ARTES VISUAIS
Por CWeA Comunicação
Obras de Lenora de Barros, Rosana Palazyan, Waltercio Caldas, Augusto de Campos, Paulo Vivacqua, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt e Antonio Manuel gravitam em torno da ideia de melodia de timbres criada em 1911 pelo gênio Arnold Schoenberg (1874-1951), autor da revolução que introduziu um novo campo na música, a música atonal, que rompe com o sistema verticalizado da harmonia, e cria a música horizontal, serial. A melodia passeia entre os vários timbres dos instrumentos, e cada nota passa a ter igual valor no espaço e no tempo, como pontos que flutuam. A mostra antecipa a celebração de 70 anos de “Poetamenos” (1953), de Augusto de Campos, com poemas desenvolvidos a partir da ideia de Schoenberg, e que é apontada como obra precursora do concretismo brasileiro.
Anita Schwartz Galeria de Arte, Rio
Abertura: 6 de setembro de 2022, das 17h às 20h
Até 22 de outubro de 2022
Entrada gratuita
Apoio: Becks
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 6 de setembro de 2022, das 17h às 21h, a exposição “Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres”, com obras de
de Lenora de Barros, Rosana Palazyan, Waltercio Caldas, Augusto de Campos, Paulo Vivacqua, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt e Antonio Manuel. A exposição reúne trabalhos de artistas que pesquisam, em variadas formas, as poéticas da ressonância como lugar de encontro, seja na intimidade do próprio ser ou no desejo de encontro com o outro. As obras manifestam um espaço para que as vibrações, em suas múltiplas potências, possam se somar entre si, ecoando novas palavras, sentidos e sonoridades.
A palavra “Klangfarbenmelodie” – melodia de som e cor (ou timbre) – foi criada em 1911 pelo genial compositor Arnold Schoenberg (Viena, 13 de setembro de 1874 – Los Angeles, 13 de julho de 1951), que revolucionou a música ao criar a atonalidade. Rompendo com o sistema harmônico, tonal, vigente até então, Schoenberg deu autonomia a cada nota, que ficava livre, solta no espaço e no tempo, em uma linha serial, sem estar hierarquizada em uma harmonia. Integrante do movimento da Segunda Escola de Viena, Schoenberg – ele mesmo um pintor e ensaísta – influenciou as artes visuais, como o pintor Wassily Kandinsky (1866 – 1944).
Frequentemente se associa a música criada por Schoenberg com o movimento artístico de meados do século 19, o “pontilhismo”, por causa das notas serem “pontos” no tempo e no espaço. Dentro da história da música, Schoenberg está relacionado ao expressionismo.
A exposição “Melodia de timbres” antecipa a celebração de 70 anos da publicação de “Poetamenos” (1953), de Augusto de Campos (1931), que visita o conceito de Schoenberg, e cria uma transcrição intersemiótica, desenvolvendo uma série de seis poemas plurilíngues e policromáticos. Estudiosos consideram essa série de poemas precursores do concretismo no Brasil, pois inaugura novas relações e procedimentos na construção e apresentação da poesia, propondo uma leitura de várias vozes e cores. O livro “Poetamenos”, com a construção de suas estruturas gráficas e espaciais dialoga com os demais artistas da exposição, apresentando possibilidades de escrita, leitura e interpretação de obras plásticas como poemas.
OBRAS/ARTISTAS
- Paulo Vivacqua (1971, Vitória, Espírito Santo). Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
“Interpretação (2012/2022), instalação, 12 estantes de partitura, alto-falantes, fios, cartões impressos, luminárias, 12 canais de áudio, 6 microsystems, dimensões variáveis.
A obra parte de uma relação lúdica ao propor a associação livre entre palavras, sons e figuras como um jogo da memória. É composta de 12 estantes que trazem como partitura desenhos antigos e simples de figuras variadas como chapéu, criança, pera, urna, entre muitas outras. Ao lado de cada cartão, um alto-falante emite um som que se relaciona ou não à figura representada. O conjunto de figuras e sons propiciam uma atmosfera de livre associação, e o trabalho se mantém aberto como um convite à imaginação do ouvinte-intérprete imerso em uma pequena orquestra imaginária de objetos sonoros e ações. A relação lúdica encanta principalmente as crianças, e o trabalho é uma versão “de câmera” da obra mostrada na 30ª Bienal de São Paulo, em 2012, com 48 estantes.
“The Legend of The Lake” (2005), instalação sonora, alto-falante, mp3 player.
Apresentado inicialmente em Nova York, na galeria Art in General, no Soho, o trabalho usará o elevador da Anita Schwartz Galeria de Arte. A partir de sons semelhantes aos funcionais do elevador, a instalação sonora se transforma em uma música etérea e minimalista, criando uma sensação de amplidão no espaço confinado. Ao explorar o confinamento do tempo e do espaço, Paulo Vivacqua transforma aquele espaço transitório e potencialmente claustrofóbico em uma atmosfera encantadora e espaçosa.
Sobre Paulo Vivacqua – Com formação em música, piano e composição, escrita e eletroacústica, elabora sua obra a partir de um cruzamento de planos sonoro, plástico e linguístico. Suas esculturas, objetos e ambientes sonoros ativam narrativas do espaço, paisagens temporárias. Esses processos de criação e procedimentos aplicados à composição musical e apresentações deslocam a obra para um novo contexto de interação e contemplação. Seus primeiros trabalhos buscaram por este território híbrido entre som/tempo e o espaço físico/localizado: “Paisagens Subterrâneas” (2000) e “Mobile” (2000). Em 2001 recebeu a Bolsa Virtuose (MinC) com o projeto “Instalação Sonora” a convite da ApexartGallery em Nova York, EUA, para um programa de residência. Participou de mostras nacionais e internacionais de relevância nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. Suas obras “Interpretação” e “Ohm” estiveram na 30ª Bienal de São Paulo, em 2012.
- Cristiano Lenhardt (1975, Itaara, Rio Grande do Sul). Vive e trabalha no Recife.
“Pinturas afluentes” (2020), acrílica sobre linho, 110 x 142 cm
Sobre Cristiano Lenhardt – Graduou-se em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Santa Maria (2000). Orientação artística no Torreão em Porto Alegre, de 2001 a 2003. Integra o Grupo Laranjas. Realizou exposições individuais na Galeria Marcantonio Vilaça, Instituto Cultural Banco Real, Recife (2008). Foi reconhecido com os seguintes prêmios: Abre Alas, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2008); Prêmio Projéteis da Arte contemporânea, FUNARTE, Rio de Janeiro (2008); Prêmio Concurso videoarte, Fundação Joaquim Nabuco, Recife (2007); SPA das artes, Recife (2007 e 2004); Bolsa Prêmio 26º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, Pernambuco (2006); entre outros.
A obra de Cristiano Lenhardt explora as narrativas que entrelaçam a cultura pop e a cultura de massa, a construção de mitos e lendas e uma reflexão sobre as formas como seres humanos, animais e objetos se relacionam. A sua prática não privilegia um meio acima do outro, mas antes abrange filme, performance, instalação, escultura, fotografia, desenho e gravura. O artista cria peças que fazem referência a diferentes fontes, incluindo folclore, história da arte, literatura fantástica e ficção científica, deixando sua pesquisa ser guiada não por um conceito pré-estabelecido, mas por uma série de exercícios de escrita, desenho e manipulação de materiais de diferentes origens – itens encontrados, orgânicos e inorgânicos, elementos descartados, matérias-primas que vêm de outros objetos – que vão sendo modelados, montados, dobrados e trazidos à vida.
