CRÔNICA
Por Guilherme Maia
O que dizer sobre a noite de Copacabana? O glamour dos tempos idos, longínquos já, foi aniquilado pela degradante arquitetura e caótica urbanização; prédios-gaiolas envoltos pela luz difusa ainda fosca pelos ares da praia como um halo de santo.
Travestis sem brilho, prostitutas desmontadas pela brutalidade da insegurança sexual de seus clientes, homens sem rosto, vampiros de suas rosas íntimas; já de tempos a indústria da trepada virtual as obrigava a manter uma escala inumana de deitadas. Operários e serviçais os mais vários também trafegam por essa noite, noite emudecida, aquela que já não conta com os fachos das milhares de boates já fechadas pela renúncia à Arte e ao bem viver.
Ergue-se como uma chama bruxuleante o Copacabana Palace, um totem da resistência de um Rio que luta por subsistir em sua beleza, monumento clássico de toques mediterrâneos que – apesar de ser para a frequência interna de poucos abençoados endinheirados – conforma a paisagem de Copacabana dando-lhe dignidade.
No meio desse furdunço babilônico de duzentos e trinta jaulas habitacionais por andar em prédios de estrutura duvidosa sobrevive Malaquias, um pivete entre 222.000 moradores de rua que coabitam praças e ruas na Cidade Maravilhosa.
A história de Malaquias é a clássica condição de ser do povo brasileiro: seu pai era tão bêbado que já ultrapassava o chão sendo certo que em seu último porre fora encontrado na Ilha de Sumatra, pelo menos, desde aquele momento nunca mais foi visto – o que torna, até certo ponto, plausível nossas especulações.
Já a mãe era mais promíscua do que o fundo de reservas dos cofres públicos brasileiros e, portanto, desapareceu no mundo encafifada por algum galã da Central do Brasil.
Daí nosso garoto foi para vida; olhou para ela e ela olhou para ele que, por sua vez, impávido, disse: eu vou te vencer!
Sua condição primordial era: mantinha sua residência para correspondências na Praça Eugênio Jardim, no terceiro banco-de-praça norte, em frente ao parquinho de diversões; alimentava-se regularmente dor donativos dados por missionários da Igreja do Poço Fundo do Jacó (aquela mesma de sempre), que condicionavam, os missionários, o recebimento de comida ao compromisso de segurar vagas de carros para poderem, os missionários, estacionar seus veículos no entorno da praça – além de decorar e “ourar” o Pai Nosso.
Quanto à higiene de Malaquias, em certas épocas do ano (quando o mercúrio do termômetro quase estoura a cabeça desse instrumento), ela se torna uma coleção de bactérias, doenças rino-cardíacas, esquistossomose e, no inverno, o internacional Bacilo de Koch. Mas uma coisa que não perdia era a força de viver e afrontar o sistema de exclusão pela velha cartilha da malandragem carioca.
Por que malandragem no sistema de concentrações nababescas de renda, de capitais inertes e improdutivos, de uma política pornográfica de milicianos-aiatolás, seria ruim? Fato é que a malandragem carioca sempre foi a sobrevivência! E é isso aí mesmo o que impulsiona Malaquias a sobrepujar essa depravação que a elite impõe ao povo por simplesmente viver – e ele fazia com estilo.
Vamos explicar como consegue nosso herói esse milagre por meio de três “ocorrências” envolvendo-o.
I – O BLOGUEIRO NEONAZISTA PROCURADO INTERNACIONAL E AMIGO DOS AMIGOS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA (AQUELE PRESIDENTE COM CARA DE FRANGO E MORADOR DE UM FEUDO CONSTRUÍDO POR INVASÃO DE TERRENO PELA MILÍCIA CARIOQUÍSSIMA)
Sorridentes em fotos tiradas pelas plagas do Sul do país, ali estava o salvelindo e mitológico presidente do Brasil ao lado de Franz Gortz, reconhecido pela Interpol o blogueiro condenado pela Justiça alemã a vinte anos de prisão por apologia ao nazismo. Causou impasse internacional diplomático com a Alemanha, mas pela mídia dos tristes trópicos não se falou nada – a eterna preocupação de não ofender malfeitores capitalizados pelo neonazifascismo.
Estranhamente, as duas grandes personalidades se caracterizavam e confraternizavam por serem rebeldes a favor, ou seja, um deles era presidente e se queixava do próprio governo com maioria no Congresso Tupi; o outro, atacava a leniência da Alemanha com o grande capital em um momento em que nunca se vira um governo tão reacionário na Alemanha ao passo em que se eliminava um movimento muito pequeno de real preocupação social.
Talvez a lógica de pensamento destes seja a mesma que estimula o povão a sair às ruas a espera de uma intervenção extraterrestre nas Forças Armadas para, assim, estas, imantadas pelos fluidos cósmicos, editem o AI-6 e, logo em seguida, passe a espancar esse mesmo povão em busca da dita-que-tava-dura.
Pensaram em uma campanha publicitária tendo por base a ideologia nazista da eugenia, mas de forma velada (caso fossem descobertas tais intenções, alegariam não ser bem assim, que tudo não passa de intrigas do barbudo). A campanha seria assim (fundo musical: Tristão e Isolda, de Wagner):
Mostrariam as vielas mais maltratadas de algumas favelas, esgoto a céu aberto, emaranhado de fios elétricos em postes asfixiados, amontoados de lixo e pichações de loas ao Comando Vermelho e por aí vai; em primeiro plano fixa as feições tristes e macilentas de um pivete de rua.
Segue: a publicidade expõe projetos de saneamento inexistentes assim como de urbanização “na nuvem” e, após o suposto exercício de poder público por sobre aquelas áreas, exsurgem cintilantes ruas perfeitas pavimentadas por asfalto-borracha, casas e edificações em simetria padrão Holanda, e, por fim, coleta de lixo seletiva. Tudo promovido pelo governo do Cara de Frango.
Nesse segundo quadro, o do pós-intervenção, fixa-se em primeiro plano (já plano americano) uma criança loira de olhos azuis coruscantes.
E saíram à cata de duas crianças para figuração na propaganda (ideológica) estatal.
Arregimentaram um Barra da Tijuca Baby e, claro, nosso herói Malaquias, o Pivete de Copacabana.
Já no estúdio, a orientação geral é a de que ambos ajam de forma natural, como são no dia-a-dia.
-Sim, senhor! – Respondem em uníssono os dois garotos.
A participação do patricinho é obviamente monótona sendo exatamente o que esperavam os diretores.
Notando um cheiro peculiar das ruas, Malaquias segue o lastro do odor até chegar ao filho de um dos dois rebeldes a favor; logo de cara notou o saquinho sépia que este levava ao nariz e fungava com forte inspiração.
– E aí, cara, ‘tá barato aí? Não sabia que esse saquinho tinha chegado nos bacanas, não! Quem diria, deixa eu te mostrar como é que faz: você aperta a boca do saco chegado no nariz e, depois, dá uma fungada de leve. – Na verdade, nosso garoto resistira ao vício das ruas, mas, às vezes para disfarçar a fome de não ter nada o que comer, puxava um prilimpimpim; porém, de forma comedida na busca simples de amenizar a dor ulcerosa do estômago vazio.
Acontece que no interior daquele saquinho sépia havia um pirlimpimpim moderno, importado da civilizada Europa, alguma coisa que, logo de cara, trazia um unicórnio multicor nos neurotransmissores.
O garotão rico caiu no chão rindo carluxamente de um nada formado por seu vazio próprio.
Malaquias, de olho na grana da propaganda – condição de sobrevivência sempre acima de tudo e de todos -, foi cambaleando para o set de filmagem.
No frigir dos spots ele vem e vem com tudo; no caminho foi observando a projeção na enorme tela de fundo onde se expunham as mazelas de áreas excluídas de seu povo, de sua ancestralidade. Malaquias fora tomado de uma consciência total mesmo que meio-inconsciente pelo psicotrópico inalado.
