Desastres naturais são eventos cada vez mais frequentes em todo o mundo, e seus efeitos podem ser devastadores para as comunidades afetadas. No entanto, a tecnologia tem se mostrado uma ferramenta fundamental para prevenir e mitigar os danos causados por esses eventos. Nas próximas linhas, discutiremos como a tecnologia pode ser utilizada para proteger a população e o meio ambiente em diferentes partes do mundo, com exemplos reais de sua aplicação e, também, possibilidades para o futuro.
Atualmente, a tecnologia já tem desempenhado um papel importante na prevenção de catástrofes. Ela se faz presente desde sistemas de alerta antecipado, o nowcasting, até soluções para atenuar danos. Em muitos países, sensores, drones, satélites e outras técnicas são utilizados para monitorar o clima, as condições do solo e do meio ambiente e alertar a população sobre riscos iminentes. Essas tecnologias são particularmente importantes em países propensos a eventos como terremotos, inundações, furacões, tornados e outros desastres naturais.
Uma das tecnologias mais promissoras na prevenção de desastres naturais é a Inteligência Artificial (IA). Ela é capaz de processar grandes quantidades de dados e identificar padrões que indicam riscos de desastres naturais. Além disso, a IA pode ser usada para modelar o comportamento das catástrofes ambientais, permitindo que os pesquisadores e autoridades públicas desenvolvam estratégias de mitigação de danos mais eficazes.
Outra que tem se mostrado cada vez mais importante na prevenção e mitigação de desastres naturais é a Internet das Coisas (IoT, do inglês Internet of Things). Por meio de sensores espalhados por áreas vulneráveis, é possível monitorar com precisão fatores como nível de rios, condições climáticas, umidade do solo e movimentos de terra. Essas informações podem ser utilizadas para emitir alertas antecipados e orientar a tomada de decisões das autoridades, minimizando o impacto dos desastres. No Brasil, já existem iniciativas nesse sentido, como o projeto da prefeitura de Porto Alegre, que utiliza sensores para monitorar o nível do Rio Guaíba e prevenir enchentes na cidade.
E não paramos por aí. Uma maneira que a tecnologia também pode fazer a diferença é na resposta a desastres naturais. No momento em que ocorre um evento catastrófico, é fundamental agir rapidamente para salvar vidas e minimizar os danos. Logo, a tecnologia passa a ser a melhor aliada, pois pode ser utilizada para coordenar equipes de resgate e organizar o transporte de suprimentos e equipamentos para as áreas afetadas. Drones, por exemplo, podem ser usados para mapear áreas atingidas e identificar pessoas que precisam de ajuda. Já os robôs podem ser utilizados para tarefas perigosas, como a busca por sobreviventes em áreas de difícil acesso.
Existem vários exemplos de países que já utilizam tecnologias avançadas para a prevenção de desastres naturais. No Japão, por exemplo, a tecnologia é usada para alertar a população sobre terremotos e tsunamis, além de ajudar a prever a ocorrência de erupções vulcânicas. O país também tem um sistema de engenharia civil avançado, que inclui barreiras de proteção contra tsunamis e construções resistentes a terremotos. Como o país asiático situa-se no encontro de três placas tectônicas (Pacífico, Euroasiática Oriental e das Filipinas), os abalos sísmicos são frequentes, por isso, os edifícios são construídos com um sistema de fundações com “molas” para absorver os tremores. O uso de pêndulos para o amortecimento inercial é outra tecnologia importante para reduzir o efeito dos terremotos que também é amplamente usada. Essa técnica consiste em suspender e pesar uma esfera, a qual movimenta o prédio de forma contrária às vibrações geradas pelo tremor. Ao ser controlado eletronicamente, esse sistema pode reduzir as oscilações dos prédios em até 60%.
Outro exemplo interessante é a Holanda (Países Baixos), que tem investido em soluções inovadoras para a prevenção de enchentes e tem um sistema avançado de monitoramento do nível da água. Ela também utiliza tecnologias para fortalecer suas estruturas costeiras, com diques e canais, além de prevenir danos causados por tempestades. Sua expertise não vem de hoje, mas de quase mil anos de sofrimento com inundações, já que a maior parte do seu território se encontra abaixo do nível do mar (não é à toa que se chama Países Baixos). Com eficiência na comunicação entre os gestores e as equipes de trabalho, o país tem conseguido sucesso contra esse cenário adverso. Os EUA, que volta em meia são assolados por furacões, já enviaram especialistas ao país europeu para tentarem replicar suas técnicas.
No Brasil, país que sofre com desastres naturais recorrentes, há iniciativas promissoras no uso da tecnologia para prevenir e mitigar danos. A Defesa Civil de Santa Catarina desenvolveu um sistema de alerta de enchentes que utiliza sensores e câmeras para monitorar os níveis de rios e emitir alertas em tempo real para a população. Além disso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) tem um projeto que utiliza imagens de satélite para detectar áreas de risco de deslizamentos de terra em áreas urbanas. O Rio de Janeiro, por sua vez, já há alguns instalou sirenes em comunidades carentes para alertar os residentes de riscos iminentes, mas peca no trabalho de contenção de encostas e é permissivo no que diz respeito às construções ilegais em áreas de risco. Já São Paulo, que recentemente sofreu com as fortes chuvas no seu litoral norte, nem com sistemas de sirenes conta.
O Brasil é um país que sofre com enchentes, deslizamentos de terra, secas e incêndios florestais. Em muitos casos, a falta de infraestrutura adequada e políticas públicas eficazes agrava os danos causados por esses eventos. Apesar de todas as dificuldades, o país tem um enorme potencial para utilizar a tecnologia na prevenção e mitigação de danos. Por isso, é fundamental que as autoridades e organizações de socorro invistam em soluções inovadoras, como sistemas de alerta antecipado e tecnologias de previsão de eventos climáticos.
Ainda que avancemos no Brasil, há desafios hercúleos a serem enfrentados na utilização da tecnologia para prevenção de catástrofes. Um dos maiores problemas, sem embargo, é a falta de acesso à tecnologia por parte das comunidades mais vulneráveis, o que pode limitar a eficiência das soluções propostas. Além disso, a coleta de dados e a previsão de eventos climáticos são áreas que requerem investimentos constantes em pesquisa e desenvolvimento, que muitas vezes são desprezados pelos nossos governantes. Segundo o ministro do Desenvolvimento Regional, Waldez Goés, a previsão orçamentária de 2023 era de apenas R$ 25 mil para respostas a desastres em todo o país, o que inviabiliza qualquer ação consistente para lidar com essas crises. E a destinação adequada de verbas não é o único ponto em questão.
Outra grande dificuldade é garantir que as tecnologias sejam acessíveis e utilizadas de forma eficaz por autoridades públicas e organizações de socorro em momentos de crise. É fundamental que tecnologia esteja integrada a um plano de resposta a desastres e que haja treinamento adequado para sua utilização. Muitas vezes, os sistemas públicos federais, estaduais e municipais “não conversam”, o que gera entraves em momentos cruciais, quando cada segundo conta. Sistemas informáticos integrados existem há décadas, mas parece que é novidade para nossos dirigentes que ou desconhecem ou fingem não conhecer.
Apesar dos obstáculos, é inegável o potencial que a tecnologia tem para prevenir e mitigar danos causados por tragédias naturais. O uso de sensores, drones, satélites e outras técnicas avançadas pode salvar vidas e minimizar os prejuízos econômicos e ambientais causados por esses eventos. A Inteligência Artificial, em conjunto com Internet das Coisas, também tem um papel fundamental a desempenhar, permitindo que as autoridades antecipem eventos climáticos com maior precisão e tomem medidas preventivas com antecedência. E a Engenharia pode contribuir enormemente na construção de prédios mais resistente. Somente assim poderemos proteger as populações e o meio ambiente dos efeitos devastadores dos desastres naturais.
Por fim, é importante ressaltar que a tecnologia não pode ser vista como uma solução única para a prevenção e mitigação de desastres naturais. Ela deve ser utilizada em conjunto com outras estratégias, como o investimento em infraestrutura resiliente, o planejamento urbano adequado e a educação da população sobre como agir em caso de emergência. Somente com uma abordagem integrada e colaborativa, poderemos reduzir o impacto dos desastres naturais e proteger as comunidades e o meio ambiente.
Contudo, entra ano e sai ano, vivenciamos as mesmas tragédias, infelizmente. A Natureza com suas hecatombes – muitas provocadas por nós – não irá mudar. Mas nós podemos! Se isso for o que realmente queremos, claro…