POLÍTICA

Por Sérgio Mesquita

 

“Nem tudo é Política, mas a Política está em tudo” 

Frei Betto

 

Ainda impressionado com a beleza da entrevista de Frei Betto ao sítio Educação e Território (educacaoeterritorio.org.br), “Olhar o mundo pela ótica do oprimido é fundamental na Educação Política”, leio, no dia de hoje, 23.01.23, o diálogo entre o Ivan Callas e a Cris Lindner, e deparo com o Ivan comentando: “espero viver para ver a Pedagogia Cibernética ser aplicada com IA” (Inteligência Artificial). Onde a Cris pertinentemente coloca: “Não vai ser pela pedagogia meu caro, mas vai ser de outras formas até que se reescreva a pedagogia…”, citado no grupo do WhatsApp do RenaSCidade. Grupo criado no HackTown de Santa Rita do Sapucaí, e composto pelo mais variado grupo de pensadores, que discutem da Dança a Inteligência Artificial.

Influenciado pela entrevista do Frei Betto e lembrando a palestra dada por mim na Capacitação dos Educadores do Projeto de Alfabetização de Adulto: “Sim eu Posso”, fruto da parceria da Prefeitura de Maricá, MST e do Governo Cubano, sobre Economia Política Científica, a “coceira” bateu e tive que escrever.

Primeiro, como exposto, em concordância com a Cris, temos que reescrever, não por conta da IA, mas também por conta dela. Paulo Freire reescreveu várias Pedagogias (do oprimido, da pergunta, da esperança, da indignação, e várias outras obras). Em um curso sobre “Paulo Freire e as Fakes News”, ouvi que, na realidade, ele escreveu um único livro sobre a Pedagogia, os demais foram atualizações. Exatamente o que acredito estar propondo a Cris. Precisamos de constantes “re-atualizações”, pois não devemos ignorar o que já sabemos. Os africanos, com seus alguns milhares de anos de sapiência a mais do que nós, nos apresentam a ave Sankofa, que olha para trás e anda para frente.

Neste ponto começo o texto, a partir de seu título… rs

O sistema capitalista nos vende que podemos ser “apolíticos” e vivermos aquém da política. Uma grande mentira. Pelo simples fato de sermos humanos, que ao acordarmos, saímos da cama e, até voltarmos a ela para dormir, fazemos política. Gunnar Myrdal (1898-1987), Prêmio Nobel em 1974, nos ensina que “uma Ciência Social desinteressada constitui (…) um puro contrassenso. Tal Ciência nunca existiu e jamais existirá”. Quando a Economia surge como Ciência, final do Séc. XVII, início do XVIII, surge como Economia Política Científica, pois levava em consideração as relações mercantis e suas relações com o mundo do trabalho. Não se considerava “pura” e buscava intervenção na política e no social.

Quando o mundo (sistema) começa a negar a política e o social, a coisa desanda e hoje, gostando ou não, estamos a discutir se teremos existência no Planeta ou não. Se vamos (eles) ou não morar nos “Elysiuns”, que já existem no Planeta. Como coloca Nancy Fraser, em seu livro “A Sociabilidade Canibal”: “vem a ser um sistema que está programado para devorar as bases naturais, sociais e políticas de sua própria existência”, trocando em miúdos, da existência humana.

A Econômica Política Científica passa a ser tratada como “Economia Pura” com o avanço do capitalismo, com grande destaque na década dos anos 70, Séc. XX, com Reagan e Thatcher implantando o primeiro laboratório neoliberal durante a Ditadura chilena. De lá para cá foi oficializado o que a ex-Ministra Zélia Cardoso perpetuou posteriormente: “o povo é um detalhe”. E quando o povo deixa de ser partícipe da equação…morre famélico, deseducado, desempregado e outros “des”.

A exemplo do que fizeram com a Economia, também fizeram, até pouco tempo, com a Ciência, que apesar de ser feita por humanos, dizem ser ela pura, infalível, apolítica e outras besteiras. Como se possível fosse, uma vez que somos nós que a realizamos. Esta visão hoje é combatida, em especial pelas Universidades Públicas e Sociedades Científicas. Para o sistema, quando dá “merda” a culpa é da tecnologia, da ética etc., nunca da Ciência.

Este mesmo pensamento vem sendo aplicado ferozmente no mundo da Educação, que passa a ser entendido como mais um mercado a dar lucro para uns poucos. Daí a excelência da entrevista do Frei Betto, se contrapondo a esta quase realidade, a Educação como pura mercadoria.

Fato é que, governos, mesmo no campo da esquerda, reproduzem as máximas do sistema, como o empreendedorismo pessoal, o se transformar em um “Unicórnio” (conseguir seu primeiro milhão). A visão é sempre no singular, individualista e egoísta. Nunca solidária e cooperativa. Em contraposição, lembro bem de um dos HackInverno do ReaSCidade (“O Brasil tem Jeito”), da fala do Prof. Dr. (e vários outros títulos), Lawrence Koo. Separando o público do privado (impressão que me ficou), ele colocou que no Brasil existiam três grandes “Startups”, que haviam dado certo, e pensavam o conjunto da obra. A Petrobrás, a Embratel e a EMBRAPA, que foram importantíssimas para o desenvolvimento econômico e social do país. Metido que sou, incluiria a FIOCRUZ neste rol.

Hoje, vemos governos discutindo a inovação, incubadoras e “startups” sem a preocupação com o Público, ou sem muito foco no Público. Caberia aos governos incentivarem “startups” e empresas a serem incubadas, a partir de projetos que impactassem no conjunto de sua população, da administração pública, e não em projetos que só visem o primeiro milhão. Que devem sim ser incentivados, mas não priorizados. Basta-nos pensar politicamente e, muitos de nossos problemas atuais poderão ser, no mínimo, mitigados.

Há braços inovadores.