O apoio internacional deve se concentrar no fortalecimento dos setores mais moderados em Israel e na Palestina, a fim de retirar todos os colonos israelenses da Cisjordânia, acabar com a limpeza étnica existente e retornar à partição original de 1948.

Por: Andrés Kogan Valderrama*

O brutal ataque do Hamas há alguns dias e a feroz resposta do Estado de Israel contra os habitantes da Faixa de Gaza não só devem ser condenados energicamente, mas também vistos como parte de um processo histórico de negação do povo judeu e palestino, com consequente fanatismo ideológico extremo que fez com que noções como defesa e resistência fossem usadas para justificar as piores aberrações contra milhares de seres humanos.

Levanto essa questão devido à lamentável reação tanto de setores de direita como de esquerda no mundo que, em vez de exigir o fim da violência agora mesmo, tentam impor um olhar indiferente, demonstrando total desinteresse pelos direitos humanos e pela construção de pontes que permitam a ansiada paz naquele território em disputa.

É assim que, por um lado, estão aqueles que defendem a ideia de que os judeus têm o direito de se defender de qualquer maneira diante da agressão externa, sem levar em consideração o caráter colonial do Estado de Israel historicamente, que vem violando por décadas o direito internacional por meio da ocupação ilegal de terras palestinas e de um sistema racista de apartheid, que nega a humanidade dos palestinos e nos recorda experiências repudiáveis e inaceitáveis realizadas em países como Alemanha e África do Sul.

Mas, por outro lado, há aqueles que relativizam o massacre contra civis realizado por um grupo criminoso como o Hamas, com uma ideia de resistência baseada na negação do povo judeu também. Não lhe importa o sofrimento de seres humanos e muito menos a possibilidade de acordos que permitam que judeus e palestinos possam conviver pacificamente.

Assim, como filho e descendente de judeus, sinto muita vergonha de ver pessoas de diferentes lados do mundo que celebram ou omitem tanto as ações criminosas do Estado de Israel como o realizado pelo Hamas, pois percebo que difamam dois povos que têm o direito de existir, de viver sem medo e de maneira pacífica.

Com isto, não tento em nenhum momento ter uma postura neutra do conflito, muito pelo contrário. Tento denunciar quem preferem usar a guerra e o genocídio, em vez da política, para resolver um cenário que parece cada vez mais distante de ter uma saída,  dominado por setores fanáticos nacionalistas e religiosos israelenses e palestinos, que se alimentam e se fortalecem com a guerra e a morte de seres humanos.

Sendo assim, não se pode permitir mais que a ideia de defesa seja usada para justificar o colonialismo israelense, a islamofobia e a negação do povo palestino. Da mesma maneira, também não usar a crítica ao sionismo para justificar a negação do povo judeu, como se vê em reiteradas ocasiões por parte de setores que parecem gostar de rejeitar a dignidade do outro, em vez de buscar uma saída diferente e sustentável.

Nesse sentido, é uma brutalidade o que a ultradireita israelense está fazendo, ao não ceder em sua política colonialista de assentamentos na Cisjordânia, assim como a resposta criminosa do Hamas, apoiado pelo Estado do Irã, que destrói a esperança de dois povos que têm muito mais coisas que os unem do que os dividem.

Para que, então, falar do inferno que vivem os palestinos em Gaza, completamente isolados em um grande campo de concentração aberto, tendo que lidar com os bombardeios do Estado de Israel e as perseguições do Hamas, a quem pouco importa matar judeus ou palestinos, contanto que sigam com seus propósitos ideológicos, que só beneficiam a um pequeno grupo no poder.

Diante dessa situação, o apoio internacional deve estar centrado em fortalecer os setores mais moderados em Israel e na Palestina, de maneira a retirar todos os colonos israelenses na Cisjordânia e pôr fim à limpeza étnica existente, para conseguir voltar à partição original de 1948, com fronteiras seguras mas também com reconhecimento do outro como um igual.

Só assim Netanyahu e a ultradireita Israelense perderão força, assim como o Hamas, fortalecendo desse modo setores progressistas israelenses, como também o Fatah e a Autoridade Nacional Palestina, que continuam muito enfraquecidos e devem ter um papel fundamental para um novo caminho pela paz e contra qualquer tipo de negacionismo.

No entanto, para conseguir isso, é preciso primeiro reformar e democratizar o Conselho de Segurança das Nações Unidas, para que, de uma vez por todas, sejam eliminados os vetos das grandes potências patriarcais, como Estados Unidos, Rússia e China, e assim percam o poder de fazer o que lhes dá a vontade com o direito internacional e o que acontece no planeta.


( * ) Andrés Kogan Valderrama é sociólogo, especialista em Educação para o Desenvolvimento Sustentável, mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea e profissional da municipalidade de Ñuñoa, bairro de Santiago do Chile. Membro do Comitê Científico da Revista Iberoamérica Social e diretor do Observatório Plurinacional de águas www.oplas.org.

 

Traduzido do espanhol por Graça Pinheiro