TEATRO
Por Alessandra Costa
Espetáculo “MACACOS” reestreia no Teatro Ipanema para temporada até maio
Peça da Cia do Sal relata as vivências de pessoas negras no Brasil
O apagamento das memórias e ancestralidades negras dão a tônica no espetáculo “MACACOS”, da Cia do Sal, dirigido e interpretado pelo ator Clayton Nascimento. A peça reestreia no Teatro Ipanema, na sexta-feira, 28 de abril, e segue até dia 7 de maio.
O espetáculo aborda a estruturação do racismo no Brasil e se coloca em cena a partir do relato de um homem negro em busca outros espaços para ocupar diante do adjetivo MACACO, que nomeia a obra. O ator e diretor, Clayton Nascimento, lembra que, em muitos casos, o adjetivo é utilizado como xingamento ao povo negro. Além disso, a peça trata sobre episódios da História Geral do país, até chegar aos relatos e estatísticas das mães e famílias dos jovens negros presos ou executados pela polícia militar no Brasil de 1500 até 2021.
“Os questionamentos desse homem negro convidam o público a pensar e debater sobre os preconceitos mascarados, que existem na estruturação e no cotidiano brasileiro. Com a pandemia do COVID-19, esses números se agravam e aumentam, evidenciando assim o grande desequilíbrio social ao qual nossa nação está estruturada”, explica Clayton.
Estrutura cênica
Ulisses Dias, diretor da Bará Produções e produtor geral do espetáculo, explica que “MACACOS” é uma montagem que conta somente com um ator e um batom, e trata do preconceito contra os povos pretos, a partir do relato de um homem preto que busca respostas para o racismo que rodeia seu cotidiano e a história de sua comunidade.
“A obra se desenrola num fluxo de pensamentos, desabafos e elucidações que surgem em cenas pautadas em nossa história geral, como também em situações vividas por grandes artistas negros: Elza Soares, Machado de Assis, e Bessie Smith, até alcançar relatos e estatísticas de jovens negros presos e executados pela Polícia Militar no Brasil de ontem e de 2021”, analisa.
Cronologia
No ano de 2015, MACACOS começou a ser desenvolvida, no entanto, só chegou ao grande público no Festival Verão Sem Censura e pelo Festival Farofa, ambos em São Paulo, em 2020, um mês antes da pandemia da Covid-19. A peça já passou pelos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, Brasília e Amazonas, e, agora, volta aos palcos cariocas.
“Durante sua turnê nacional, o espetáculo se comprometeu, diante de cada estado brasileiro, a pesquisar junto com historiadores e moradores das regiões, o que aconteceu naquele determinado estado em relação às decisões da Corte Portuguesa durante a escravatura. Para isso, se tornou-se necessário criar uma nova cena dentro da obra para cada um desses estados conforme as apresentações”, afirma o ator e diretor.
Premiações
Entre os anos de 2016 e 2023, tanto o espetáculo quanto o protagonista, Clayton Nascimento, receberam diversas premiações por conta da montagem da peça. Entre elas estão, mais recentemente, o Prêmio Shell 2023, de melhor ator. Além disso, Clayton também venceu na categoria melhor ator o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 2023; melhor ator no FESTKAOS, em 2022; FESTIC Caruaru, também como melhor ator, em 2019.
Já a peça recebeu outras premiações coletivas, como Melhor Peça, no Festival Breves Cenas de Teatro, em Brasília, em 2019; Melhor Montagem, no Festival de Teatro do Amazonas, em 2017; Melhor Montagem, no Festival de Teatro de Cabo Frio (RJ), em 2016.
Serviço:
Apresentações sextas e sábados às 20h, domingo às 19h
28, 29 e 30 de abril;
5, 6 e 7 de maio.
Teatro Ipanema (192 lugares)
R. Prudente de Morais, 824 – Ipanema, Rio de Janeiro
Ingressos disponíveis no Sympla
Inteira: R$40 / Meia R$20
Sobre a Cia do Sal
A Cia do Sal é uma companhia que surgiu na ocasião da estreia da peça “MACACOS”, em 2016. O grupo é formado por atores e atrizes pesquisadores da cena, vindos da Escola de Arte Dramática da USP – EAD, Escola Livre de Teatro de Santo André – ELT e Célia Helena. em seu corpo, a Cia do Sal possui artistas negros, brancos, trans, gays, héteros, paulistanos, cariocas e nordestinos que pesquisam seus anseios dentro do coletivo. A principal ideia é contar, junto ao povo, fatias e memórias da nossa história.
O nome da Cia do Sal, provém da significância que a palavra sal tem na vida das pessoas. O sal tem forte presença na formação e no surgimento do corpo humano. Mas não somente. Nos escambos escravagistas, o sal oi foi moeda de troca por seres humanos e figura marcante nas poesias que narram a dor e a morte nos navios negreiros.
Sal dá origem à palavra “salário” e Brecht dizia: “O sal do suor do operário é o que tempera a comida do patrão”. Queremos este Sal de volta às nossas casas, temperando agora, nossas comidas e de nossas crias.
Outro ponto, é que o sal é uma condição única para a existência de seres vivos, portanto, nasce mais um desejo da Cia do Sal: que o teatro e as artes sejam condições básicas para que nos reunamos, para que estejamos vivos e para que possamos fortalecer as nossas expressões vitais.
FICHA TÉCNICA “MACACOS”
Clayton Nascimento: Ator, Diretor e Dramaturgo
Danielle Meireles: Direção Técnica/ Iluminadora
Ailton Graça: Provocador Cênico
Aninha Maria Miranda: Direção de Movimento
Ulisses Dias (Bará Produções) : Produção Geral