- Lenora de Barros (1953, São Paulo, onde vive e trabalha)
“Só por es-tar” (2009), impressão em jato de tinta sobre papel de algodão, 250 x 10cm, tiragem 3:5 + 2 PA
A série fotográfica se desenvolve através de uma performance que registra um poema escrito na sola dos pés da artista. “Es-tar em si só por es-tar sal-ti-tan-do so-bre as sí-la-bas do si-lên-cio”.
Sobre Lenora de Barros – Formada em Linguística, iniciou sua carreira artística na década de 1970. A artista utiliza variados recursos na construção de suas obras, produzindo fotografias, vídeos, esculturas e instalações. Além de artista visual, também é poeta e recebe grande influência do concretismo tanto na poesia quanto nos seus demais trabalhos. Suas primeiras obras podem ser colocadas no campo da “poesia visual”, tendência que teve o seu desenvolvimento no Brasil, a partir do movimento da poesia concreta da década de 1950. Palavras e imagens foram seus materiais iniciais. Desde então, seu foco volta-se para a exploração das possibilidades dos códigos de linguagens que ela articula. Quanto ao caráter de gênero que atravessa sua trajetória, a artista nos apresenta dois polos de um mesmo espírito feminino. Por essa inteligência poética, condição humana e condição feminina se confundem numa simbiose produtiva na obra de Lenora de Barros. A artista se pauta no campo inesgotável da experimentação, valendo-se de multifacetado vocabulário – instalação, vídeo, performance, fotografia, escultura, objeto etc. Por isso, desde que começou, na década de 1970, sua obra, que também recebe influência da Pop Art e do movimento Fluxus, se mantém aberta às vanguardas contemporâneas.
- Rosana Palazyan (1963, Rio de Janeiro, onde vive e trabalha)
A artista mostrará quatro obras, duas delas inéditas, das séries “Por que daninhas?” e “Minha coleção de Sementes Daninhas”, iniciadas em 2006. Rosana Palazyan começou sua pesquisa a partir de textos de agronomia que tratam de estudos sobre plantas daninhas, e decidiu questionar essa terminologia, os argumentos utilizados para caracterizar seres vivos que são considerados indesejados e, portanto, deveriam ser controlados, à luz desses textos técnicos. A pesquisa é pioneira ao gerar reflexão sobre as plantas consideradas daninhas em analogia às pessoas que sofrem exclusão social, racismo, preconceitos diversos, genocídio, entre outros tipos de violência inflada por palavras e rótulos como: “são indesejadas e precisam ser destruídas”; “são vistas como inimigas a serem controladas”; “poderia crescer em seu lugar algo de uma beleza mais exuberante”, expressões usadas em textos de agronomia. “Qualquer um de nós pode ser considerado ‘daninha’ em algum momento ou inserido em algum contexto”, destaca ela.
Em 2006, Rosana Palazyan passou a coletar, nas ruas do Rio de Janeiro, e em outras cidades e países, plantas consideradas daninhas. Ela passou a cultivá-las no estúdio,usando-as de várias maneiras em seus trabalhos. As plantas floresceram, “algumas pequenas e delicadas, outras se transformaram em arbustos”. “Lindas flores surgiram, porém de uma beleza classificada nos livros como ‘não comercial’, tal qual o conceito de beleza utilizado no mundo capitalista, para ‘aqueles que não satisfazem a interesses econômicos imediatos’”, comenta. Sementes são guardadas e algumas fazem parte desta coleção na série “Minha Coleção de Sementes Daninhas“, conferindo valor e qualidade a seres rotulados como com “funções ainda não descobertas”, e que agora passam a ser inseridos no contexto da arte.
Em 2010 a artista ocupou a Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro, com trabalhos desta série, na exposição “O Jardim das Daninhas”. Em 2015, um trabalho também derivado desta pesquisa foi exposto na 56ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, no Pavilhão Nacional da República da Armênia, vencedor do Leão de Ouro de melhor representação nacional. Inserida no jardim do Mosteiro Mekitarista, na Ilha San LazzarodegliArmeni, em Veneza. Durante a Bienal, o jardim original, planejado e limpo, abriu espaço ao crescimento das plantas daninhas, que conviveram com as plantas ornamentais já existentes.
