DANÇA
Por Marrom Glacê
Criado pela artista da dança Nyandra Fernandes, o trabalho chega aos palcos do Teatro João Caetano e Teatro Armando Gonzaga pelo Prêmio FUNARJ de Dança 2022 evidenciando as possibilidades dos corpos pretos periféricos, sua vivência nas ruas e nas religiões de matriz africana.
Cria da Penha, bairro do subúrbio carioca, Nyandra Fernandes atinou pra dança aos 16 anos – embora sinta que o desejo de dançar sempre tenha estado ali. Formada numa escola de dança contemporânea, não parou mais e, em 2021, em meio à pandemia, desenvolveu um “projeto audiovisual dançado”, como ela credencia o trabalho artístico homônimo coproduzido junto ao Festival Panorama e que hoje se torna o espetáculo “Elegbará”, com estreia marcada para o dia 1º de dezembro, às 19h, no Teatro João Caetano. Sob direção da própria Nyandra e assistência de Elton Sacramento, o trabalho gira torno da vivência de Nyandra nas ruas e nas religiões de matriz africana, buscando sempre a aspiração de emancipar as suas narrativas, as deslocando de direções eurocêntricas. No dia 08 de dezembro às 19h a montagem realiza uma apresentação no Teatro Armando Gonzaga.
Partindo da pesquisa e do universo iniciado na sua experiência audiovisual homônima, com esta obra de dança inédita o desejo é de reafirmar que se faz necessário falarmos dos diversos tipos de corpos e sobre suas particularidades, além de mostrar como eles podem e se comunicam com outros quando possuem o mesmo objetivo – que, neste momento, é o movimento, a dança. Para além disso, tornou-se imprescindível levar aos palcos as religiões de matriz africana, que são inspiração para muitas manifestações populares.
“‘Elegbará’ surgiu em 2021 da minha necessidade de falar sobre o meu corpo gordo, meus movimentos e as ‘amarras’ as quais meu corpo sempre foi submetido. No trabalho quis exaltar minhas particularidades, que conversam com as particularidades de muitas outras pessoas, e ainda falar sobre e exaltar as religiões de matriz africana que fazem parte da minha caminhada. Elegbara fala também de lugares não vistos como possibilidade de criação de arte contemporânea, longe dos grandes centros urbanos”, pontua Nyandra.
Dentre as muitas particularidades, “Elegbará” fala de corpo. O corpo preto, gordo e periférico que conversa com as ruas da cidade fazendo dela o seu palco. Na montagem, a pesquisa de movimento de Nyandra tem continuidade com outros bailarinos com perfis semelhantes ao citado acima, intencionando “educar” os olhos a verem todos os tipos de corpos no palco. “Por muito tempo corpos como o meu e similares não foram possibilitados de ocupar espaços como os da dança contemporânea. Se hoje eu consigo de alguma forma ocupar este lugar, é para apresentar a possibilidade e mostrar para outras pessoas gordas e periféricas que nossos corpos são potência”, confia a artista.
Na cena, uma dança afro-brasileira contemporânea, corpos gordos distintos, ancestralidade e possibilidades de ver a rua como é: uma grande encruzilhada que tem diversos caminhos onde a gente se encontra, se perde e dança. São utilizados ainda elementos ancestrais ligados ao candomblé, como padês (comida oferecida à Exu feita de azeite de dendê e farinha de mandioca com folhas de mamona). O projeto é realizado através de recursos do Prêmio Funarj de Dança 2022 e apresentado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro / Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa / Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro.
Exibido em espaços relevantes, como o Festival Panorama; 10º Circuito Vozes do Corpo – Cia Sansacroma (2021); IV Mostra Sesc de Cinema – Panorama Estadual (2021); Cineclube Tia Nilda (2021); Mostra Egbé – Festival de Cinema Negro de Sergipe (2022) e Psimaré / Que Boca na Cena? (2022), o filme se distancia do espetáculo. “Sempre tive vontade de dar continuidade ao projeto e, por este motivo, busquei incentivo público para isso. E expandir se encaixa também em aumentar a pesquisa para além do meu corpo, é também poder dar estímulo para outros corpos. E podemos já destacar que é essa a maior diferença entre os dois formatos”, finaliza Nyandra.
SOBRE NYANDRA FERNANDES
Mulher, preta, bissexual, artista da dança e cria da periferia do Rio de Janeiro, Nyandra atua há mais de oito anos como bailarina profissional, tendo no currículo turnês nacionais e internacionais, e atuando ainda na dança urbana, contemporânea, danças populares, performance e teatro, e também no audiovisual como equipe de produção e atriz. Com este perfil, Nyandra acredita na importância de fazer com que a arte produzida por pessoas pretas e/ou periféricas alcancem lugares maiores, sendo também de extrema relevância dar visibilidade às produções feitas longe dos grandes centros. Nos últimos anos tem começado a desenvolver seu trabalho autoral, seu mais recentemente filme de dança, ELEGBARÁ, foi uma coprodução do Festival Panorama.
SINOPSE:
“ELEGBARÁ” tem como principal estímulo o transe, um estado de intensa exaltação ou absorção, através do qual alguém sente que transcendeu a realidade sensível e está conectado com algo fora do nosso mundo. Os intérpretes dançam e se comportam como crianças, fazem caretas e criam jogos, como se estivessem em fase de conhecimento sobre si e do movimento da vida. Assim é Exu! O trânsito nas encruzilhadas e nos palcos. Ele estabelece o caos, o organiza e abre caminhos nas estradas para gente caminhar e dançar. Laroyê!
SERVIÇO:
APRESENTAÇÃO MARECHAL HERMES
Data: 08 de Dezembro
Horário: 19h
Onde: TEATRO ARMANDO GONZAGA
Endereço: Av. Gen. Osvaldo Cordeiro de Farias, 511 – Marechal Hermes
Venda de Ingressos Online: https://funarj.eleventickets.com/#!/evento/c21414dc00e33cecc0ff231b410a9c216edbfbf3
Ingressos: R$ 10 (inteira) | R$ 5 (meia-entrada)
Bilheteria do Teatro: Quinta-feira à Domingo, de 14h às 18h. Em dia de espetáculo, aberta até às 20h30.
Duração: 45 minutos
Classificação Indicativa: Livre
FICHA TÉCNICA:
Direção: Nyandra Fernandes
Intérpretes Criadores: Allison Trindade, Bellas, Kley Hudson, Juliana Sotero, Nyandra Fernandes
Assistente de Direção: Elton Sacramento
Coordenação de Produção: Rafael Fernandes
Produtora: Karen Antunes
Produção Musical: Beà Ayolàá
Percussionista: Dai Ramos
Figurino: Gah Brand
Iluminação: Andrea Capella
Técnico de Iluminação: André Martins
Operadora de Som: Maria Clara Coelho
Assistente de Comunicação: Pedro Melo
Designer: Marcos Vinicius e Charles Pereira
Fotos: Pamela Nogueira
Vídeo: Tiago Liel
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria