CINEMA

Por Júnia Azevedo

 

Primeiro longa documental brasileiro sobre o movimento ballroom é selecionado para o Festival Internacional de Documentários de Copenhague – CPH:DOX, na Dinamarca.

Dirigido por Juru e Vitã, com produção da Couro de Rato, “Salão de Baile” (This is Ballroom) fala da cena voguing no Rio de Janeiro, protagonizada por pessoas pretas LGBTQIAPN+.

 Primeiro longa-metragem documental sobre a cena ballroom no Rio de Janeiro, “Salão de Baile” (This is Ballroom) foi selecionado para o Festival Internacional de Documentários de Copenhague – CPH:DOX, na Dinamarca. O filme é um mergulho no universo efervescente de uma comunidade preta LGBTQIAPN+ fluminense, que segue a trilha da cultura ballroom criada na década de 60, em Nova York. O projeto foi realizado com patrocínio do 2º Edital de Fomento ao Audiovisual da Prefeitura de Niterói – FAN – Fundação de Arte de Niterói e da RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro. As exibições no festival CPH:DOX acontecem nos dias 14, 15, 19 e 23 de março, em Copenhague, na Dinamarca.

No filme acompanhamos uma “ball” (baile) da cena fluminense, onde pessoas negras e/ou LGBTQIAPN+ têm a liberdade para experimentar novas possibilidades de expressão de identidade, de gênero e potenciais artísticos, através dos movimentos de seus corpos. Várias modalidades de competição acontecem ao longo da noite: moda, beleza, dança, música, desfile… “A ballroom é um lugar de potencialização desses corpos dissidentes, um espaço criado por e para pessoas trans e pretas, especialmente, poderem resistir às opressões e celebrar suas existências”, explica Juru, que assina a direção do projeto em parceria com Vitã.

Tanto Juru como Vitã fazem parte da cena ballroom no Rio de Janeiro, assim como a maioria da equipe do longa. “Mais do que um filme sobre a cena ballroom, nós fizemos um filme com a comunidade ballroom. Queremos proporcionar ao espectador uma experiência de imersão no universo, com o nosso olhar ‘de dentro’”, explica Vitã. “A cena ballroom é talvez a mais radical e mais interessante do underground fluminense. Em termos de força, de enfrentamento, de expressividade, de cultura, de movimentar os subterrâneos da cidade, não tem nada que chegue aos pés dela”, afirma Luis Carlos de Alencar, da Couro de Rato.

Outro foco do filme é a rede de apoio estabelecida entre os participantes, que se agrupam em diferentes “houses” (casas), que atuam como famílias alternativas. O documentário conta também a história do movimento. Num exercício de fabulação, artistas brasileiras da cena contemporânea encenam personagens históricas da ballroom norte-americana, como Crystal LaBeija, uma das fundadoras do movimento. A trilha sonora original é outro ponto forte de “Salão de Baile”, tanto que o filme foi selecionado para a categoria “Sound & Vision”, voltada para obras que exploram a linguagem musical. As músicas foram compostas especialmente para o filme pelos DJs b o u t  e EVEHIVE, que misturaram ritmos brasileiros como o funk e um toque de capoeira às batidas de house típicas da cena ballroom internacional.

 

 

 SOBRE O CPH:DOX

O Festival Internacional de Documentários de Copenhague ou CPH:DOX é um evento anual de cinema documental, realizado desde 2003 em Copenhague, Dinamarca. É um dos mais importantes festivais europeus de documentários. O tema deste ano é “Body Politics”. Nessa 21a edição foram selecionados apenas dois filmes brasileiros. Além de “Salão de Baile” (This is Ballroom), entra na mostra também o longa Eros, de Rachel Daisy Ellis.

SOBRE VITÃ (roteirista e diretora)

Mestra em Cinema e Audiovisual pelo PPGCOM-UFF, coordena o núcleo de criação Ritornelo e a revista de crítica Moventes. Em atividade no mercado audiovisual há 15 anos, trabalhou em projetos para Globoplay, Globosat+, Arte 1, CineBrasilTV e Multishow. Roteirista da série “Enredos da Liberdade – O Grito do Samba pela Democracia” (2024, Globoplay, produção Couro de Rato). Foi produtora e assistente de direção do longa “Não é a primeira vez que lutamos pelo nosso amor”, que retrata a militância LGBT no período da ditadura militar brasileira (2022, produção Couro de Rato; Menção Honrosa do Prêmio Félix, Festival do Rio; Prêmio Especial do Júri no Rio LGBTQIA+). Roteirista e diretora geral da série musical “Trago a Pessoa Amada” (canal Prime Box, produção Orla Filmes), gravada em Fortaleza, com o cantor Getúlio Abelha no elenco, em fase de finalização, com previsão de lançamento para 2024. Co-Criadora e co-diretora da série em desenvolvimento “Teia”, protagonizada por Bruna Trindade (produção da Urca Filmes). Na cena ballroom, atua como fotógrafe independente e participa da Legendary House of Lauren Intl.

 SOBRE JURU (roteirista e diretor)

Artista-pesquisador das artes do corpo, com trabalhos nas áreas da performance, dança e cinema. Desenvolve pesquisas sobre dramaturgia do corpo, cena expandida e o corpo queer/cuir na cena contemporânea, performatividade de gênero, sociabilidade, afetos e a cena ballroom e o voguing no Rio de Janeiro. É mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense (2016), e atualmente é doutorando em Artes na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Fez preparação de elenco do longa-metragem “Com o Terceiro Olho na Terra da Profanação”, de Catu Rizo (2017, Mostra do Filme Livre); e do curta-metragem “Ocaso”, de Bruno Roger (2014, Mix Brasil); além de ter trabalhado como produtor assistente no longa “Canto dos Ossos”, de Petrus de Bairros e Jorge Polo (2020, prêmio de melhor filme no Festival de Tiradentes). Dramaturgista no espetáculo “Repertório n. 1”, de Davi Pontes e Wallace Ferreira. 

 SOBRE A COURO DE RATO (produção)

A produtora Couro de Rato foi criada em 2015 por Vladimir Seixas e Luis Carlos de Alencar, com uma passagem no Emmy Internacional em 2019 com o documentário ‘A Primeira Pedra’. Entre as produções estão séries, telefilmes e longas exibidos em importantes canais nacionais e internacionais – Globoplay, ESPN, ZDF, Canal Futura, Canal Brasil, Canal Saúde, CinebrasilTV, entre outros. Entre os trabalhos mais recentes, destacam-se Enredos da Liberdade – O Grito do Samba pela Democracia (2024) – Original Globoplay; Yãmî Yah-Pá – Fim da Noite (2023) – Kikito de Melhor Trilha Sonora no Festival de Gramado; Não é a primeira vez que lutamos pelo nosso amor (2022) – Menção Honrosa do Prêmio Félix, Festival do Rio; Prêmio Especial do Júri no Festival Rio LGBTQIA+. Rolê – Histórias dos Rolezinhos (2021) – prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio, Prêmio Especial do Júri no Olhar de Cinema (Curitiba).

 SOBRE A CENA BALLROOM

A Cultura Ballroom — em inglês, “salão de baile” — é uma cultura de pessoas LGBTQ+ não brancas que passaram a resistir às constantes violências que sofriam, organizando bailes performáticos.  A comunidade surge nos EUA a partir dos concursos de beleza drag. Na década de 60, uma queen preta chamada Crystal LaBeija se insurge contra a hegemonia das queens brancas. Em 1972, ela e uma amiga criam um evento só para queens pretas, o Primeiro Baile Anual da Casa de LaBeija, fundando tanto o primeiro baile como a primeira “house”. As houses eram espaços físicos e/ou simbólicos liderados por uma “mãe” ou um “pai” que acolhiam e forneciam cuidados para jovens negros e latinos da comunidade LGBTQIA+ que viviam em situação de vulnerabilidade ou haviam sido expulsas(os) de casa. Ao longo do tempo, os concursos vão sendo ocupados por diversas identidades de gênero: travestis, mulheres trans, homens gays cis, mulheres cis de forma geral. Criam-se outras modalidades além de concursos de beleza e moda. Dentro desse conceito, surge também um estilo de dança, o voguing. Alguns produtos audiovisuais que incluem elementos da cultura ballroom são: “Vogue”, de Madonna; “Paris is Burning”, de Jennie Livingston; e as séries “Pose” e “Legendary”. Em 2015, surgem as duas primeiras casas ballroom no Rio de Janeiro e a cena começa a se organizar, incentivada pelas mídias digitais e redes sociais. São dois os pilares da cultura ballroom: o baile e a família. Em 2016 acontece a primeira “ball”. Atualmente, quase toda semana tem um baile acontecendo em algum lugar do país.

COLETIVOS QUE PARTICIPAM DO FILME

House of Alafia, House of Blyndex, House of Bushidö, House of Cabal, The Royal Pioneer Kiki House of Cazul, Casa de Cosmos, Casa de Dandara, Casa dy Fokatruá, House of Império, Casa de Lafond, House of Mamba Negra, House of Raabe, e 007 (são chamadas de 007 as pessoas que não fazem parte de nenhuma casa)

FICHA TÉCNICA
Filme realizado com patrocínio do 2º Edital de Fomento ao Audiovisual da Prefeitura de Niterói – FAN – Fundação de Arte de Niteroi e da RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio
Direção: Juru, Vitã
Ass. Direção: Azch, Cuxe
Produção: Luis Carlos de Alencar, Vladimir Seixas
Produção Executiva: Camilla Ribeiro
Direção de Produção: Thais Matos, Isabel Veiga
Direção de Fotografia: Paula Monte, Suelen Menezes
Direção de Arte: Gah, Germanetto, Mother Idra Mamba Negra
Som direto: Pedro Moraes, Priscila Alves, Tomaz Griva Viterbo, Vitor Kruter
Montagem: Peterkino
Laboratório Digital: Yellow Pós
Edição de som e Mixagem: Thiago Sobral
Trilha Sonora: Globalkunt
Prod. Associadas: Feever Filmes, Júnia Matsuura, Peterkino e Ritornelo Criações
Ass. Produção: Felipe Fernandes, Lucas Andrade e Mavi Candace
Ass. Prod. Executiva: Áfaiyà Letícia e Julia Sarraf
Gaffer: Big Joe
Still: Bruna Trindade, Paula Monte, Peterkino
Coordenação De Pós-Produção: Tao Burity
Design: Victória Servilhano
Color Grading: Glauco Guigon
Gênero: Documentário
Duração: 94 min.
Página do filme no site do festival: https://cphdox.dk/film/this-is-ballroom/

Ball “Do Outro Lado da Ponte” (realização: House of Alafia; Hostess e Chant: Pioneer Overall Mother Rothyer 007; Consultoria e MC: Statement Buth Cazul 007; Chant: Preta Queenb Rull Mamba Negra; DJ: Star Pambelli Cazul; Jurades: Legendary Overall Princess Wallandra Cazul, Legendary Mother Ayo Ewa, Legendary Overall Mother Makayla Império, Legendary Overall Father Luky Império)

 ASSESSORIA DE IMPRENSA

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