Erisipela, estreptococo, tracoma, esquistossomose, dermatites várias, ora tudo isso saíra de seu “histórico de atleta” e, agora, era o Superboy da favela: ele era a Voz do Morro que voltara após décadas de silêncio.
E foi assim empoderado que chegou em frente às câmeras e com voz firme afirmou ser aquele o povo que constrói e produz o Brasil; que sem esse povo, os babacas estariam mortos cheios de dinheiro em suas bocas abarrotadas, pois não saberiam produzir nada com suas mãos inermes, bundões que sempre foram vampiros do trabalho.
Continuou: o tempo de vocês acabará com a resposta que será dada pela necessidade de viver do povo que constrói.
Já vinham dois seguranças pétreos um de cada lado para captura do rebelde (este rebelde não é a favor!).
A aproximação ativa e potencializa sua barreira hematoencefálica e, de repente, ele tem guelras e tudo a seu redor revolve num arco-íris borrado; sente todo seu corpo como uma única ferramenta de luta e, com efeito, desfere golpes como um judoca de boate da Barra da Tijuca; derruba um e o segundo, trucida com um jab de esquerda seguido de dois uppercuts a la Mohammed Ali.
– Quero meu dinheiro agora! – Exige feroz e, por isso mesmo, recebe seu salário de figurante imediatamente. Abre-se à sua frente um imenso rasgo que o faz vislumbrar luzes puras intensas e sente o prenúncio profético de uma paz libertária coletiva, a libertação de seu povo; de um único povo, aquele de constrói e produz e, justamente por isso, proporciona a via humana sobre o planeta Terra.
Aos poucos o efeito psicotrópico passou e Malaquias sentiu uma inelutável angústia. Sabia que este sentimento é vão e que o sentido maior é o da sobrevivência; esta prevalece sobre qualquer intromissão química na biossinalização da pessoa – bem… ele sabia essas coisas todas de forma espontânea, não com esses nomes.
Parar e pensar: toda a sensação profética emanou de seu conhecimento interno, de seu subconsciente e a droga apenas expôs de modo husleyniano (Aldous Huxley forevis, amigos!); assim, todo o entendimento independe de drogas, pelo contrário, depende de estudo ou de vivência, ou dos dois.
E vivência, amigos leitores, os garotos que agora estão nas ruas têm de sobra e lutemos ou, pelo menos torçamos, para que não sejam vítimas do destino a que a sociedade brasileira hipócrita os destina.
II – O TURISTA “AMERICANO” SORRIDENTE QUE GOSTAVA DE FAZER CAFUNÉ EM MENINOS SOBRE SEU COLO (ESTADUNIDENSE É O CERTO – VAI COMER O CONTINENTE INTEIRO NA PQP)
John SitonaStick II, vindo de família riquíssima de Upper East Side (não tão rica como a do Coronel Tibúrcio, do interior de Goiás), egresso de Yale e playboy inveterado, ouviu falar sobre as belezas naturais do Rio de Janeiro – naturais e anatômicas. Pensou encontrar aqui o paraíso de seus desejos mais recônditos: gostava de meninos.
Nesse fito, desembarcou no Santos Dumont e sentiu, logo de entrada na Cidade maravilhosa, o calor de todas as flechas desferidas no corpo de São Sebastião. Ele ostentava um rosto de traços que o aproximavam ao de um sapo e a pele também, untuosa e discretamente derretida, o que compensava com os famosos cosméticos Hold Ass. O resultado final era uma mistura de Bulldog com o marido da Barbie.
Chegado ao Palace Hotel emergiu numa piscina particular mantida em seu quarto Master, assim refrescado sentia-se um sereio atlântico. Essa sensação é perigosa aos turistas do outro hemisfério, pois acabam por pensarem ser galãs da novela das oito e, por conseguinte, jogam-se em aventuras nunca antes encorajados a fazerem.
