MÚSICA
Por Renan Simões
Amanheceremos (1979), de Jaime Alem e Nair de Cândia, é um feito sem igual. Não é todo dia que encontramos um álbum tão superior quanto esse, em relação a composições, arranjos, letras, conceito, título, arte e formato. Jaime Alem assina onze composições (e uma parceria) e os arranjos de onze das doze músicas. As letras são altamente politizadas, porém com um sublime verniz poético. Para finalizar, o álbum foi lançado em um formato não usual: um LP tradicional de 12” adicionado de um compacto de 7”.
Tesouros de Cezar possui um arranjo impecável, e demonstra o poder de Jaime e Nair como intérpretes vocais. As coisas se intensificam na igualmente extraordinária faixa-título, onde Luiz Gonzaga Jr. se junta à dupla para engrandecer ainda mais o registro. O potencial artístico de Nair de Cândia chega ao ápice nos solos de Didática e Olho de vidro; o mesmo em relação a Jaime Alem em Recriação, com surpreendente acompanhamento ao piano de Jota Moraes.
A quase gaúcha O verbo querer e o choro sertanejo de Jacupiranga são agradáveis, mas não geniais; Santo falso é absolutamente original e atemporal; Passará é um feliz diálogo entre tradição e renovação, onde os dois extremos se apresentam de forma bem patente. O canto dos homens, com sua levada firme e dramática melodia, finaliza o LP de 12” de forma reluzente, e prepara terreno para mais duas surpresas, presentes no compacto de 7”, que também integra o álbum. A primeira, Cinzel de ouro, uma rica modernização do samba; e a segunda, Matos e minas, com um quê de melodia infantil que ecoa ao longo de um intrincado porém sempre acessível percurso melódico.
Jaime Alem e Nair de Cândia, Amanheceremos, a glória da canção brasileira! Ouça, desfrute, reflita, repasse: