MÚSICA

Por Renan Simões

 

A abertura é gloriosa: Universo no teu corpo inicia com um baque sinfônico, e desemboca em uma canção de amor arrebatadora, com levada rítmica irresistível. Esta é apenas uma das sete composições assinadas pelo artista em Viagem (1970); Taiguara se firma, aqui, como grande compositor. Maestro Gaya foi responsável pelos arranjos de quase todas as faixas, que contam com a participação de excelentes músicos.

Maria do futuro apresenta uma declaração ainda mais alucinada que a da primeira faixa, é igualmente genial, e contrasta com a mais tradicional (mas não menos emocionante) Prelúdio nº 2 (paz do meu amor), de Luiz Vieira. Esta faixa apresenta uma guitarra meio descuidada, presente em quase todo o registro; entretanto, é essa guitarra que será o grande charme da faixa-título, outro inspiradíssimo destaque do álbum. A trajetória é tão envolvente, que é impossível não se arrepiar com a beleza da quase-instrumental A transa, com declamação-ao-pé-do-ouvido sedutora e sexualmente conotativa em sua seção final.

Geração 70 e Em algum lugar do mundo contam com a presença do Som Imaginário e arranjos de Leonardo Bruno, parcerias que enriquecem grandemente o registro, ainda que pareçam meio descuidadas quanto ao acabamento. O velho e o novo não funciona bem: esta tentativa de fazer algo emocionante, com participação do super competente Ubirajara Silva, pai de Taiguara, ao bandoneón, se transforma em algo desnecessariamente meloso e chato. Dia 5 (de Ruy Maurity e José Jorge) é a porção assombrada do álbum, com cordas friccionadas estáticas e melodias e vocalizações dramáticas. A famosíssima Gente humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque) é outra felicíssima realização mais tradicional no contexto, aqui em singela interpretação de Taiguara. Este registro extraordinário finaliza com a curta instrumental Tema de Eva, perfeição em formato de pílula sonora.

Taiguara, Viagem, um compêndio de canções eternas! Ouça, desfrute, reflita, repasse: