MÚSICA

Por Renan Simões

 

Não há como não se apaixonar por Canção do amor demais (1958), de Elizeth Cardoso. Estamos com um pé no passado da música brasileira – uma voz potente dos cantores da velha guarda, com um quê de canto lírico, arranjos orquestrais bem ligados à música de concerto, e interpretação exalando sofrimento e dor – e outro em seu futuro – a levada de bossa nova, o incremento do jazz americano, um conjunto mais camerístico, músicas e interpretações mais intimistas. As composições são de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; Jobim também é responsável pelos arranjos e regência; João Gilberto participa de duas faixas.

Chega de saudade encontra-se aqui em sua versão absolutamente definitiva, um dos momentos mais importantes de nossa música. Serenata do adeus é um notável acontecimento melódico e espiritual. As praias desertas e Caminho de pedra, com seus ares impressionistas em feliz diálogo com elementos nacionais, representam grandes revoluções composicionais da música popular. Essas quatro faixas iniciais são esplêndidas. Outros pontos altos são Eu não existo sem você e a lastimosa Modinha.

As leves Luciana, Outra vez e Estrada branca são momentos deslumbrantes, nesse feliz ponto de convergência entre diferentes culturas e tempos históricos. Há também faixas mais genéricas – Janelas abertas, Medo de amar, Vida bela e a faixa-título –, mas que não comprometem o esplendor da artista e do registro.

Elizeth Cardoso, Canção do Amor Demais, o apogeu da velha guarda e da bossa nova! Ouça, desfrute, reflita, repasse: