ARTES VISUAIS
Por CWeA Comunicação
O celebrado artista pernambucano, que usa materiais simples do cotidiano para criar padrões geométricos e cinéticos, mostrará trabalhos inéditos, em diversas séries com botões costurados em tela sobre suporte de madeira, e um conjunto de “Conexões cromáticas”, em que usa selos postais sobre impressão em pape.
“Eu não existiria sem minhas repetições”
Nelson Rodrigues (1912-1980)
Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro
Abertura: 20 de maio de 2023, das 15h às 18h
16h: visita guiada pelo artista
Exposição até: 20 de julho de 2023
Texto crítico: Ariana Nuala
Entrada gratuita
Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de inaugurar, a partir do dia 20 de maio de 2023, às 15h, a exposição “José Patrício – Infinitos outros”, com obras inéditas do celebrado artista pernambucano, com botões costurados em telas, sobre suporte de madeira, e um conjunto de obras com selos postais sobre impressão em papel.
Os trabalhos com botões, que se tornaram emblemáticos na trajetória de José Patrício, começaram em 2005, derivados das obras feitas com dominós, que chamou a atenção do circuito da arte para o artista, em 1999, quando criou uma instalação para o convento de São Francisco, em João Pessoa, usando as peças do jogo.
“Nesta exposição na Nara Roesler, no Rio, houve uma tentativa de dar uma unidade a partir dos elementos e do tratamento que foi dado a eles, no caso o botão. Por outro lado, este aspecto cinético que existe nas obras também traz esta unidade”, conta o artista. “Progressão cinética XI” (2022), com 161 x 159 cm, “comenta um pouco o trabalho que considero importante, que é uma série de instalações com dominós montados no chão, chamada ‘Ars combinatoria’, que se compõe por quadrados realizados por três jogos de dominó, e, em cada ação, o resultado é diferente”, diz José Patrício. “Esta obra é também uma arte combinatória que utiliza os botões”.
As obras com botões têm 3.600 quadrados cada, e apenas um espaço central permanece vazio. O artista usa uma grade com 80 espaços em um lado e 80 no outro, “que são preenchidos com os botões”. “A forma de preencher são muitas, infinitas, não só a partir dos elementos à disposição, mas também das seqüências que serão criadas ali na estrutura”.
As exceções são Espirais cinéticas II (2022) e Espirais cinéticas III (2022), dois dípticos medindo respectivamente 115,5 x 222 cm e 114 x 224 cm, com um viés cinético, e que utilizam a estrutura de 112 dominós, recorrente no trabalho do artista.
REPETIÇÃO
“Como a frase de Nelson Rodrigues, a chave-mestra do meu trabalho talvez seja essa da repetição, que a cada concretização de uma obra consegue ser diferente. Eu repito sempre, mas também sempre tenho resultados diferentes. É algo que me move. Fazer este exercício de conseguir resultados novos a partir de uma estrutura dada”, explica.
ESPIRAIS
Outro aspecto recorrente no trabalho de José Patrício são as espirais. Diante das infinitas possibilidades de combinação dos botões, ele trabalha com dois movimentos contrários, que geram duas espirais inversas. Ele utiliza dois quadrados, e, quando trabalha com uma afinidade cromática, parte do centro de um quadrado com um botão, e coloca outro igual na ponta do outro quadrado, e assim sucessivamente. “Então a gente vai montando tudo num movimento de espiral, e no final temos dois movimentos contrários, onde todos os botões estão posicionados um atrás do outro, numa espiral e na outra também”. Ele destaca que “a espiral é que me ajuda a estruturar a obra. Há sempre essa espiral, e a montagem do trabalho se dá gradativamente, seja do centro para a borda, seja da borda para o centro. É sempre um movimento de espiral para o qual é preciso prestar bastante atenção no momento em que a obra está sendo montada, para que não se perca essa linha da espiral, porque isso permite que se chegue ao final do quadrado com a espiral funcionando perfeitamente, circundando a estrutura que vai sendo criada”.
“Tento me ater a esta estrutura e aos movimentos possíveis dentro dela, que é o movimento crescente num dos quadrados, e o movimento decrescente no outro quadrado. Os botões são peças heterogêneas, não são como os dominós, que são pecinhas que têm o tamanho certo e uma numeração, e são apenas 28”, explica.
No livro “José Patrício – Percursos de criação” (2021), bilíngüe (port/ing), 196 páginas, o artista relata que “a memória mais remota que tenho da minha afeição por botões é de quando os encontrava no armarinho da minha avó, no Recife, misturados e acondicionados em potes de vidro, caixas de papelão ou bacias de alumínio, fruto das sobras que iam se acumulando ao longo do tempo”.
Mas outro aspecto importante na escolha deste material “é a obsolescência do botão”, pelo uso cada vez menor de costureiras diante de roupas prontas e a preços acessíveis. “Quando encontro um conjunto de botões em lojas de armarinhos, liquidações, e tudo estava um pouco abandonado e sendo descartado, sendo vendido por um preço muito barato, eu resgato tudo isso e organizo, de alguma maneira, numa estrutura que é harmônica. É um pouco dar ordem ao caos”, diz.
MATEMÁTICA X IMPONDERÁVEL – “SEMPRE VAI DAR CERTO”
José Patrício não utiliza projetos ou desenhos para criar seus trabalhos, apenas “alguns cálculos matemáticos, mas não para todas as obras”. “Cada obra tem suas exigências. Tenho trabalhado com procedimentos muito precisos. Eu lido muito com o imprevisto, com o aleatório. Na maioria das vezes eu não sei qual será o resultado final. Isso não me preocupa muito também”, afirma.
“As obras que têm botões heterogêneos são montadas por pessoas que me ajudam, e muitas vezes elas decidem o que vem antes e o que vem depois. O meu trabalho comporta tudo, aceita tudo, e sempre vai dar certo. Não tem como dar errado, porque depois que está ali montado, já está certo. É um pouco como os processos naturais, onde as coisas têm já uma lógica como na natureza, onde tudo tem uma ordem oculta”, observa. “Meu trabalho é muito racional, mas lida com esse outro aspecto que é o acaso, a questão do imponderável, do improvável. É sempre esse jogo entre ordem e acaso. O trabalho pode abrigar as decisões de outras pessoas, porque este acaso permite que os elementos se posicionem e que o resultado seja sempre satisfatório na medida em que vai resultar, inevitavelmente, em uma harmonia. Só o fato de organizar esses elementos em uma grade, numa malha, esta ordem já traz algo de harmonia. Harmonia que pode se dar inevitalmente por essa organização, independente de escolha”. “Não tem como dar errado porque esta é a proposta da obra”, diz.
DECISÕES COLETIVAS
José Patrício lembra uma montagem de um trabalho com dominós no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 2012, em que “o pessoal dos serviços gerais me ajudou a montar”. “Foi uma festa. Todo mundo ficou super feliz. Primeiro, porque estavam curiosos com aquilo tudo ali sendo feito com dominó, e chegavam perto. E quando precisamos de ajuda foram eles que acorreram”, conta. “O trabalho pode abrigar as decisões de outras pessoas, porque este acaso permite que os elementos se posicionem e que o resultado seja sempre satisfatório na medida em que vai resultar, inevitavelmente, em uma harmonia.
SELOS POSTAIS
Interessado por selos postais desde a infância, quando começou uma coleção, José Patrício criou as obras da série “Conexões cromáticas” (2016) com uma gama variada de tonalidades, que foram selecionadas e classificadas de acordo com o seu teor cromático. Cada obra dessa série utiliza selos de uma mesma tipologia impressos em cores e tonalidades distintas, ordenados e colados em uma grade regular, impressa sobre o suporte.
“Nos selos da Inglaterra, por exemplo, corriqueiramente há uma variedade enorme cromática, e de valores”, diz.
SOBRE JOSÉ PATRÍCIO
José Patrício nasceu em 1960, em Recife, onde vive e trabalha. Ativo no circuito de arte desde 1976, quando integrou o 4o Salão dos Novos, no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, em Olinda, participou de diversas bienais, entre elas a 22a Bienal de São Paulo, Brasil (1994) e a 3a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, Brasil (1994); além da 8a Havana Biennial, Cuba (2003). Seu trabalho pode ser encontrado em importantes coleções, como: Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, França; Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), Recife; Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Exposições individuais recentes incluem: “Potência criadora infinita”, na Nara Roesler (2021), em São Paulo; “José Patrício: Algorithm in ‘Object Recognition’”, na Pearl Lam Galleries Hong Kong H’Queens (2018), em Hong Kong, China; “Precisão e acaso”, no Museu Mineiro (2018), em Belo Horizonte, e no Museu Nacional de Brasília (MUN) (2018); “Ponto zero”, no Sesc Santo Amaro (2017), em São Paulo; “Explosão Fixa”, no Instituto Ling (2017), em Porto Alegre.
Exposições coletivas recentes são, entre outras: “Utopias e distopias”, no Museu de Arte Moderna da Bahia (2022), em Salvador; “Ateliê de Gravura: da tradição à experimentação”, na Fundação Iberê Camargo (2019), em Porto Alegre; “Géométries américaines, du Mexique à la Terre de Feu”, na Fondation Cartier pour l’art contemporain (2018), em Paris; “Asas e Raízes”, na Caixa Cultural (2015), no Rio de Janeiro; “Le Hors-Là”, na Usina Cultural (2013), em João Pessoa.
O trabalho de José Patrício se realiza na fronteira entre instalação e pintura, misturando esses gêneros. Sua prática parte do arranjo de objetos cotidianos, tais como dominós, dados e botões, a fim de criar padrões e imagens que podem ter caráter geométrico ou orgânico, ainda que não deixem de resguardar uma familiaridade enigmática com o cotidiano, tendo em vista a possibilidade de se reconhecer aqueles elementos nas composições. Patrício despontou no mundo da arte em 1999, quando criou uma instalação para o convento de São Francisco, em João Pessoa. Na ocasião, o artista utilizou dominós como elemento-chave para muitos dos seus trabalhos. Quando vistos de longe, os padrões observados ganham uma qualidade pictórica (dada sua configuração geral) que contrasta com a natureza gráfica individual de cada peça.
FORMAÇÃO PELO OLHAR
Em 1975, José Patrício ingressou na escolinha de arte de Augusto Rodrigues, em Recife, a única “possibilidade de formação artística, com toda uma estrutura que ajudava os alunos, que podiam escolher uma determinada técnica”.
Pela comunicação mais difícil, um certo isolamento em relação ao circuito de arte, sua formação “se deu pelo olhar”. “Passei a investi em ver exposições, e a partir dos anos 1980 comecei a ir ao Rio e a São Paulo praticamente todos os anos, e via todas as exposições que estavam acontecendo, visitava as instituições, os museus, as galerias”, recorda. “Na época havia umas galerias da Prefeitura do Rio que mostravam muito os trabalhos dos artistas concretos e neoconcretos, e acredito que isso tenha tido alguma influência, mas sobretudo meu interesse no geométrico-construtivo veio muito da arte popular do nordeste e principalmente em Pernambuco, onde vivo. Sempre me interessei e admirei as estruturas que você vê nas fachadas das casas, que se encontra nas pinturas das festas populares, nas barracas, nos bancos, tudo isso me chamava muito a atenção. Foi justamente quando entrei na Nara Roesler, em 2000, e que participei do Rumos Itaú Cultural, a carreira ganhou um aspecto mais compromissado de estruturar a produção, e o trabalho foi crescendo e me trazendo a possibilidade de explorar as minhas descobertas”.
SOBRE NARA ROESLER
Nara Roesler é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, representando artistas brasileiros e internacionais fundamentais, que iniciaram suas carreiras na década de 1950, bem como artistas consolidados e emergentes cujas produções dialogam com as correntes apresentadas por essas figuras históricas. Fundada por Nara Roesler em 1989, a galeria tem consistentemente fomentado a prática curatorial, sem deixar de lado a mais elevada qualidade da produção artística apresentada. Isso tem sido ativamente colocado em prática por meio de um programa de exposições criterioso, criado em estreita colaboração com seus artistas; a implantação e estímulo do Roesler Curatorial Project, plataforma de iniciativas curatoriais; assim como o contínuo apoio aos artistas em mostras para além dos espaços da galeria, trabalhando com instituições e curadores. Em 2012, a galeria ampliou sua sede em São Paulo; em 2014 expandiu para o Rio de Janeiro e, em 2015, inaugurou um espaço em Nova York, dando continuidade à sua missão de oferecer a melhor plataforma para seus artistas apresentarem seus trabalhos.
Serviço: Exposição “José Patrício – Infinitos outros”
Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro
Abertura: 20 de maio de 2023, das 15h às 18h
16h: visita guiada pelo artista
Exposição até: 20 de julho de 2023
Entrada gratuita
Nara Roesler
Rua Redentor, 241, Ipanema, Rio de Janeiro, CEP 22421-030
Segunda a sexta, das 10h às 19h
Sábado, das 11h às 15h
Entrada gratuita
Telefone: 21 3591 0052
info@nararoesler.art
Comunicação: Paula Plee – com.sp@nararoesler.com
Canais digitais:
Instagram – @galerianararoesler
Facebook – @GaleriaNaraRoesler
YouTube – https://www.youtube.com/user/galerianararoesler