A primeira cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados (MNA) reuniu-se em Belgrado, Jugoslávia, a 1 de Setembro de 1961. Sob a liderança de Jawaharlal Nehru da Índia, Sukarno da Indonésia, Gamal Abdel Nasser do Egito, Kwame Nkrumah do Gana e Josep Broz Tito da Jugoslávia, o encontro de uma semana contou com delegados de 25 países que lutaram por uma política externa coletiva baseada na coexistência pacífica.
“Não querendo permanecer reféns nem duma guerra nuclear nem da dissuasão nuclear, os novos Estados da década de 1950 queriam traçar um caminho independente—não como representantes de uma Guerra-Fria Americano-Soviética”, escreve o historiador indiano e membro do Conselho da Internacional Progressista, Vijay Prashad.
Na segunda metade do século XX, esta formação política alternativa, que passou a representar dois terços da população mundial, procurou impulsionar uma agenda contra a dominação imperialista e a subjugação colonial.
Um critério para convites para a Cimeira de Belgrado foi desenvolvido no Cairo, em Junho de 1961. Além da sua “política externa independente”, as nações convidadas “ofereceriam apoio consistente aos movimentos nacionais de independência” e não deveriam ser “membros de alianças militares multilaterais”. A viagem para Belgrado, porém, começou décadas antes.
Depois da Revolução de Outubro de 1917, o comunista indiano Manabendra Nath Roy previu o “despertar do Oriente”. Três anos mais tarde, o Congresso dos “Povos do Leste” trouxe 1.900 delegados a Baku, no Azerbaijão, onde se comprometeram a lutar por uma vida “baseada na igualdade, liberdade e fraternidade”. À medida que milhões de pessoas conquistavam a sua emancipação do colonialismo nas décadas que se seguiram, o apelo de Baku ecoou em Bandung, onde a Conferência dos Povos Afro-Asiáticos foi inaugurada em 1955.
A Conferência de Bandung debateu questões comuns aos povos de ambos os continentes: soberania, racismo, nacionalismo e luta anticolonial. O Presidente Sukarno, que liderou a luta da Indonésia pela independência, apelou aos delegados da conferência para que “injetassem a voz da razão nos assuntos mundiais e mobilizassem toda a força espiritual, toda a moral, toda a força política da Ásia e da África”. A sua demanda encontrou expressão em Belgrado, seis anos depois, com a fundação do Movimento dos Países Não-Alinhados (MNA).
Abrindo a cúpula na capital jugoslava, Tito disse que os países pequenos e médios “eram vistos… como uma espécie de máquina de votos em fóruns internacionais como as Nações Unidas e outros. Esta reunião dos mais altos representantes dos países não alinhados ilustra, no entanto, que tais práticas ultrapassadas deveriam ser abandonadas, que os países não alinhados já não poderiam conciliar-se com o estatuto de observadores e que, na sua opinião, teriam o direito de participar na resolução de problemas, especialmente daqueles que colocam em perigo a paz e o destino do mundo no momento presente. Esta reunião foi convocada para fazer valer esse direito.”
Com o objetivo de construir um movimento de solidariedade suficientemente forte para fazer valer os interesses dos seus membros na cena mundial, o MNA cresceu em força. Quando a cúpula de Belgrado terminou, Nehru e Nkrumah viajaram para Moscovo, enquanto Sukarno e Modibo Keïta do Mali partiram para Washington. Ambos levaram um “Apelo pela Paz” às grandes potências, pedindo a elas que regressassem à mesa de negociações à beira da guerra nuclear.
Na 5ª cúpula do movimento no Sri Lanka, em 1976, já eram membros do MNA 86 países. Este aumento seguiu-se à decisão de iniciar a luta por uma Nova Ordem Econômica Internacional durante a década de 1970.
Na sua 4ª reunião em Argel, em 1973, o MNA declarou que, apesar da tendência da situação internacional para o desanuviamento, o imperialismo continua a dificultar o “progresso econômico e social dos países em desenvolvimento, mas também adota uma atitude agressiva para com aqueles que se opõem aos seus planos, tentando impor-lhes estruturas políticas, sociais e econômicas que encorajam a dominação estrangeira, a dependência e o neocolonialismo.”
O MNA rejeitou a ordem mundial do pós-guerra e apresentou uma alternativa que propunha virá-la do avesso. A cúpula de Argel lançou as bases que, um ano depois, viriam a formular a Declaração da ONU sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional, baseada “na equidade, na igualdade soberana, na interdependência, no interesse comum e na cooperação entre todos os Estados”.
“Não enfrentamos nem o Oriente nem o Ocidente. Seguimos em frente”, disse Kwame Nkrumah ao resumir a luta dos não-alinhados para avançarem no seu processo irreversível de libertação.
Hoje, enquanto os tambores da guerra soam mais uma vez, os povos e as nações estão recuperando o espírito de Belgrado de 1961, enquanto lutam por uma diplomacia baseada na cooperação e na coexistência.
Solidariamente,
O Secretariado da Internacional Progressista
(*) Duas citações da Wikipedia sobre a Internacional Progressista:
“A Internacional Progressista foi inaugurada a 30 de novembro de 2018 num evento em Burlington, estado do Vermont, nos EUA (cidade onde Sanders vive e da qual foi Mayor), que contou com a presença de ativistas, economistas e políticos progressistas internacionais, tais como Rui Tavares (ex-eurodeputado, cofundador do partido Livre), Ada Colau (alcaldessa de Barcelona pelo movimento Barcelona em Comum), Naomi Klein (escritora), Cornel West (ativista e filósofo), Fernando Haddad (ex-ministro da Educação do Brasil e ex-prefeito de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores), Jeffrey Sachs (economista), Bill de Blasio (Mayor de Nova Iorque), Susan Sarandon, Cynthia Nixon, John Cusack, Danny Glover (atores) e Niki Ashton (deputada na Câmara dos Comuns canadiana).”
“Na sua Declaração de Atenas de Maio de 2022, vários dirigentes da Internacional Progressista exigiram o „apoio às vítimas da guerra contra a Ucrânia“, assim como um „Movimentos dos Não Alinhados” e um „Tratado de Paz” entre a União Europeia, os EUA e a Rússia sob a égide e a garantia das Nações Unidas“.
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