1 – “… prejudicam os objetivos econômicos do homem e devem ser exterminadas…” (2006/2022), da série “Por que Daninhas?” – Bordado com linha e fios de cabelo sobre tecido; planta, 30 cm x 24 cm. Obra inédita.
A obra contém uma planta real considerada daninha, fixada sob um tecido transparente com um bordado imperceptível, que acompanha seu contorno. As raízes foram substituídas por frases sobre plantas daninhas e bordadas com os fios de cabelo da artista. Assim, tanto plantas como seres humanos têm seus DNAs representados.
2 – “Talinumfruticosum homo” (2006/2022), da série “Minha coleção de Sementes Daninhas” – Bordado com linha e fios de cabelo sobre voal, sementes da planta Talinumfruticosum L., 28 cm x 13 cm x 5,0 cm. A obra é inédita.
A série “Minha coleção de sementes Daninhas” (2006/2022) apresenta objetos como se fossem relicários. O título de cada peça cria um novo nome científico para o híbrido de planta/homem, unindo os nomes científicos de ambos. Em cada peça a imagem de uma planta (com flor) considerada daninha foi bordada com linha, e em sua base a figura do ser humano bordada com fios de cabelo da artista. Sementes originais da planta foram fixadas no local de sua representação. Plantas e seres humanos têm assim seus DNAs representados.
3 – “Daninha? Qual é seu nome?” (2006/2012), desenho sobre papel
Os desenhos surgiram como forma de não esquecimento, em que imagens de plantas e pessoas são parte do mesmo organismo, e os nomes nas raízes fazem refletir sobre racismo, misoginia, e outros preconceitos. Alguns dos nomes são populares e outros científicos: Bunda-de-Mulata; Maria-sem-vergonha; Cabeça-de-Negro; Maria-Preta; Malícia-de-Mulher; Mimosa Pudica; Maria-Gorda; Cuspe-de-Caipira.
4 – “O Jardim das Daninhas” (2010) – 10’, vídeo com o registro de “O Jardim das Daninhas” (2010), na Casa França-Brasil, Rio de Janeiro.
O vídeo poético traz momentos da montagem do jardim, parte do processo da artista, , o público interagindo com a obra, e o trabalho em diálogo com o espaço arquitetônico e as questões políticas, econômicas e sociais na história da instituição e de seu entorno no tecido urbano da cidade. O jardim de reflexões, de luta e resistência, contra a exclusão social, o preconceito, o racismo e outros tipos de violências, consumiu seis meses de trabalho da artista, junto com uma equipe especializada. Durante este processo, Rosana Palazyan descobriu que algumas plantas consideradas daninhas eram usadas na medicina e na culinária, desconstruindo o conceito encontrado nos livros de agronomia de que “suas virtudes ainda não foram descobertas”.
Sobre Rosana Palazyan – Integra um seleto grupo de artistas contemporâneos brasileiros que fundamentaram seu trabalho no exercício da alteridade e no papel da arte como ferramenta de transformação social. As obras da artista resultam de um processo de criação que inclui o envolvimento e trabalho com pessoas que estão fora do tecido social produtivo para o capitalismo. Em suas obras, a artista se dedica a construir a arte de estar junto, da tão importante e difícil convivência das diferenças. As obras revelam as vozes ocultas e abafadas de pessoas em situações de vulnerabilidade.
- Waltercio Caldas (1946, Rio de Janeiro, onde vive e trabalha)
“Paisagem EO.395” (2007) – aço inox, acrílica, granito polido 1,80m (horizontal), 1,18m (horizontal de cima), 1,65m (vertical do meio) x 1,60m (verticais das pontas).
