ARTES VISUAIS
Por CWeA Comunicação
Exposição discute a presença de corpos femininos no trabalho de 36 artistas brasileiras, de várias gerações. O corpo como território de resistência política, a sexualidade, e o ativismo feminista estão em núcleos articulados, em que se reflete como o tema foi tratado ao longo do tempo. O título se refere ao jornal que circulou no Rio de Janeiro entre 1981 e 1988, como desdobramento dos estudos sobre a condição feminina no Brasil, que em suas 40 edições teve como colaboradoras nomes importantes do pensamento brasileiro como Lélia Gonzalez, Adélia Borges, Maria Rita Kehl, Ruth Cardoso, Carmen da Silva e Heloisa Buarque de Hollanda. Na fachada da galeria estarão lambes com retratos de cerca de 200 mulheres brasileiras que tiveram relevância em vários campos de atuação, como arte, música, literatura, ciência e política.
Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro
Abertura: 3 de dezembro de 2022, das 15h às 19h
Até: 4 de fevereiro de 2023
Curadoria: Viviane Matesco, Marcus Lontra e Rafael Peixoto
Entrada gratuita
A Danielian Galeria apresenta a partir do dia 3 de dezembro de 2022, das 15h às 19h, a exposição “Mulherio”, com mais de 60 obras, de 36 artistas brasileiras de várias gerações,que aborda a presença de corpos femininos na produção de artistas mulheres brasileiras, da modernidade aos dias atuais. Com curadoria de Viviane Matesco, Marcus Lontra e Rafael Peixoto, as obras escolhidas foram reunidas graças a empréstimos de galerias, colecionadores e artistas, e refletem experiências artísticas com múltiplos materiais e suportes, entre a pintura, a escultura, a videoarte, a instalação e a performance, deslocando também para os aspectos formais a questão central da mostra.
O corpo como território de resistência política, a sexualidade, e o ativismo feminista estão em núcleos articulados, em que se reflete como o tema foi tratado pelas artistas ao longo do tempo. O título se refere ao jornal que circulou no Rio de Janeiro entre 1981 e 1988, como desdobramento dos estudos sobre a condição feminina no Brasil, que em suas 40 edições teve como colaboradoras nomes importantes do pensamento brasileiro como Lélia Gonzalez, Adélia Borges, Maria Rita Kehl, Ruth Cardoso, Carmen da Silva e Heloisa Buarque de Hollanda. A exposição é ampla, abre uma série de possibilidades e edições futuras.
LUTA POLÍTICA, CORPO, SEXUALIDADE
Viviane Matesco, doutora em artes pela UFRJ, que pesquisa há 20 anos o corpo na arte, observa que ao contrário dos EUA, onde desde os anos 1970 existem departamentos de história da arte dedicado ao feminismo, o corpo enquanto sexualidade só se tornou explícito no Brasil a partir dos trabalhos de Marcia X nos anos 1980. “Embora no Brasil dos anos 1970 e 1980hajaum feminismo atuante, com Lelia Gonzalez, Heloisa Buarque de Hollanda, entre outras, nas artes visuais as mulheres não tinham esta posição de luta, assumida. Ainda que com trabalhos, transgressores, como os de Anna Bella Geiger e Leticia Parente, ainda que com a relação corpo-arte bem explicitada nos vídeos, “não se consideravam feministas”. Em função da ditadura, as artistas expressavam questões sociais, de comportamento, maternidade”, conta. Rafael Peixoto ressalta que, embora essas artistas não trabalhassem necessariamente o corpo ou a sexualidade em suas obras, pelo fato de “serem mulheres artistas em seu tempo já afirmavam uma resistência”.
