Era a quarta vez que o tentava e finalmente havia conseguido: a 4 de Setembro de 1970, o socialista Salvador Allende Gossens, candidato da coaligação de seis partidos que integravam a Unidade Popular (UP), com 36,2% dos votos obtinha a maioria e ganhava as eleições presidenciais no Chile.

Havia derrotado por uma exígua margem de pouco mais de 36 mil votos o ex-presidente direitista Jorge Alessandri Rodríguez, que apoiado pela oligarquia agrícola e industrial obteve 34,9%; e ao candidato da governante Democracia Cristã (DC), Radomiro Tomic Romero (27.8%).

Na noite daquele dia, na sede da Federação de Estudantes do Chile, Allende faria um discurso que passou à história:

“Triunfámos para derrocar definitivamente a exploração imperialista, para terminar com os monopólios, para fazer uma profunda reforma agrária, para controlar o comércio de exportação e importação, para nacionalizar o crédito, pilares todos que farão factível o progresso do Chile, criando o capital social que impulsará o nosso desenvolvimento”.

“Quera assinalar perante a história o fato transcendental que realizaram, derrotando a soberba do dinheiro, a pressão e ameaça, a informação deformada, a campanha do terror, da insídia e da maldade. Quando um povo foi capaz disso, será capaz também de compreender que só trabalhando mais e produzindo mais poderemos fazer com que o Chile progrida e que o homem e a mulher da nossa terra, o casal humano, tenham direito autêntico ao trabalho, à moradia, à saúde, à educação, ao descanso, à cultura e à recreação, juntos, com o esforço de todos vamos fazer um governo revolucionário”.

Allende terminou seu discurso naquela noite prometendo que “à lealdade de todos, responderia com a lealdade de um governante do povo, com a lealdade do companheiro Presidente”.

Os Estados Unidos conspiraram

Mas a vitória de Allende, ao não alcançar a maioria absoluta, devia ser ratificada pelo Congresso Pleno. Isso ocorreria em 24 de outubro, depois que Allende e a UP firmaram um Estatuto de Garantias Democráticas, incorporado à Constituição.

Os Estados Unidos já conspiravam para impedir que Allende assumisse; em 22 de outubro, dois dias antes da sessão do Congresso Pleno, o comandante em chefe do exército, general René Schneider Chereau, foi baleado de morte por um grupo ultradireitista que tentou sequestrá-lo, para provocar as forças armadas a dar um golpe de Estado.

As armas e o dinheiro para essa operação terrorista, ficou demonstrado em documentos secretos agora revelados e por uma investigação do Senado estadunidense, foram proporcionadas pelo governo deste país.

Um telegrama da estação da CIA em Santiago, transmitido no dia seguinte ao ataque, dizia que “se fez um excelente trabalho guiando o Chile até um ponto em que a solução militar é pelo menos uma opção para eles”, agregando que “se felicita aos COS (chefe de Estação, na sua sigla em inglês) … e à estação por conseguir isto em circunstância extremamente difíceis e delicadas”.

Aldo Anfossi | La Jornada, especial para Diálogos do Sul
Tradução: Beatriz Cannabrava


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