vai e fica presa, enquanto um violador está cá fora a fazer tudo. É uma das coisas em que Portugal está mal.
  5. Sinceramente não sei o que é a democracia.

 


  1. Ana, 24 anos, governanta (Porto Covo)

  2. Como é óbvio, só sei aquilo que aprendi em história e o que os meus antepassados me contaram. Para mim, o 25 de Abril foi o dia em que realmente tivemos liberdade de tudo: de expressão, de sair à rua, para fazermos o que realmente quiséssemos, já que antes isso não era possível. Na desigualdade de géneros, a mulher, por exemplo, não podia fazer certas coisas, e depois do 25 de Abril melhorou muito, e depois foi sempre a melhorar. Começámos a ter direito ao voto, e a outras coisas as quais antes não podíamos fazer.
  3. Não faço ideia, dei isso em História mas já não me lembro. Talvez mais que 2 ou 3 anos, mas não tenho a certeza.
  4. Eu acho que, no mundo, seria a igualdade porque muita gente fala da igualdade de gênero, mas isso ainda não acontece, nem mesmo em Portugal. Em certos cargos, a mulher recebe um salário menor que o homem. E por vezes ainda se culpam por isso, porque “o homem está aqui há mais dois meses do que eu”, e isso não faz nenhum sentido. Além disso, também acho que a questão dos casais LGBTQI+, em alguns países isso é proibido. Eu posso dizer que estou com uma pessoa do mesmo sexo, portanto não me sinto segura em ir a um país onde isso é punível com pena de morte, é impensável. Não vou poder ir a certos países só porque gosto de uma pessoa do mesmo sexo. Isso para mim é apenas indescritível.
    (E que revolução gostarias para Portugal?) Provavelmente a questão da política, pois isto está péssimo. Que fossem para o governo pessoas que não só dessem valor aos ricos, já que estes continuam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Algo que balanceasse melhor as coisas.
  5. A democracia para mim é ser livre. Ser livre para fazermos o que nós quiséssemos. Votar em quem nós quisermos, ir a um sítio porque nós queremos, ir jantar fora porque sim, para todo o lado. Ser livre.

 


  1. Tiago, 36 anos, trabalhador em museologia (Porto Covo)

  2. Eu não a presenciei porque ainda não era nascido na altura mas, por relatos de familiares próximos que passaram por todo esse processo, acho que foi algo de muito importante na democratização de Portugal, que até então, como todos sabemos, não era um país muito recomendável em termos de liberdade de expressão. Foi muito importante, até para entrarmos em convergência com a própria Europa, porque estávamos atrasados em tudo, não só em termos de índices de desenvolvimento humano, mas também numa série de outros fatores, sendo a democracia um dos mais importantes, claro. Até em termos de anafalbetismo estávamos atrasados, por isso acho que a Revolução foi importante para podermos evoluir enquanto país.
  3. Durou cerca de 40 e tal anos, se não estou em erro. Sei que, entretanto, já vivemos mais tempo em liberdade do que vivemos em ditadura, mas tenho noção que foram 40 e muitos.
  4. Essa pergunta é um pouco complicada. Eu acho que se calhar teríamos de ir à gênese do 25 de Abril e transportar agora, segundo um novo contexto, uma nova “Revolução”, de forma a podermos evoluir ainda mais, porque pessoalmente acho que não atingimos o potencial que podíamos ter atingido enquanto país, o potencial que o 25 de Abril tinha permitido atingir por uma série de fatores. Acho que podíamos estar ainda mais desenvolvidos e ter menos problemas sociais, e que devíamos ir buscar uma nova inspiração para podermos revolucionar o contexto atual.
  5. Democracia é sobretudo poder dizer aquilo que eu penso, poder exprimir-me da maneira que eu quiser, sem ter ninguém a julgar-me ou a perseguir-me por isso, e poder seguir as minhas convicções livremente.