A obra é um convite para reflexões sobre o tempo, espaço, linguagem e percepção. A escultura, de caráter instalativo, apresenta um desenho tridimensional de linhas e formas sutis. Referências tradicionais de composição da paisagem são desconstruídas pelo artista. Desse modo, ele nos oferece a poética de uma ideia abstrata de paisagem, com a intenção de que possamos cocriar novos significados e percepções para além do previsível e estabelecido enquanto imagem. A obra nos oferece um convite ao exercício de imaginação artística, que através de uma viagem ao campo fértil do pensamento, delira as ideias abstratas como exercício de liberdade das formas aprisionadas.
Sobre Waltercio Caldas – Escultor, desenhista, artista gráfico e cenógrafo. Estudou pintura com Ivan Serpa, em 1964, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Faz esculturas, instalações, desenhos, objetos e fotografias de caráter conceitual, que transcendem a ideia de espaço. Utiliza materiais variados como aço inoxidável, acrílico e fios de algodão.
As obras de Waltercio Caldas, artista reconhecido internacionalmente, são um convite a reflexões sobre o tempo, espaço, linguagem e percepção. Um dos seus desafios é desacelerar o processo de percepção para torná-lo mais produtivo do que previsível. A relação entre os materiais que utiliza também é um aspecto significativo em seu trabalho. A intenção de sua mensagem poética é a criação de novos significados.
- Yolanda Freyre (1940, São Luís, Maranhão). Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
“A Hortênsia e a Galinha” (1974/75) – impressão jato de tinta sobre papel de algodão, tiragem 5 + 2 PA
“O terço da Hortênsia” (1975) – Livro de artista, edição 1:3, dimensões variáveis
“A Hortênsia e a Galinha” é uma obra emblemática da trajetória da artista, em que faz uma homenagem simbólica aos presos e desaparecidos políticos da ditadura brasileira. Ao ter conhecimento que seu próprio irmão havia sido capturado e assassinado pelo regime militar, Yolanda convida amigos para um ato contra a violência que, por motivos de repressão, não acontece publicamente nas ruas da sua cidade. A performance é realizada no ambiente doméstico, onde o corpo da artista invoca a sua força política, e através de uma parábola de elementos presentes no seu quintal, as hortênsias e as galinhas do vizinho que insistiam em invadir seu espaço, Yolanda conta a trajetória de desejo e luta em uma sociedade patriarcal e autoritária que silencia e ceifa as vidas que a ela se opõem.
Sobre Yolanda Freyre – A prática de Yolanda Freyre se concentra em temas sociais e na representação do nordeste brasileiro. As sessões psicanalíticas a levaram a produzir desenhos em nanquim inspirados em um imaginário pessoal da infância. Teve contato com Ivan Serpa, que a incentivou a desenvolver seu trabalho de desenho e pintura. Em meados da década de 1970, diante da repressão da ditadura militar brasileira, começou a abordar temáticas ligadas à violência em seu trabalho; encenou marchas e intervenções, inicialmente em espaços públicos, e depois performances para públicos seletos.
O processo artístico de Yolanda Freyre deve ser entendido organicamente. Em um primeiro momento se caracteriza por pinturas e performances ritualizadas. Em um segundo momento, a artista desenvolve a pesquisa de quantificação da cor/luz. Então, passa a abstrair a cor para melhor evidenciar a matéria, depois substitui a densidade da matéria por uma profundidade, resultado de superposições de veladuras. No momento atual, apresenta uma abertura de rituais para ações, instalações e performances sem abandonar a pintura na qual passa a utilizar novos suportes. Desenvolve práticas artísticas escultóricas em concreto, orientadas por um interesse em geometria. A partir da década de 1990, o seu trabalho volta-se para temas como a maternidade, a domesticidade, vivência e memória.
- Augusto de Campos (1931, São Paulo, onde vive e trabalha)
“Poetamenos” (1953), publicação, 1ª edição.
