CULTURA
Por Marrom Glacê
Celebrando a consciência negra e reverberando através do som dos tambores a busca pelo fim da intolerância religiosa e do racismo, evento gratuito promovido pela UNICA reúne programação cultural vasta com shows, filme, palestras, artesanato, gastronomia e oficinas.
No último fim de semana de novembro, mês da consciência negra, o som do tambor ancestral será ouvido ainda com mais força na Pequena África, na Gamboa. A região, uma das mais importantes e simbólicas para a população negra e para os povos de terreiro, como são chamados os adeptos das religiões de matriz africana, receberá o 1º Encontro Nacional de Povos de Terreiro – O grito dos tambores ancestrais, evento totalmente gratuito que acontece nos dias 24, 25 e 26 de novembro. Toda programação acontecerá em dois espaços: o CCU – Centro Cultural da UNICA (União Umbandista, Luz, Caridade e Amor) e o Sacadura 154. O evento acontece por meio do Edital CALENDÁRIO CULTURAL – ZONAS DE CULTURA FESTIVAIS, na Zona de Cultura Porto e Pequena África, e tem patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Zonas de Cultura, com cogestão da Fetaerj.
Entre as principais atrações estão shows, rodas de conversa, palestras, oficinas, feira de artesanato, gastronomia, dentre outras atividades. A sexta-feira abre com a exibição do filme “Porto da Pequena África” de Cláudia Mattos. Na sequência virão palestras sobre Curimbó, Comidas de Santo e sobre a Consciência Negra, fechando o dia com um Xirê de Candomblé. No sábado, oficinas de Vivência Fotográfica e Vivência Teatral abrem a programação, que conta ainda com rodas de conversa, apresentação dos artistas indígenas Washme Kamãnawa e Yawashahu, o Festival de Curimba, show do Tambores de Olokum e um cortejo da Cia de Mysterios e Novidades. No domingo, dia do encerramento, são destaques os shows do Awurê Mirim e do Samba Que Elas Querem, com participação de Rita Benneditto.
Nascido através de uma inspiração de Mãe Sara Pinheiro, dirigente da UNICA, a ideia do projeto parte do tambor, instrumento ancestral e considerado um dos primeiros meios de comunicação da humanidade. “E ele continua comunicando e sendo um elo com a nossa ancestralidade. Acordei com tudo formado na cabeça, tenho ideias de encontros o tempo todo. Realizar um evento como este é uma maneira de enfrentar o racismo, a intolerância religiosa, de movimentar e dar visibilidade às nossas causas e à cultura do nosso sagrado. Então, o evento surge dessa necessidade de integrar os povos de terreiro de várias matrizes e através do que há em comum: os tambores”, sintetiza Mãe Sara, que organizou a programação junto a Leandro Bacellar e Ramon Alcântara, produtores do Encontro.
Ressoando mundo afora há milênios, o tambor será contemplado, dentro do evento, em sua diversidade. “Nossa programação procurou inserir uma diversidade de tambores e de musicalidades a partir do instrumento ancestral que une todas essas matrizes. Temos na programação terreiros e identidades de várias matrizes: temos Indígenas, Tambor de Mina, terreiros de Umbanda e Candomblé e o Festival de Curimba, que teve as inscrições divulgadas para qualquer terreiro que estivesse disposto a apresentar seus pontos, sem distinção e com inscrição gratuita”, atesta Leandro Bacellar, reiterando a abrangência do evento.
Embora o argumento central seja um encontro para os povos de terreiro, o evento foi pensado para o público em geral, então pessoas de todas os credos e religiões são bem-vindas. “Nosso evento é horizontal e com acesso gratuito, é assim que debateremos a intolerância religiosa e o racismo. É com a convivência, a reflexão, o debate e a promoção da cultura, e ainda a inserção do povo preto no calendário da cidade que poderemos avançar nessa direção. Estamos instalados no coração do Centro do Rio de Janeiro, diante do Cais do Valongo, no coração da Pequena África. O encontro de povos de terreiro precisa chegar a todos, que serão bem acolhidos. Ofereceremos ao público uma pequena amostra do que é o tambor em sua potência, o tambor comunicando os sagrados de matrizes afro-ameríndia, trazendo alegria e festa”, comemora Ramon Alcântara.
