Montero de Burgos, o criador do conceito de “empresa humanista”, completaria 99 anos a 7/9/2023
O investigador e engenheiro humanista José Luis Montero de Burgos (1924-1998) chegou e partiu deste mundo na mesma data do calendário: a 7 de Setembro. Para além de inovar no domínio da sua especialidade, a silvicultura, trabalhou como professor de ciências humanas e estudou em profundidade o problema social da relação capital/trabalho, abordando-o numa perspetiva científica.
Chocado com os motins de Maio de 68, estudou o problema desta relação, centrando-se particularmente na conceção da empresa atual, à qual atribui múltiplas deficiências desde o início, e questionando as questões do risco, da propriedade, da participação nos lucros, da democracia interna na empresa, etc.
As suas pesquisas e investigações neste domínio levaram-no a criar um novo modelo de empresa, a que chamou “empresa integrada” ou “empresa humanista“.
Para fundamentar a sua construção, Montero de Burgos analisa o conceito de “propriedade” típico da civilização atual, rejeitando o poder das coisas, o que leva a que as pessoas tenham poder sobre outras pessoas.
Se se aceitar que as coisas não podem ser fontes de poder sobre as pessoas, o poder corporativo, tal como é concebido atualmente, perde o seu fundamento. É, pois, necessário encontrar outra base que permita a livre criação de empresas.
O que emerge da investigação de Montero de Burgos sobre este tema é a hipótese de que o poder se baseia no risco. Neste caso, no risco empresarial dos membros da empresa.
Este risco não é apenas incorrido por aqueles que contribuem com capital, no caso de o seu investimento não resultar, mas também pelo trabalhador, que perde muito se a empresa falhar. Ele perde não só a estabilidade no emprego, mas também a estabilidade social e moral. Assim, argumenta o investigador:
“O trabalhador corre também um risco empresarial e tem, portanto, o direito de o gerir sozinho, devido às suas próprias circunstâncias humanas, e sem necessidade de comprar ações da empresa, como acontece atualmente, para justificar o seu poder“.
Assim, democratizar a empresa é um imperativo, que leva a repensar as relações entre o capital e o trabalho, no sentido em que os trabalhadores devem ter poder na empresa. “E isto não é demagogia, nem é uma defesa total dos trabalhadores: é apenas uma exigência de estabilidade social e de desenvolvimento económico. O bem comum, em suma.”
Contrariamente à proposta estática atual, segundo a qual a propriedade permanece eternamente nas mãos do seu proprietário, Montero de Burgos aponta a necessidade de a tornar mais dinâmica, transferindo e distribuindo progressivamente o poder de decisão do capital inicial para os trabalhadores, cujo risco, com o passar dos anos, se torna maior. Assim, salienta:
“Propor uma evolução da propriedade, que a terra, que a empresa… tenda a pertencer a quem nela trabalha, e que isso seja feito num prazo razoável, não é apenas uma concessão aos trabalhadores, não é uma utopia, mas uma exigência no que respeita à redistribuição da riqueza e à própria estabilidade social“.
Quanto às diferenças em relação aos modelos atuais, o académico salienta que:
“A empresa de autogestão é uma utopia económica: espera receber recursos de capital, sem dar qualquer poder aos investidores. Daí as suas dificuldades de financiamento”.
“Por outro lado, a empresa privada é uma utopia social: espera que os trabalhadores mantenham o seu desejo inicial de cooperar, presente quando acabam de obter um emprego. Mas estes desejos perdem-se ao fim de alguns meses“.
“Entre as duas utopias“, sublinha, “existe uma evolução ótima, aquela que consegue a maior integração entre capital e trabalho e que é, portanto, a mais produtiva“.
“Todas as empresas evolutivas são empresas-sociedade ou empresas humanistas. Mas esta empresa ótima seria bem descrita como “integrada“.
Com base nestes conceitos, Montero de Burgos desenvolveu os pormenores da sua teoria em artigos e monografias e, a partir dos anos 90, começou a dar conferências e seminários que inspiraram várias experiências sociais.
Entre os seus ensaios destacam-se: “Nova Fronteira Empresarial”, que apresentou no Simpósio Internacional de Moscovo (8, 9 e 10 de Outubro de 1993), “Bases de uma Economia Humanista”, na Universidad del Claustro de Sor Juana, na Cidade do México (7 e 8 de Janeiro de 1994) e “Humanismo em Economia”, na Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), em Madrid (8, 9 e 10 de Julho de 1997).
Os criadores do canal “Buenas Ideas que quizás no conozcas” (“Boas ideias que talvez não conheças”) realizaram um vídeo sobre Montero de Burgos e as suas principais ideias:
Neste vídeo podem-se ver fragmentos da sua apresentação em 1994 no México: Bases de una Economía Humanista
Aqui está uma explicação mais ampla e sistemática: J. L. Montero de Burgos. El humanismo en economía
Para contatar o grupo que difunde as ideas sobre economia de Montero de Burgos: tierraunidatierradetodos@gmail.com
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