Viviane Matesco diz que na geração seguinte, com Cristina Salgado, Ana Miguel, Nazareth Pacheco, e sobretudo Marcia X, já havia uma relação clara com o corpo, mas também essas artistas não se autodeclaravam feministas. “Não havia o engajamento típico das gerações mais novas”. A partir da década de 1990 começa a mudar este cenário, e na virada do século 21 surgem artistas com questões identitárias fortes, e assumem um papel de ativismo feminista, “como é o caso de Panmela Castro, Aline Mota e Lyz Parayzo, mulher trans, que traz novas concepções do ser mulher”. A curadora observa que ao contrário da visão eurocêntrica ou norte-americana, onde a mulher é “mais vitimada”, no Brasil “há pesquisadoras fazendo intercessão com a ação da mulher da periferia, em que há uma afirmação poderosa, longe dessa noção da mulher frágil”.
As artistas com obras na exposição são: Tarsila do Amaral (1886-1973), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Anna Bella Geiger (1933), Leticia Parente (1930-1991), Celeida Tostes (1929-1995), Maria Bonomi (1935), Maria Polo (1937-1983), Anna Maria Maiolino (1942), Ana das Carrancas (Ana Leopoldina dos Santos), 1923-2008, Conceição dos Bugres (Conceição Freitas da Silva), 1914-1984, Wega Nery (1912-2007), Nelly Gutmacher (1941), Josely Carvalho (1942), Sonia Menna Barreto (1953), Márcia X (1959-2005), Cristina Salgado (1957), Regina de Paula (1957), Lia Menna Barreto (1959), Brigida Baltar (1959-2022), Beatriz Milhazes (1960), Nazareth Pacheco (1961), Suzana Queiroga (1961), Ana Miguel (1962), Rosana Palazyan (1963), Niura Belavinha (1962), Adriana Varejão (1964), Analu Cunha (1964), Berna Reale (1965), Elisa de Magalhaes, Adrianna Eu (1972), Aline Motta (1974), Marcela Cantuária (1991), Panmela Castro (1981),Élle de Bernardini (1991) e Lyz Parayzo (1994).
CORPOS COMO ESPAÇOS POLÍTICOS, DE RESISTÊNCIA
Logo ao chegar o público verá na fachada da galeria lambes com retratos de cerca de 200 mulheres brasileiras, atuantes em campos diversos como arte, música, literatura, ciência e política.
As obras se articulam em três núcleos: Força– corpos em resistência; Gestos– corpos em ação; e Âmago– corpos íntimos. Na entrada, terá um núcleo histórico, com trabalhos de Tarsila do Amaral e as pioneiras Lygia Clark e Lygia Pape. Neste espaço, além do texto curatorial, haverá um fac-símile ampliado do jornal “Mulherio”.
“Há muitas interseções, artistas que estão em mais de um núcleo”, explica Rafael Peixoto. A exposição faz um contraponto poético ao corpo da mulher representado na história da arte. “É o corpo tratado pela mulher artista, não uma representação”, diz. Ele assinala que “muitas vezes os corpos das artistas são espaços políticos, de resistência, e grande parte dessas obras é autorreferencial”.
A cenografia projetada pela arquiteta Tania Sarkis vai utilizar transparências criadas por tecidos doados pela fábrica Marilan, que entre 1968 e 2015 produziu lingerie e moda praia feminina, empregando mais de quatro mil mulheres ao longo de sua história. Tecidos vão dividir o espaço e servirão de fundo para as esculturas, em panos de fundo para a base.
