ARQUITETURA
Por CWeA Comunicação
Elizabeth de Portzamparc, carioca radicada em Paris há muitos anos, tem ganhado muitos prêmios na Europa por sua atividade destacada em arquitetura e urbanismo, principalmente à frente de projetos de grande porte, na França e na China – em que constrói bairros inteiros, centros de ciência, museus, e uma monumental torre de 262 metros de altura em Taiwan, entre muitos outros.
Ela estará no Brasil para receber, a convite de Igor de Vetyemy, na segunda-feira dia 12, do IAB-RJ o prêmio de Arquiteto do Ano. No dia 15, às 17h, fará a palestra magna de em uma solenidade no MAR (Museu de Arte do Rio) do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, em homenagem ao Dia do Arquiteto e Urbanista. Após sua fala, haverá um debate com Sérgio Magalhães e mediação de Nádia Somekh.
O que tem destacado Elizabeth de Portzamparc no cenário atual da arquitetura, e talvez seja a chave do sucesso para vencer tantos concursos internacionais – em que os participantes são identificados por números, e não nomes – é sua ousadia e a profunda conexão com a natureza. No projeto vencedor em 2021 na China, “Living in the leaves”, em Huizhou, uma região de árvores milenares do distrito de Guangdong, para a construção de casas, cabanas, e um SPA, em uma área de 43 mil metros, ela faz um “manifesto contra o desflorestamento”. Além de todo o desenho arquitetônico que se mimetiza com a natureza, serão usados materiais locais como madeira, pedra e terra. “Ao lidar com uma zona virgem, precisamos fazer como os povos indígenas, e em vez de construir coisas que podem agredir, devemos propor um modo de viver completamente integrado, em respeito total à floresta, co-habitando, inserindo um novo elemento no ecossistema, enriquecendo este ecossistema sem agredir. Nós temos que conviver com a natureza, com delicadeza, e fazer parte dela”, afirma.
No recentemente concluído Palácio da Ciência em Pudong, Xangai – Science Hall of Zhangjiang – com área de 120 mil metros quadrados, o parque urbano se integra à construção ascendendo suavemente, em um plano inclinado até o teto, onde além da área verde estão barzinhos e espaços para exposições e eventos.
Elizabeth de Portzamparc é casada com o prêmio Pritzker Christian de Portzamparc, com quem tem dois filhos e três netos, e não perde sua ligação com o Brasil.
ALGUNS PROJETOS RECENTES DE ELIZABETH PORTZAMPARC
- CHINA
- Science Hall Zhangjiang Science City, Pudong, Xangai
É na dinâmica da criação de um novo bairro high-tech e de um grande pólo de ciências e tecnologias que o projeto do Palácio da Ciência vem se implantar como elemento unificador. Com uma área de 120 mil metros quadrados, o edifício evoca uma ascensão do saber graças a uma forma pura e rigorosa que avança em direção ao céu, ao infinito: a construção desenvolve um percurso interativo e pedagógico evolutivo, em um movimento de ascensão, que leva o parque urbano a se integrar ao teto do prédio. O projeto produz uma efervescência de interações como um grande conjunto energético. Uma passarela flutuante acompanha o público na sua visita. Ela é marcada por pavilhões-bolhas que acompanham o passeio e contêm atividades pedagógicas sobre o tema do sistema ecológico.
- Museu Arqueológico de Yongcheng, Fengxiang
O sítio arqueológico pré-Qin de Fengxiang concentra os primeiros vestígios da civilização chinesa e celebram seu nascimento. Os cinco edifícios que compõem o projeto vão abrigar o Museu e um conjunto de pavilhões para outras atividades anexas. Este conjunto, previsto para ser inaugurado em 2024, se insere com uma presença visível, porém respeitosa neste lugar, também caracterizado pela existência de zonas úmidas de grande importância ecológica. Seu conceito consiste em revelar e glorificar a cultura do lugar e sua história a partir de uma arquitetura voltada para o future, mas constituída de material físico e simbólico do local: a paisagem e sua geografia, a cidade e sua arquitetura, as relíquias arqueológicas, história e materiais.
Com 25 metros quadrados de área, placas paisagísticas do solo se erguem para abrigar os quatro pavilhões interligados por um vasto hall central totalmente transparente. As fachadas estruturais dos pavilhões serão protegidas das tempestades, vento, chuva e sol por diversos tótens de terra crua intercalados por fachadas de tijolos de terracota locais. Esta dualidade de terracota e terra crua evoca as próprias escavações, e lembra a onipresença da construção com terra na região.
- Living in the Leaves, Huizhou
O projeto “Living in the leaves”, em uma região de árvores milenares do distrito chinês de Guangdong, prevê a construção de casas, cabanas e um hotel em plena floresta, e se afirma como um manifesto contra o desflorestamento. Ele habita com respeito a floresta, com os cursos d’água, sem nunca agredir a natureza, e surge como um abrigo para recarregar as baterias, isolar-se e encontrar-se. Sua arquitetura criou um ecossistema para a coabitação entre os seres humanos e o seu ambiente. A natureza protege a arquitetura, que por sua vez abrigará humanos que viverão em interação com a paisagem. A lógica de integração dos elementos arquitetônicos no ambiente está presente em todas as construções, e utiliza materiais locais: madeira, pedra e terra, entre outros. “É uma arquitetura que busca fazer como os povos indígenas, e ao lidar com uma zona virgem, em vez de construir coisas que podem agredir propõe um modo de viver completamente integrado, em respeito total à floresta, coabitando, inserindo um novo elemento no ecossistema, enriquecendo este ecossistema sem agredir. Nós temos que conviver com a natureza, com delicadeza, e fazer parte dela”, diz Elizabeth de Portzamparc.
- Taichung Intelligence Operation Center, Taichung, Taiwan
Com seus impressionantes 262 metros de altura, a TIOC, em Taiwan, é uma torre de quarta geração: um bairro vertical, com ruas e praças internas. Projetada para ser um centro cultural digital, com área de comércio, escritórios, restaurantes e espaços culturais, a torre tem 68 mil metros quadrados, e é a primeira de seu gênero. As obras, paralisadas durante a pandemia, serão retomadas agora.
- FRANÇA
Residencial em Chantiers, Versalhes
Integrante de uma reestruturação de uma área de 22 mil metros quadrados adjacente à estação de trem, o projeto abrange 376 unidades residenciais, dividida entre unidades privadas, habitações sociais, e residências para idosos e estudantes, estúdios de artistas, e uma creche. As leis municipais determinaram as dimensões específicas do edifício, e o uso de materiais tradicionais para a fachada. A partir desses princípios, os temas que guiaram Elizabeth de Portzamparc foram a relação entre arquitetura contemporânea e tradição, a ligação com a natureza e a paisagem, e diversidade geracional e social. A natureza está muito presente no amplo jardim com árvores e flores no coração da “ilha”, terraços verdes, o jardim com terrace compartilhado pelas unidades dos idosos e ainda os terraços verdes no teto.
Biblioteca do Campus Condorcet, Aubervilliers
Em uma área de mais de 23 mil metros quadrados, serão reunidas 45 bibliotecas, das áreas de ciências humanas e sociais, na primeira biblioteca bioclimática da Europa. Com uma instalação unificadora, um suporte para a vida coletiva e lugar de intercâmbios para os jovens, a Biblioteca Condorcet é eminentemente aberta para o exterior. Este projeto arquitetônico flexível e sustentável já inclui suas futuras extensões.
Exemplo mundial de arquitetura flexível e sustentável, o edifício é construído com uma abordagem ambiental e social, oferecendo dispositivos arquitetônicos pioneiros que se adaptam às mudanças de uso. A Biblioteca Condorcet é a espinha dorsal do Campus Condorcet: o eixo traçado por sua ”rua interior“ estrutura todo o complexo, organizado em torno desse equipamento simbólico que se torna seu principal marco e elemento unificador. O fórum central traz os espaços externos para dentro do edifício e constitui uma verdadeira praça pública protegida. Ele se torna assim um ponto de convergência natural e de encontros. Luminosa, aberta e agradável, essa biblioteca foi projetada para atrair novos tipos de público, especialmente aqueles que se encontram fora do sistema acadêmico. Pensado de forma racional, o projeto privilegia a economia de meios, em particular através do uso de formas simples, ao mesmo tempo em que oferece espaços estéticos, qualitativos e funcionais, propícios ao estudo e à pesquisa. Bioclimático e flexível, o edifício é projetado de modo a garantir a evolutividade do equipamento: os dispositivos de cobertura dos terraços sobre o telhado já foram projetados para expandir, se necessário, o edifício, que contém, assim, seu próprio desenvolvimento futuro.
- Musée de la Romanité, Nîmes
Inaugurado em 2018, depois de quatro anos de obra, o espetacular Musée de la Romanité, em Nîmes, abriga o precioso acervo arqueológico da região, que estava disperso em várias instituições, e abrange um arco de 25 séculos, em três grandes períodos: gaulês (pré-romano), romano e medieval. Com mais de 9 mil metros quadrados de área, o Museu se conecta com o exterior a partir de uma rua que segue os traços das antigas fortificações romanas, que liga o átrio da arena romana da cidade ao seu jardim arqueológico.
Para criar um diálogo com esta forte presença romana, Elizabeth de Portzamparc projetou para o Museu belas fachadas, compostas por uma estrutura de aproximadamente 7 mil lâminas de vidro serigrafadas, que cobrem uma superfície de 2.500 metros quadrados, e são capazes de refletir o entorno, criando um diálogo com a cidade ao refletir as cores, a luz e a vida ao redor.
