CRÔNICA

Por Ana Paula de Souza

 

Como homem, eu sinceramente não queria uma mulher que substituísse um sentimento pelo meu, queria causar algo original em alguém, tão original que fizesse com que esse alguém cogitasse me pintar em todos os seus dias até o fim da sua vida. Eu sei… é um pouco pretensiosa minha meta, mas é algo que estou disposto a fazer.

Não vejo sentido em algo menor, pode ser que me decepcione, é claro. Mas estou disposto a me decepcionar por algo maior do que eu. Se um dia me decepcionar, sei que sou muito maior do que uma garrafa de whisky, medicamentos e toda a sorte de drogas que usam por aí. Por que sei? Porque tive uma coragem absurda.

Sou um explorador e estou sempre com novas ideias, minha nova aquisição foi um piano (não conte para ninguém, mas consegui fazer o rabugento do Senhor Charles me ensinar a tocar), estou aprendendo muitas partituras legais para adoçar os ouvidos da jovem que me cega o coração.

Por um momento, me pego parvo, apenas pensando sobre Alice… como queria poder dizer algo:

“Ah… Alice Wolf, você tem cabelos que parecem controlar a ventania, uma boca insóbria que me torna ridículo todas as vezes que te vejo e olhos que escancaram minha imaginação…”

Alice mora na Vila Rotirgan, à quatro quarteirões daqui, com o pai e um mastim espanhol, que não vão muito com a minha cara. O pai de Alice é um ex tenente do exército, que arrumou mais brigas do que deveria e vive armado até os dentes, o cachorro me traz nervos à flor da pele, mesmo sendo fofinho, afinal os animais costumam imitar seus donos e se até o Sr. Alvo costuma rosnar…

Se alguém pudesse ler as coisas que escrevo, deveria estar se perguntando: “Ok, Carlos, mas por qual razão Alice? Essa moça te dá algum sinal de reciprocidade? E eu diria que amo Alice porque ela é única entre as outras garotas, que simplesmente não se preocupa, transparece uma tranquilidade que desejo e invejo, queria ser como ela em parte do tempo: sem nenhuma ansiedade.

Ela transparece a paz de uma ilha deserta, na qual queria me afugentar para sempre.

O mesmo leitor pensaria: “Ele pulou a pergunta sem responder”, mas, acalme-se, não me esqueci… Alice sempre coloca um bilhete nas minhas coisas quando vou para o treinamento com os soldados, eu sei porque constatei. No entanto, até agora não abri nenhum, estava escrito que eu não o fizesse e, sinceramente, até agora tive medo de abrir e perder a magia de ter alguém que sempre coloca bilhetes nas minhas coisas…

Bom…Você me entenderia se estivesse no meu lugar… a filha de um ex tenente te mandando fazer alguma coisa… imagina se é um teste e eu falho? Hahaha

No entanto, eu sei que também sente algo porque eu vi seus olhos da última vez, alguém me disse certa vez que eles nunca mentem. Torço todos os dias para que esse alguém esteja certo.