FORÇA– CORPOS EM RESISTÊNCIA
No térreo estará o segmento Força– corpos em resistência, com trabalhos de artistas que usaram o próprio corpo – físico, artístico, ou mesmo espiritual – como território de resistência.Anna Bella Geiger é o “Brasil Alienígena”; Nazareth Pacheco usa agulhas e materiais perfurantes para discutir a relação entre a beleza e o sacrifício; as “Bichinhas” de Lyz Parayzo, formato de serra, aludem aos “Bichos” de Lygia Clark, sugerindo que “para ser mulher a pessoa tem que se mutilar”, comenta Rafael. A fotografia “Palomo” (2012), registro da performance emblemática de Berna Reale, de focinheira sobre um cavalo vermelho. Rosana Palazyan traz em seu trabalho o corpo político, indivíduos que sofrem na pele, no corpo físico, as dores de uma sociedade desigual, cruel.Adriana Varejão, na obra “Extirpação do Mal por Punção”(1994), faz uma escarificação na tela com milhares de agulhas de acupuntura. A pintura de Marcela Cantuária, com referências muito pessoais; “Retrato de Bernardine Evaristo” (2022), feito por Panmela Castro sobre a escritora norte-americana, enfatizando o retorno ao retrato, dando protagonismo para aqueles que ficaram apagados pela história oficial.Alice Mota trabalha a memória ancestral, revertendo o apagamento histórico sofrido pelos negros. Em seu famoso vídeo “Marca Registrada” (1975), Leticia Parente costura a palavra Brasil na sola do pé, e em “Tarefa” (1982), uma mulher passa a ferro a própria artista, deitada sobre uma tábua de passar roupa. Sonia Menna Barreto fez luvas de boxes em bronze, moldadas em suas mãos, na obra “Fight” (2020).
Na escada que leva ao segundo andar, estará uma instalação de Adriana Eu.
SEGUNDO ANDAR
Na primeira sala, estará o núcleo Gestos – corpos em ação, onde o corpo se manifesta plasticamente, poeticamente, de várias maneiras, diversas formas de expressão que vão além do que se costuma atribuir ao gesto feminino; Há a dureza do talhe, o amassar o barro, gestos primais, a manifestação do corpo para além dos estereótipos.
As esculturas de madeira de Conceição dos Bugres e de barro de Ana das Carrancas se juntam à xilogravura de Maria Bonomi, o moldar o gesso de Anna Maria Maiolino, contraponto entre o macio e o duro, o mole e o rígido.
Os curadores abriram uma licença poética para incluir trabalhos da pintura gestual de Niura Bellavinha, que infiltra o avesso da tela com tinta, de Maria Polo, Wega Nery, a cartografia de Suzana Queiroga, os “Amassadinhos” de Celeida Tostes, os vídeos “Porque foi esse o Gesto” (2016), de Regina de Paula, e “Intenções e Gestos” (2017), de Analu Cunha, em que as mãos da artista Matheusa Passareli (1997-2018) reproduz os gestos presentes na pintura “Combate Naval do Riachuelo” (1882-1883), de Vitor Meireles (1832-1903).
ÂMAGO – CORPOS ÍNTIMOS
Na interseção entre a sala “Gestos” e “Âmago” estará em um nicho escavado na parede a obra “O Re-Partido” (2014), de Adrianna Eu, um coração de cristal rodeado de cacos.
No espaço dedicado ao núcleo Âmago – corpos íntimos o público verá as obras que abordam aspectos íntimos do corpo e seus desdobramentos. São as vaginas e hermafroditas de porcelana de Nelly Gutmacher, o vibrador com luminoso“Love me”(série “Fábrica Fallus”, 1992-1997), os corpos amórficos de Cristina Salgado, as bonecas de Lia Menna Barreto, o objeto “Sobre nácar”, de Anna Bella Geiger, as fotografias “Torso” e Queda D’Água”, de Elisa Magalhães, a ânfora com essência de dama da noite criada por Jocely Carvalho em parceria com uma empresa, e trabalhos de Adriana Eu, que usa a costura como processo de autoconhecimento sobre o ser mulher.
SERVIÇO: Exposição “Mulherio”
Abertura: 3 de dezembro de 2022, das 15h às 19h
Até: 4 de fevereiro de 2023
Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro
Rua Major Rubens Vaz, 414, Gávea, Rio de Janeiro, CEP 22470-070
Segunda a sexta-feira, de 11 às 19h
Entrada gratuita
Telefones: +5521.2522.4796 +5521.98830.3525
Email:contato@danielian.com.br
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