- Urban Osmose Clichy-La-Garenne
A transformação do centro comercial e artesanal Léon Blum, em Clichy-la-Garenne, faz parte de uma cidade que está passando por uma grande mudança. Elizabeth de Portzamparc concebeu um projeto misto baseado no conceito de osmose nos níveis urbano, social, econômico e ambiental. Urban Osmose é um projeto de aproximadamente 14 mil metros quadrados, composto por escritórios, espaços de coworking, lojas – centro de jardinagem urbana, café urbano, restaurante (interempresarial acessível ao público e restaurante gourmet na cobertura) e espaço de convivência. Todos esses elementos programáticos serão distribuídos por uma praça verde para uso público e lojas animadas durante toda a semana, de dia e à noite. As lojas e serviços, o jardim rebaixado, a rota paisagística e artística, projetados em conjunto pelas agências Florence Mercier Paysagiste e a agência internacional de design GSM Project, oferecem aos habitantes de Clichy um novo espaço de convívio para despertar os sentidos. Como um sinal na linha do horizonte do oeste metropolitano, uma nova polaridade em Clichy e um ponto focal nas margens do rio Sena, Urban Osmose pretende se encaixar harmoniosamente em todos os níveis da paisagem de Clichy e contribuir para a renovação contínua do bairro Pont de Clichy.
- Innovation Center – Sophia Antipolis Biot
Perto de Antibes e Cannes, Sophia Antipolis é o maior parque tecnológico da Europa. Seu futuro Centro de Inovação, com quase nove mil metros quadrados, representará a vitrine do campus, abrigando escritórios para a comunidade e para os interessados nas inovações acadêmicas, e ainda um centro de negócios. A arquitetura em U, com o volume caracterizado por alturas progressivas, para evitar o feito de uma barreira visual, e respeitar o princípio da organização em terraços. O projeto cria muitos níveis de uso social, uma ampla variedade de espaços de convivência internos e externos. E cria vistas para a grande paisagem, e se beneficia da topografia, mais do que se sujeita a ela. A arquitetura é ao mesmo tempo aberta e cria formas de intimidade, um sentido de proteção e conforto climático para usuários que se beneficiam dos espaços sombreados protegidos do vento. O Centro de Inovação está reiventando o estilo de vida mediterrâneo, ao adaptá-lo aos desafios climáticos graças à abordagem empírica e tecnológica inspirada pelo conceito de bioclimatização, e se transformará no primeiro projeto baixo carbono no sul da região Provence-Alpes-Côte d’Azur. Porque a sustentabilidade supõe transformabilidade, o projeto valorizA a flexibilidade em todas as suas formas: da arquitetura e de seus novos usos. Aqui a arquitetura inclui a flexibilidade desde sua concepção; criação de dispositivos arquitetônicos que favorecem relacionamentos de todos os tipos; espaço expansível
SOBRE ELIZABETH DE PORTZAMPARC E SEUS CONCEITOS
Elizabeth de Portzamparc é arquiteta e socióloga. Em 1977, aos 29 anos, fundou e dirigiu o Ateliê de Urbanismo Participativo da cidade de Antony, na França, com foco nos diferentes modos de uso dos edifícios e da cidade, e também na identidade e particularidades do lugar.
Em sua pesquisa “Les quartiers de Antony – 1979” (“Os bairros de Antony – 1979”), definiu a noção de sub-bairros, que determina a menor escala de vida social urbana, assim como o conceito de hierarquia de intimidade dos espaços, dois parâmetros que a seu ver deveriam fundar todas as análises e concepções de cidades. Esta noção se aplica a todas as escalas urbanas – edifícios, ruas e a metrópole.
Diversidade e a liberdade dos espaços urbanos, para que sejam “habitados”, nos diversos sentidos da palavra, são conceitos fundamentais.
Elizabeth pratica a “arquitetura de conexões”, visão de seu trabalho que expressa a ideia fundamental de que o arquiteto deve pensar e favorecer a instalação da totalidade das conexões que um projeto pode estabelecer com o seu contexto físico, social e cultural.
Consciente das questões ambientais, Elizabeth criou em seu escritório, em 2008 um ateliê de urbanismo sustentável, com uma equipe multidisciplinar que inclui sociólogos e antropólogos que participam no desenvolvimento dos seus projetos experimentais. “O arquiteto é um instrumento de regeneração de ecossistema – A Arquitetura como um enriquecimento de um ecossistema existente”, afirma.
Para ela, “os ecossistemas urbanos são um somatório de interações e fluxos cada vez mais complexos entre habitantes, atores econômicos e políticos, espécies animais e vegetais, ideias, clima, histórias, espaços físicos, recursos naturais. É necessário recorrer à pluridisciplinaridade. Urge adotar uma visão e uma definição mais ampla do que é o contexto. Ele é também ambiental, econômico, social, climático, urbano, e deve ser entendido através de uma abordagem holística. A arquitetura deve não só entender e se inserir nos sistemas existentes, como contribuir para enriquecê-los numa dinâmica virtuosa”.
“A sustentabilidade urbana é inseparável da sua dimensão social, e as práticas arquitetônicas favorecem a criação de ligações e espaços comuns. Precisamos pensar em novas formas de viver nas zonas metropolitanas”, destaca.