Hoje publicamos a breve apresentação dum livro recentemente publicado em Portugal por Pedro Esteves. Nele, o autor relata e reflete sobre as suas experiências como professor do Ensino Secundário na região de Lisboa, fazendo ao mesmo tempo um apanhado crítico sobre os últimos 50 anos da educação no seu país, e levando-nos assim também a compreender melhor o que aconteceu ao Portugal social após a Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.
No dia 25 de Abril de 1974 um grupo de militares derrubou o regime político ditatorial vigente em Portugal desde 1926, abrindo assim caminho à instauração de um regime democrático.
Nos anos que se seguiram, a diminuição dos controlos sociais associada a esta mudança permitiu que muitas iniciativas basistas introduzissem interessantes mudanças em diversos sectores da vida social, desde a educação à saúde.
O livro «O conflito sobre as escolas: participação versus hierarquização», publicado em 2023 pela editora Espaço Ulmeiro, testemunha, pela voz de um professor, Pedro Esteves, o que se passou nas escolas portuguesas durante os quase cinquenta anos que decorreram após aquela mudança.
Tomando como eixo narrativo as suas memórias fortes, e mobilizando outras, quer pessoais, quer documentais, que o ajudaram a compreender a complexidade dos processos que descreve, o autor mostra como foram possíveis, em escolas e em museus, com o apoio do renascido associativismo docente, iniciativas basistas de enriquecimento dos currículos, quer formais, quer informais. E, depois, mostra como esse movimento de participação foi declinando, sobretudo a partir de meados da década de 90, contrariado pela imposição de novos controlos sociais.
O autor mostra ainda como, subjacente a este duplo movimento, esteve a interação entre dois fenómenos:
Por um lado, o enorme aumento e diversificação dos atores educativos. Além dos que naturalmente estão envolvidos nas escolas (alunos, professores e pais), surgiram em Portugal os museus, os especialistas, os comentadores públicos, as empresas, as fundações e os municípios, tendo-se também multiplicado as mais diversas e influentes instituições internacionais, como o Banco Mundial, a OCDE, a UNESCO e a União Europeia
Por outro lado, a chegada dos agora omnipresentes atores educativos foi acompanhada pela hierarquização da sua voz e das suas iniciativas. O que se reflete através de avaliações uniformizantes, na hierarquização das escolas e dos alunos.
Este livro é, portanto, um contributo para a memória das escolas e dos professores da região onde o autor trabalhou, para a reflexão sobre a educação nos últimos cinquenta anos e para a compreensão do que aconteceu ao Portugal social após 25 de Abril de 1974.