ENTREVISTA NOTA PRETA 

Por Mauro Viana

 

A coluna NOTA PRETA conversa com a Dra. Claudia Miranda. Pesquisadora do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), ela é professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Unirio.  

 

Como pós-doutora em Psicossociologia pela UFRJ, como você retrata o  papel social da educação?

Sua pergunta é a pergunta Mauro Viana. O papel social da educação é algo que todos nós precisamos recuperar. Recuperar para não esquecer as nossas conquistas que foram coletivas e pela valorização de processos emancipatórios. Sempre na chave da colaboração e do intercâmbio cultural, em zonas diversas. Acho que no caso da América Latina, caberia localizarmos as grandes correntes nas quais é estratégico pensar os movimentos de vanguarda.  Paulo Freire, Lélia Gonzáles, são duas figuras que nos dão exemplos de como se coloca a questão das outras formas de APRENDER. Não é, ao mesmo tempo, uma tarefa fácil responder essa questão. Entendo que algumas teorias latino-americanas nos ajudam a entender o poder da mobilização coletiva.  Destacaria, em primeiro lugar , Teologia da Libertação, a Pedagogia do Oprimido, a Teoria da Marginalidade e, por último, a Perspectiva da Colonialidade do Poder. Na nossa região, castigada pela chamada “Europa”, caminhamos mesmo sem pernas. Então imagina quantas aprendizagens foram possíveis nessas travessias mais coletivas e menos solitárias? Como é importante observarmos o que tenho chamado de “outras educações”.

Qual é a função política das universidades federais?

As universidades estão no centro das nossas agendas emancipatórias  Respondi essa questão na tese “Narrativas Subalternas e Políticas de Branquidade: o deslocamento de afrodescendentes como processo subversivo e as estratégias de negociação na academia” (2006), defendida na primeira turma de Doutorado em Educação da UERJ (Maracanã)  o MEU TRABALHO se ancorou nas narrativas de pesquisadoras/es ativistas do Movimento Negro nacional. Ouvi delas/es sobre suas táticas de “sobrevivência intelectual” e sobre suas representações acerca da luta retórica, a partir da imersão no mundo acadêmico. Vi no conjunto de respostas, algo que conceituo como   “experiência subalterna”,  inspirada nos achados de Gayatri Spivak (2001) que é justamente sobre quem pode falar. No caso do grupo entrevistado, quase todos os 18 que ouvi, são filhos das classes populares e realizaram suas carreiras universitárias nas universidades públicas e na Pontifícia Universidade Católica. Faziam isso ao mesmo tempo em que trabalhavam. O grupo foi composto por intelectuais-ativistas tais como Ana Célia da Silva,  Ivair Augusto dos Santos, Florentina da Silva, Valter Silvério, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Dora Bertúlio, Silvio Humberto, Lucia Regina Brito Pereira, Henrique Cunha Junior entre outras/os. Com eles, foi mais fácil entender que é por dentro da universidade de prestígio que as populações que não herdaram nada, podem mudar suas perspectivas e modos de participação social.

Até  onde a vida acadêmica pode levar a comunidade preta brasileira?  

Pode levar pra muito longe, Mauro. Sobretudo em termos da formação de uma massa crítica. Chegamos a um estágio de muitas rupturas e muitas disputas retóricas, dessa vez envolvendo mais o corpo discente (as/os estudantes).   O crescimento do número de Coletivos Negros é bem isso. Um boom fundamental que já é desdobramento das nossas apostas.                       

 Quais são as mudanças que deveriam ocorrer na estrutura acadêmica?

a meu ver, os grupos gestores devem primar pela transparência de suas decisões porque queremos garantir processos mais democráticos e combater a falta de transparência. os colegiados devem abrigar estudantes com poder de opinar e de decidir em fóruns permanentes.   existe, na atualidade, uma promessa de maior recurso e esses devem ser melhor discutidos para a ampliação das esferas de decisão também dessas formas de valorização da comunidade discente. a universidade existe porque existe demandas de formação. O fio condutor precisa ser esse.