 


  1. Inês, 33 anos, trabalhadora no serviço educativo dum museu (Porto Covo)

  2. Eu acho que o 25 de Abril foi uma Revolução em que, de repente, se acreditou em muita coisa e se achou que se iria conseguir muita coisa, mas em que, passado algum tempo, as pessoas se aperceberam que tinham conquistado uma democracia, mas não tinham conquistado tudo. Há 50 anos, segundo os dados que eu tenho da minha família, os meus pais dizem que foi algo de superimportante, mas já os meus avós dizem que nada mudou. Acho que isso também depende do contexto geográfico, já que os meus avós viviam no interior do país e efetivamente o 25 de abril não chegou a todo o lado. Houve terras no interior do país em que, após 25 de abril, continuou tudo um bocadinho igual durante algum tempo.
    (E o que é que mudou?)  Como mulher, mudou muita coisa. De repente tivemos acesso a milhares de coisas que antes não tínhamos, apesar de muitas leis demorarem muito tempo, mas acho que se conquistou um bocadinho de mais igualdade entre homens e mulheres. Mudou brutalmente o acesso à educação, e houve uma tentativa de se ter uma educação que chegasse a todo o país, já que a taxa de analfabetismo era bastante elevada. Acho que durante uns tempos havia uma expetativa que qualquer pessoa podia estudar, podia criar e conquistar a sua vida de uma forma mais justa que anteriormente, mas acho que isso se perdeu nos últimos anos.
  3. 48 anos, eu sei por causa de um filme da Susana Sousa Dias chamado 48 e que fala da duração deste período.
  4. Eu acho que gostaria de uma Revolução da meritocracia, no sentido do indivíduo ter a capacidade de, durante a sua formação, recolher as ferramentas necessárias para conseguir, no final, ajudar o país e também ajudar-se a si próprio. Acho que estamos numa fase em que, se a democracia significar igualdade de direitos, esta igualdade é um bocadinho estranha: Se pensarmos na pobreza que estamos a atingir no nosso país, ela está a começar a chegar a graus próximos dos tempos da ditadura, que foi marcada pela pobreza extrema. A maior parte das pessoas já não vê o país como uma alternativa e pensa em sair, portanto algumas coisas estão a ficar semelhantes com o antigamente.
  5. Eu diria que é um Estado democrático igualitário, no sentido que reconhece as diferenças e as necessidade de todos, e que permite a todos participarem no Estado de igual forma.

 


  1. Diogo, 17 anos, estudante do secundário 11º ano (Costa da Caparica)

  2. Andávamos a ser governados pelo Salazar, que impunha várias regras, como a censura, não deixava as pessoas sair de casa nem falar nada sobre o que se passava, e a população revoltou-se contra isso. Voltámos a ter a nossa liberdade para podermos dizer o que queremos sem ninguém nos censurar.
  3. Não exatamente, mas mais de 2 anos foi de certeza.  Já não me recordo.
  4. O fim da corrupção.
  5. É um lugar onde as pessoas podem expressar a sua opinião, podem fazer o que querem, dentro da lei obviamente, e podem escolher como é que o nosso país é governado e não ter alguém a fazer isso para nós.

 


  1. Nuno, 34 anos, gestor de projetos bancários (Costa da Caparica)

  2. Bem, para mim, apesar de não o ter vivido, foi a transição daquilo que era uma época sem liberdade para o povo começar a viver em liberdade como deve ser feito. A dizer o que se pensa, e onde existe a possibilidade de se ser feliz.
  3. Não sei precisar os valores, mas talvez 40 anos.
  4. Não sei. Portugal apesar de ter as dificuldades que tem, ainda faz o seu caminho de liberdade e também há algum apoio do estado quando necessário. Acho que chega de revoluções. Precisamos de continuar a nossa vida.
  5. Democracia é podermos, de forma informada, escolher os nossos líderes e eles trabalharem para nós, ao invés de nós trabalharmos para eles.

 


Com a colaboração de Carolina Gomes