Assim foi quando saiu às ruas de Copacabana livre como um dândi (ilusão do efeito Oscar Wilde) à caça de meninos de rua; esse pormenor deve ser explicado: leitor compulsivo, sempre sonhou poder desenvolver sua verve como a do grande paradoxal escritor irlandês com a desenvoltura de coragem que teria apenas em um país que entendia como “inferior”. Isso conjugado com o que coletara de dados sobre crianças abandonados nas terras da garota de Ipanema (“seria Ipanema um país? ” – Perguntara ao onisciente Google antes da viagem): vira que o Brasil era um país onde pouco se lixavam para as crianças de rua após tanto sobressalto sobre a repulsa ao aborto, ou seja, tem que nascer, depois de nascer, pode se foder!
Aí sim teria seu jardim das delícias.
Acontece que o senhor SitonaStick II foi procurar essas crianças para consolá-las de sua condição miserável e, pelos sortilégios do destino, encontrou Malaquias, o Pivete de Copacabana, à noite, que andava pelo calçadão. Nosso garoto sempre com seu short da seleção brasileira ’70 a meio pau do mastro principal e sua indefectível camisa do Flamengo com três furos por baixo do sovaco esquerdo, vinha no gingado de quem acabara de entubar um farto churrasco bolsonarista.
– Meu garota, focê quer um Coca-Cola? – O estadunidense vinha se preparando há cinco anos para aprender o idioma da Última Flor do Lacio. – Quiero cuidar de focê e te dar um dinheirrinha.
– Cumequié? Ô meu santo, eu não ‘tou ligado na sua; pode me expricar melhor esse lance de “dinheirrinha”?
– Isso mesma! Vou te dar dinheirrrinha se focê for boa ‘pra mim.
– Quanto?
– Quinhentas dolars, minha querrido!
– Tá ok, mas por quinhentas dolars é só cafuné, Papito!
– Me dá uma beijo aqui… Qual a nome disso – e o turista sexual apontou para a boca.
– Bundinha – ensinou Malaquias.
– Isso mesma! Me dá beijo na bundinha! – Retorquiu.
Malaquias já conhecia gringos tarados desde os quatro anos de idade quando o governo do estado do Rio resolveu estimular a bunda como um patrimônio cultural e turístico e, por sorte, não fora capturado e levado para o tráfico internacional do sexo (sorte não, malandro inato, simplesmente saiu pela culatra enquanto a balança comercial do Rio aumentava seu peso à custa da prostituição). Portanto, sabia jogar com o taradão dos dólares.
– Cadê os quinhentão?
SitonaStick II subiu ao seu quarto Master do Palace Hotel, retirou o montante do dinheiro do cofre e voltou ao calçadão. Chegando não viu mais o pivete: “Onde estaria? ”, pensou. Nisso observou à sua frente uma placa de papelão com uma seta vermelha desenhada a giz de cera apontando para a esquerda.
Era um caminho a ser seguido até a consumação do sexo criminoso e vil. Com isso, seguiu as setas vermelhas até se deparar com uma onde estava uma pochete velha e um bilhete escrito assim pendurado ao lado:
“Putz de money dentro”.
Obedeceu e já com o rosto afogueado pelo calor, a maresia e a lascívia, seguiu derretendo o rosto plastificado e suando as axilas; tinha mais quatro setas vermelhas.
Ao chegar à última, ao invés de encontrar seu obscuro objeto do desejo, encontra um policial formato Stalone e Malaquias a seu lado chorando compulsivamente, apontando para o turista hediondo e clamando justiça ao agente da lei; de uma feita SitonaStick II é abotoado e jogado na viatura, levado à Delegacia, passa a ter, no dia seguinte, estampado seu rosto em todos os jornais, e cognominado a Fera dos States.
Malaquias e o Stalone tropical viram personalidades por três dias seguidos (o que ultrapassa e muito o tempo de sucesso paparazzi carioca).
Naquela noite da prisão em flagrante efetuada, nosso garoto falou para o agente da lei e da ordem:
– Metade a metade do dinheiro desse gringo tarado, valeu, seu puliça?
III- O POLICIAL EUGÊNICO QUE CHOROU AO CONHECER A HISTÓRIA DE JOSEF MENGELE
Foi no resistente Roxy que Afrânio, agente da Polícia do Estado Rio de Janeiro, assistiu pela primeira vez ao filme Meninos do Brasil, onde se contavam os horrores que um refugo de Auschwitz perpetrou nas crianças do Paraguai, Argentina e Brasil.