Apesar de ser o primeiro evento cultural oficial da UNICA, o centro cultural da UNICA já realiza há sete anos um movimento independente de atividades culturais no local. “A UNICA é uma associação religiosa e cultural sem fins lucrativos e mantém, além das giras de Umbanda, ações que procuram impacto e desenvolvimento social, humano e cultural. Fazemos captação de alimentos perecíveis e doação de cestas básicas para famílias em vulnerabilidade alimentar. Oferecemos atendimento jurídico e psicológico, cursos de teatro, violão, atabaque, jiu-jitsu, canto, capelania civil. Temos o Centro de Cultura Única, com venda de produtos artesanais, bazar de livros e de roupas, além de palestras, oficinas e atividades culturais, como shows, peças de teatro e eventos com temática de terreiro”, considera Leandro.
Cada vez mais presente no calendário nacional, a celebração pelo 20 de novembro ao longo do mês em virtude do Dia da Consciência Negra é o motivo do evento. “Com sangue preto se formaram as cidades, então exaltamos e celebramos os que vieram antes, pois graças a eles estamos aqui. Hoje conseguimos alguma voz para bradar pelos espaços e pelo direito de exercer a nossa espiritualidade, a nossa identidade, nossa força ancestral. É imprescindível que todos possam entender as nossas cantigas, danças e expressão. E o tambor é capaz disso, é comunicação ancestral. Esta data é um marco, ela nos ajuda com o nosso compromisso pela luta e pela resistência, mas a consciência negra deve ser diária”, finaliza Mãe Sara.
SERVIÇO:
Entrada Gratuita
Endereços dos Espaços:
Atividades Formativas: Centro Cultura Única – Rua Sacadura Cabral, 109 – Saúde
Atividades Culturais: Sacadura 154 – Rua Sacadura Cabral, 154 – Saúde
PROGRAMAÇÃO
SEXTA – 24 DE NOVEMBRO
12h às 13h30 – CCU – Exibição do Filme “Porto da Pequena África”, de Cláudia Mattos (90 minutos – 2014)
14h às 15h30 – CCU – Palestra – “Curimbó – A Música Sagrada da Floresta” com André Nascimento
16h às 17h30 – CCU – Palestra – “Comidas de Santo: Da Cozinha sagrada à mesa contemporânea” – Tradições e releituras com a Chef Leila Leão
18h às 19h30 – CCU – Palestra – “Consciência Negra” com Willian Reis
20h às 21h30 – CCU – Xirê de Candomblé – Ilê Omon Iyá Adê Omin
SÁBADO – 25 de NOVEMBRO
9h às 11h – CCU – Vivência Fotográfica: Ampliando o Olhar – Com Camila Guimarães – A partir de 14 anos
9h às 11h – CCU – Vivência Teatral: A corporalidade cênica e os tambores – Com Nívia Terra – Grupo Teatro Empório – A partir de 14 anos
11h – Concentração no Cais do Valongo – Cortejo – Cia de Mysterios e Novidades
13h às 14h30 – SACADURA 154 – Roda de Conversa: “Todos os Tambores, a ancestralidade e a tradição” – Com André Nascimento (UNICA – União Umbandista Luz, Caridade E Amor) – Dr. H.C. Pai Antônio Inácio (Tenda Espírita Cabocla Mariana), Pai Caio Bayma (Tenda De Umbanda Falangeiros De Luanda) – Letícia Ventania.
15h – SACADURA 154 – Festival de Curimba
19h30 – SACADURA 154 – Show – Atabloco
20h30 – SACADURA 154 – Show – Tambores de Olokum
DOMINGO – 26 de NOVEMBRO
9h às 12h – CCU – VIVÊNCIA – “Só para falar das folhas” – Com Armazém Cultural das Artes – Emily Pirmez, Simone Melo e Marta Garcia. A partir de 07 anos.
9h às 11h – CCU – VIVÊNCIA – “Teatro é ancestral” – Grupo Teatro Empório – Nívia Terra – A partir de 14 anos.
13h às 14h30 – SACADURA 154 – Roda de Conversa – Sustentabilidade e a prática ritualística de terreiro. Com Sara Pinheiro (Única, União Umbandista, Luz Caridade e Amor) e Babalorixá Rodrigo Carneiro (Instituto Terreiro Sustentável)
14h30 – SACADURA 154 – Show – Tambores de Ayan
15h30 – SACADURA 154 – Apresentação – Washme Kamãnawa e Yawashahu (Etnias Noke Koi e Yawanawá)
16h30 – SACADURA 154 – Apresentação – Cia de Dança Afro Bamboyá em “Cabaça Akulo-Cabaça ancestral”
17h30 – SACADURA 154 – Apresentação – Awuré Mirim – Ilê Asé D’Oluaiyè Ni Oyá
18h30 – SACADURA 154 – Show – André Nascimento e Os Encantados
20h – SACADURA 154 – Show – Samba Que Elas Querem com Participação de Rita Benneditto