No dia 2 de agosto, a presidente da Câmara dos Estados Unidos Nancy Pelosi se tornou a autoridade americana de maior escalão a visitar o Taiwan desde 1997. A sua ida foi de encontro aos avisos da China e de outras autoridades americanas, que acreditaram que poderia gerar um posicionamento militar mais agressivo.
Não se sabe o objetivo dessa visita, além de ser uma forma de se posicionar contra a China, através da clássica retórica da “democracia”. O que os Estados Unidos vão ganhar com esta visita? Nada. Não há o que ganhar com este tipo de bullying, mas há muito a perder.
Monstrous arrogance of Nancy Pelosi! https://t.co/Bfffzb71Ns
— Medea Benjamin (@medeabenjamin) August 3, 2022
Clare Daly
@ClareDalyMEP
Nem Biden, nem os avisos dos militares americanos conseguiram impedi-la. Uma decisão estúpida, presunçosa e imprudente, que pode ter consequências terríveis a todos, por causa de um golpe publicitário sem sentido. Que Deus nos livre da arrogância descomunal de Nancy Pelosi.
Medea Benjamin
@medeabenjamin
A arrogância descomunal de Nancy Pelosi!
Depois da guerra por procuração entre Ucrânia e Rússia, parece que Taiwan está prestes a se tornar o foco de uma guerra por procuração entre os EUA e a China. Isso seria suicídio, porque os Estados Unidos não podem, de forma alguma, entrar em guerra com a China. Nós já lidamos com consequências inesperadas no presente conflito com a Ucrânia, que afetou o fornecimento global de alimentos e combustíveis. Um conflito com a China teria 100 vezes mais consequências que podem levar o Ocidente Branco a um caminho sem volta.
O mundo mudou de forma drástica nos últimos 100 anos. No entanto, alguns de nossos políticos não mudaram, e Pelosi ilustra isso perfeitamente. Eles ainda têm a mentalidade antiquada de poder, controle, e forçar todo mundo a adotar sua visão de mundo. No mundo atual, somos sobretudo interdependentes não é possível voltar atrás. Vimos isso com um país pequeno como a Ucrânia, cuja guerra prejudicou as vidas de, talvez, um bilhão de pessoas ao redor do mundo.
É muito fácil justificar nossas diferenças, ir contra os outros: A Rússia contra a União Europeia e os Estados Unidos, democratas contra republicanos. É uma forma mental que define tudo, dos ricos contra os pobres às tensões entre os EUA e a China. Mas essa forma atingiu o seu limite. Como Ariane Weinberger argumentou em sua pesquisa “The 12 Steps”:
“Apesar das tendências conservadoras dos nossos líderes e de quem ainda acredita neles, não se pode negar que a consciência humana expandiu com a globalização. Além disso, com os eventos recentes da pandemia e do confinamento global, é difícil ignorar que o planeta é UM SÓ.”
O mundo grita por formas novas, batizadas por alguns de mudança de paradigma. Basicamente, um mundo novo está emergindo, e esse mundo precisa ser estruturado de um jeito diferente. Jeito esse que deixe para trás todas as referências do passado que correspondem a um tempo diferente no processo da humanidade.
Weinberger descreve bem essa “nova forma de olhar”. No mesmo estudo mencionado acima, ela escreveu que “fomos avisados a tempo: Ir de encontro à evolução das coisas é ir de encontro a si mesmo! Qualquer mudança pressupõe a desestabilização de uma ‘ordem estabelecida’, ou seja, de uma forma fixa, em equilíbrio e em harmonia. Por isso qualquer mudança, especialmente as grandes, nos deixa em crise. Mesmo sem especular sobre uma ‘ficção científica’ do futuro, parece que a comunicação alma a alma ‘sacraliza’ nossos relacionamentos. O relacionamento tem valor central, acima de nossas individualidades, acima de ‘quem está certo’. A qualidade do vínculo prevalece sobre o conteúdo de uma conversa; boas intenções recíprocas e boa cooperação são mais importantes que o resultado da ação…”
“Do mesmo jeito, os primeiros cosmonautas saíram da atmosfera e, por consequência, escaparam da lei da gravidade e viram a Terra do cosmos. Esta mudança de perspectiva representa o primeiro passo para sair do confinamento da própria subjetividade, ou ‘solipsismo’. É um primeiro passo enorme para o nosso processo de emancipação”.
“Então como continuamos vivendo de livre e espontânea vontade nas diferentes formas de escravidão e determinismos que aprisionam nossas mentes? Como o Pégaso voltou à vida na forma de um cavalo arreado, com antolhos e arando uma terra que ele não considera sua?”
“Não sou nem o centro do mundo, nem o mundo. Não olho mais ‘de mim’; está mais para um olhar copresente que olha para mim e me faz compreender que sou ‘apenas parte’ da paisagem, que nem os outros fenômenos que a constituem; que estou ‘em paridade’ com tudo que vejo. Depois disso, é meio impossível continuar vivendo com o ‘Darwinismo’, o ‘egocentrismo’ e, por tabela, o ‘geocentrismo’, tão enraizado na nossa civilização atual… e da qual eu faço parte!”
“Ao observar a Terra de fora, os cosmonautas viram que era ‘UMA’, ou seja, além de suas divisões naturais e artificiais. Já nós, após observarmos nossa ‘forma de representação pessoal’ de fora — esta forma cenestésica que une tudo na mesma estrutura, um ‘campo de copresença” em que todas as percepções e representações estão conectadas —, também percebemos que a realidade é Uma, um Todo, conectada e interdependente…”
Ariane Weinberger estuda a forma mental das pessoas e o processo evolutivo do ser humano nos níveis social, cultural e espiritual. Sua pesquisa a levou aos ensinamentos de Silo, que ela vem acompanhando por mais de trinta anos. Além disso, Ariane continua seus estudos em diversos campos. Sua pesquisa em iconografia e práticas espirituais na pré-história foram publicadas no livro “Le Dessein de Sapiens au paléolithique supérieur“ (O propósito do Sapiens no Paleolítico Superior), cujas hipóteses instigaram o interesse do mundo acadêmico. A obra foi publicada na coleção ERAUL, que hoje está nas mãos da Presses Universities de France – PUF.
Traduzido do inglês por Ana Raquel Romeu / Revisado por Doralice Silva