Um jornalista pode se manifestar nas redes sociais pelo meio ambiente ou mostrar seu apoio a um cessar-fogo na Ucrânia ?

A comunidade jornalística de Quebec debateu esse tipo de questão na conferência anual da Federação Profissional de Jornalistas de Quebec (FPJQ), que teve como tema “Isso não é censura”. O congresso de jornalistas foi realizado de 4 a 6 de novembro no Mont-Sainte-Anne em Beaupré.

Vários jornalistas enfatizaram a necessidade dos repórteres manterem suas opiniões para si mesmos, evitando qualquer forma de conflito de interesses. Enquanto outros acham que os jornalistas e repórteres têm preconceitos e devem ser capazes de falar sobre assuntos que os afetam.

Segundo François Cardinal, vice-presidente de Informação e editor associado do La Presse:

“Os jornalistas do La Presse não têm o direito de se manifestar, não têm permissão para se juntar a nenhum grupo ou organização militante. Eles não têm o direito de expressar sua opinião publicamente, seja nas redes sociais ou em outros lugares, a menos que sejam colunistas, críticos ou redatores. Este é o alicerce da profissão. Essa é a base da prática de qualquer repórter que trabalha no La Presse ou em qualquer grande mídia generalista de Quebec.” (Fonte: La Presse)

Para Cardinal, um jornalista deve ter um dever de confidencialidade, de forma a preservar sua neutralidade e independência profissional.

Por outro lado, nem todos os jornalistas presentes na convenção da FPJQ compartilharam do ponto de vista do vice-presidente e editor do La Presse. Lela Savic, fundadora e editora-chefe da mídia La Converse, pratica o jornalismo de diálogo cobrindo principalmente temas e vozes da diversidade. Enquanto Alexis Ross, editor -chefe do Pivot e membro do coletivo editorial da revista À bâbord! defende um jornalismo focado na justiça social, que contribua para a construção de uma opinião pública progressista, informada e forte. Segundo ele, os jornalistas do Pivot têm o direito de manifestar-se livremente. (Fonte: La Presse)

De fato, ao contrário do que possa pensar François Cardinal, todo o jornalismo, mesmo que se afirme objetivo, depende de um ponto de vista, de uma linha de ideias anterior à construção das palavras e das imagens. E é por isso que um número cada vez maior de pessoas, especialmente as gerações mais jovens, questionam o papel do jornalismo nas grandes mídias. Eles entendem que apoiam um discurso social, se calam e, muitas vezes, distorcem certas demandas e vivências que refletem outra realidade. A realidade dos excluídos do poder, dos sem voz ou de todos aqueles grupos que propõem soluções transformadoras e não violentas para a sociedade.

Aliás, mais do que nunca, os jornalistas das novas gerações terão que desempenhar um papel central no tratamento da informação e na criação do bem social que é a informação.

Hoje, começam a surgir o jornalismo de diálogo, o jornalismo militante e o jornalismo não violento. Novas formas de jornalismo que se tornarão cada vez mais importantes. Pois elas já não são simplesmente informações associadas a novidades ou últimas notícias, mas eventos atuais decifrados do que está acontecendo na vida real e cotidiana das pessoas. Não se trata mais simplesmente de estar informado sobre eventos mundiais, mas de informações que constituem a matriz que molda nossa maneira de ser, nossa visão do mundo e nossas relações com os outros.


Tradução do francês de Aline Arana