MEIO AMBIENTE
Por Joyce Enzler
Pesquisadores de diversas unidades da Fiocruz apoiam a Greve Global pelo Clima em Jacarezinho e Manguinhos que acontecerá no dia 3 de março, às 9h, na Avenida Dom Hélder Câmara, 2233, na quadra da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho, com o intuito de dar visibilidade à emergência climática e às populações impactadas que moram em territórios socialmente vulnerabilizados. A mobilização virá em caminhada até a Estação de Trem de Manguinhos.
A atividade é organizada por várias entidades, como Coalizão pelo Clima RJ, Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, Fase, Cebes, Asfoc, Rede Favela Sustentável, Rede de Vigilância Popular em Saneamento e Saúde, Conselho Gestor intersetorial de Manguinhos, Conselho Comunitário de Manguinhos, Organização Mulheres de Atitude, Associação de Moradores Samora Machel, Associação de Moradores Nelson Mandela, Associação de Moradores Parque Carlos Chagas e Associação dos Moradores da Nova Embratel. O ato ainda conta com o apoio de diversos parlamentares, movimentos sociais e lideranças comunitárias.
As mudanças climáticas são alterações ao longo do tempo no padrão do clima e da temperatura. Enchentes, secas, calor ou frio intensos são tratados como naturais, porém a realidade é que o planeta Terra, vem sendo destruído devido ao modo de produção capitalista, onde o trabalho é coletivo, mas a apropriação é privada. Os donos do capital só percebem a Terra e todos os seres vivos como comida ou meros produtores de riquezas. Na China, o lago Poyang está 67% menor devido à alta temperatura, uma parte se apresenta completamente seca mesmo na temporada de chuva. Na Antártida, o degelo das calotas aumentou de forma considerável e pode gerar um nível maior do mar acarretando graves consequências para as cidades costeiras. Seja pela ação destrutiva ou pela omissão todos serão atingidos e os que mais sofrem com os efeitos do descaso com o planeta Terra são os povos originários, quilombolas e as populações que vivem em locais precarizados.
No Brasil, várias cidades são atingidas por temporais e enchentes há muitos anos. Além da reflexão sobre as mudanças climáticas, a sociedade precisa entender que existe também uma decisão política sobre os corpos que podem morrer ou viver, a necropolítica. Em 1966, uma enchente, na cidade do Rio de Janeiro, deixou pelo menos 250 mortos, mais de mil feridos e 50 mil desabrigados. Muitas dessas pessoas foram morar na Cidade de Deus, que teve sua inauguração acelerada para receber também os desabrigados da chuva. Em dezembro de 2022, Santa Catarina foi atingida por forte temporal que alagou várias cidades, sete pessoas morreram e mais de 20 mil afetadas pelos estragos causados pela chuva e pela falta de infraestrutura do país, que não se prepara para os períodos de muita chuva.
Em 2023, São Sebastião, no litoral Norte de São Paulo, 65 pessoas morreram e milhares estão desabrigadas. No início de fevereiro, as chuvas que atingiram o Grande Rio deixaram cinco mortos e muitos prejuízos. Em Jacarezinho, a Ong Rio Paz perdeu os alimentos que eram utilizados na distribuição de quentinhas para famílias que são acometidas por insegurança alimentar. Manguinhos, com seus rios há muitos anos negligenciados e com a falta de saneamento, a cada verão é vítima de enchentes e alagamentos que contribuem com a disseminação de doenças, perdas materiais e de animais que são arrastados pela correnteza.
A cada ano aumentam os refugiados climáticos ou ambientais, que precisam largar toda a sua história, pertences, familiares e amigos soterrados pelo descaso público. É necessário buscar alternativas e preparar as cidades para evitar o caos. Nesse sentido, entidades, pesquisadores, estudantes, parlamentares e lideranças históricas de Jacarezinho e Manguinhos se unem ao movimento internacional Greve Global pelo Clima no intuito de enfrentar a injustiça ambiental e reivindicar que sejam cumpridos os pontos das leis de adaptação às emergências climáticas de proteção da vida.
Leia a Carta_Manifesto_InundacoesRJ2 dos movimentos sociais na íntegra.