Série de seis poemas – “poetamenos”, “paraíso pudendo”, “lygiafingers”, “nossos dias com cimento”, “eis os amantes” e “dias diasdias” – e um texto introdutório, em que Augusto de Campos esboça as premissas de seu experimento sob inspiração da Klangfarbenmelodie (“melodia de timbres”), criada pelo compositor austríaco Arnold Schoenberg. Augusto de Campos abandona o verso e a sintaxe convencional, e dispõe as palavras em estruturas gráfico-espaciais, algumas vezes impressas em até seis cores diferentes. A publicação é considerada precursora do concretismo brasileiro.
Sobre Augusto de Campos – Poeta, tradutor, ensaísta e crítico de literatura e música, publicou seu primeiro livro de poemas, “O rei menos o reino”, em 1951. Como uma das principais vozes da poesia concreta, Augusto de Campos, seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, fundaram o grupo Noigandres e sua revista literária, “Noigandres: antologia do verso à poesia concreta”, na década de 1950. Assim como StéphaneMallermé, os Noigandres estavam interessados em explorar os elementos visuais das palavras escritas e impressas, juntamente com as performances cantadas ou faladas desses textos, que chamavam de verbivocovisual.
Em 1955, no segundo número da revista, publicou uma série de poemas em cores, “Poetamenos”, considerados os primeiros exemplos consistentes de poesia concreta no Brasil.
- Antonio Manuel (1947, Avelãs de Caminho, Portugal). Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
“Valores intrínsecos” (2009) – acrílica sobre tela, 200 x 260 cm
A obra pertence à série de pinturas desenvolvidas pelo artista a partir da década de 1980, de caráter abstrato-geométrico, nas quais desenvolve elementos importantes da sua pesquisa como as relações com a cor, a construção do espaço e a sugestão de labirinto. As questões tradicionais da pintura como figura e fundo são atravessadas pelo artista, que ao perfurar a tela, cria um buraco que destaca o seu fundo, no caso, a parede da Galeria Anita Schwartz. No gesto radical de Antonio Manuel, há uma invocação de conceitos fundantes e amplamente experenciados pelo modernismo, tais como os diálogos entre o “dentro e fora”, a “transparência”, o “cheio e vazio”.
Sobre Antonio Manuel – Antonio Manuel da Silva Oliveira chega ao Brasil em 1953 e fixa residência com a família no Rio de Janeiro. Em meados da década de 1960, estuda na Escolinha de Arte do Brasil, com Augusto Rodrigues (1913-1993), e frequenta o ateliê de Ivan Serpa (1923-1973). Nessa época, é também aluno ouvinte da Escola Nacional de Belas Artes. Inicialmente, utiliza o jornal e sua matriz – o flan – como suporte para seus trabalhos. Realiza interferências e inventa notícias, nas quais aborda temas políticos e discussões estéticas. Em 1968, na exposição “Apocalipopótese”, organizada por Hélio Oiticica (1937-1980) e Rogério Duarte, apresenta as Urnas Quentes – caixas de madeira lacradas que deveriam ser arrebentadas pelo público. Em 1970, Antonio Manuel propõe o próprio corpo como obra, no Salão de Arte Moderna, realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Posteriormente, produz vários filmes de curta-metragem, como Loucura & Cultura (1973) e Semiótica (1975). A partir da década de 1980, realiza pinturas de caráter abstrato-geométrico, nas quais explora as ortogonais e a sugestão de labirinto. Apresenta, em 1994, a primeira versão da instalação Fantasma que, como outras obras do artista, solicita uma reflexão sobre o contexto social e político brasileiro.
Serviço: Exposição “Klangfarbenmelodie – Melodia de timbres”
Abertura: 6 de setembro de 2022, das 17h às 20h
Até 22 de outubro de 2022
Anita Schwartz Galeria de Arte
Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Gávea, 22470-100, Rio de Janeiro
Telefones: 21.2274.3873 e 2540.6446
Segunda a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados das 12h às 18h
Entrada gratuita