Associou imediatamente os tentos do cientista com sua atividade como policial atuando em Copacabana: todos aqueles pivetes vagando pela orla da Avenida Atlântica, conspurcando os ares do beautful people da Zona Sul (estes seres abençoados que ergueram e sustentam a sociedade e, por isso, merecem a veneração das forças de segurança).
Com esse energúmeno objetivo Afrânio resolveu adquirir uma pistola 9mm na Feira de Acari, e, seguindo o exemplo de outro estúpido inspirado (aquele do Táxi Driver), acoplou a pistola na extremidade de uma corrediça de gaveta atada por fita adesiva no braço, o que lhe permitia sacá-la inesperadamente com um simples movimento.
Daí foi às ruas para, em sua hora de folga, exterminar os garotos de rua.
Quem Afrânio encontra para ser sua primeira vítima? Malaquias, o Pivete de Copacabana.
O policial eugenista vem lentamente ao encontro de nosso herói, com um pacote de biscoito de chocolate para esconder sua verdadeira intenção. E vem se aproximando com aquele ar símio que o rosto de quem quer bajular para matar sempre ostenta, brandindo o saco de biscoito parecendo uma dádiva de alguma divindade.
“É ruuuiiiimmm!” – Pensa Malaquias, já de muito escolado em ares símios de quem quer bajular para matar; mas permanece em sua posição, pois sabe que policiais atiram para matar se você não está cometendo crime contra o Estado Democrático de Direito obstruindo estradas, mas se, ao invés disso, estiver dormindo numa praça por falta de moradia aí sim uma bala sempre é justificável.
– Seu puliça, esse biscoito me faz sentir azia, prefiro chocolate belga Lukau, se puder trocar para mim, agradeço.
“Ora, seu! ”- pensa Afrânio rilhando os dentes. – Com toda a certeza, meu querido menino de rua, onde será que eu encontro este chocolate belga que você tanto aprecia?
– Acho que em Dusty Freu do Aeroporto, mas pode comprar pelos “.com” da vida, também.
Quase o olho esquerdo do policial saltou da órbita ocular quando viu o preço de seiscentos reais um tablete, mas era um homem terrivelmente sistemático e se se propusera a bajular para matar, teria de cumprir seu papel de bajulador até o momento da eliminação.
Logo, pegou seu carro e dirigiu até o Santos Dumont, entrou no (ou penetrou-se pelo) chequespacial e, estrategicamente endividado até janeiro de 2032, comprou a divina iguaria.
Volta até Malaquias que, por meio de seus arcanos da malandragem, permaneceu no aguardo de Afrânio.
-Joga o chocolate, sou muito tímido para apreciar um Lukau perto de uma pessoa, ainda mais uma otoridade da puliça como o ilustra aí. – Diz com aquele ar sacana de quem tira de letra a miséria e o destino de não ter nascido abençoado endinheirado.
Ainda preso ao papel de bajulador, o policial segue as ordens do pivete.
Passadas três horas, Malaquias termina seu chocolate de seiscentos reauls (como nos ensina gramaticalmente aquele ministro general da asfixia manauara).
– Agora posso me aproximar para ourarmos o Pai Nosso juntos? – Pergunta humilde.
– Hoje acordei com dermatite atópica senegalesa única no mundo. – Fala mostrando um simples eczema inflamado, o que foi o suficiente para assustar o policial. – Sinto solidão e estou carente, por isso, peço um abraço seu, seu puliça.
Afrânio foi tomado de asco e medo, seu sentido de seguir à risca sua estratégia para matar o pivete foi abalado e, horrorizado, correu para o mais longe possível, enquanto Malaquias se aproximava com os beiços estirados para fora a la Mussum – para dar mais dramaticidade à encenação, ainda escancarou seus olhos vermelhos de tracoma formando dois fachos reluzentes na noite de Copa.
Dizem os milhares de aposentados de Copacabana ao Leme que o policial já ultrapassou a fronteira com o Suriname correndo mais do que Forrest Gump.