CRÔNICA

Por Guilherme Maia

 

Não tínhamos medo, exalávamos o odor da entrega de corpos e almas: éramos e somos um, forjados de desilusões e vitórias, desperdícios e acumulações. Aquela mulher resumia a vida àquele homem. Havia um quarto de hotel que se tornara uma ilha, um salvaguarda às intempéries da vida.

Ao escrever memórias dos infinitos três encontros com sua musa, ele vertia a vida num pedaço de papel. Vertigem de gozos e carinhos. Quero pegá-la em meus braços, beijar as boca com todas as iniciativas que o espirito permite.

Olhá-la com lágrimas- ele não entendia porque punha em xeque seu estereótipo de masculinidade por não conseguir estancar lágrimas frente a sua amada.

Reafirmar ser forte, suave e intenso, ao jogar sua mulher na cama; lamber todo seu torso, mordendo sua carne docemente. Não haveria outra oportunidade: ela estava com ele, mas sentia que cada beijo deveria ser dado como se fosse morrer uma hora depois. Ansiava por dar todo o prazer que um homem pode dar a uma mulher. Por isso tremia. E por que ela queria todo o prazer desse mundo provindo dele, ela também tremia.

Eram crianças, jovens, adultos, românticos e vivamente pornográficos! Eram tudo um para o outro e sabiam que nunca mais encontrariam isso com outra pessoa.

Estavam unidos por algo que vem de acima, eram tudo! Eu estava no interior de um Paraíso baixado à Terra: éramos mundanos e sagrados! Era a encarnação da Mulher para mim e eu sabia que teria de chegar aos limites do autocontrole para não sofrer a força de um amor ancestral, uma essência da humanidade, um turbilhão de vagas: ele estava à deriva num mar de intensidade.

Por que ser acolhido por aquele sentimento trazia alegrias e tristezas como o mais potente dos alucinógenos? Não tinha explicação! Nada defluente dEla possuía um senso de lógica humana.

Agora ele sentia toda a rugosidade do inteirar dela, estavam enxarcados de intimidade. Gozam olhando fixamente um para o outro: assumem viver algo proibido pelo sistema de produção financeiro-industrial; sentem uma ponta remota e recôndita de vergonha por estarem tão próximos.

Ela tenta conter seus gemidos, ele força suas estocadas dentro da amada. Esse momento revela a transfiguração divina! Estão ligados para todo o sempre! A divindade os abençoou com a vida eterna de um amor inexplicável.