Quase todos que tiveram um bichinho de estimação passaram pela traumática experiência de perdê-lo. É uma dor sem tamanho, como se um ente querido humano partisse. Muitos chegam a um limiar de sofrimento tamanho que sequer cogitam ter outro animalzinho como companheiro. Outros demoram anos até tomar a coragem necessária pra investir seu tempo e seu afeto em outra criaturinha. Mas e se fosse possível ter o seu animal de estimação para sempre?
Hoje em dia, por mais que pareça um capítulo da literatura de ficção científica, isso já é possível. Porém, antes de nos animarmos demais, convém a ressalva: ainda é muito oneroso fazer toda essa “magia acontecer”. Por isso, por ora, trata-se de uma tecnologia limitada para poucos afortunados. Até que a disruptura da tecnologia chegue ao ponto de desmonetarização, isto é, que seja “barata” a tal ponto de as grandes massas poderem também usufruir, não será logo que veremos esses “pequenos milagres”.
Alguns laboratórios estrangeiros já oferecem o serviço de clonagem de pets pela bagatela de 50 mil dólares. É caro, mas o lado comercial da ciência está começando a acontecer. É provável que na próxima década a tecnologia já esteja acessível a um maior público. É a expectativa. Aí, então, os milagres acontecerão “em larga escala”.
Falar sobre clonagem de animais não é exatamente uma novidade. Muitos devem se lembrar da famosa ovelha Dolly, cuja notícia de sua “criação”, em 1997, causou um furor no mundo, para o bem e para o mal. Religiosos mais fanáticos repudiavam a nova tentativa do homem de querer ser Deus, enquanto os cientistas comemoravam os avanços e os prognósticos que tinham para os próximos anos. Era um Fla x Flu ideológico que ninguém saía ganhando.
Por outro lado, era interessante observar em meio às discussões mais acaloradas sobre os limites da ciência, da religião, da ética que tais limitações não existiam quando o pensamento humano era fantasioso. Ou seja, parecia não ser errado pensar, mas seria errado “fazer acontecer”. E olha que pecamos por pensamentos e palavras.
A ficção científica – é claro – já explorava essa questão há anos. Ela permeava entre a fantasia e o acontecer livremente, sem nenhuma preocupação. Lembremos do Jurassic Park, por exemplo: um mosquito fossilizado carregava material genético de diversas criaturas do período cretáceo (ah, sim, nem pergunte o porquê do nome Jurassic) e, assim, nas telonas, foi possível restaurar aqueles seres gigantes em nosso tempo. Loucura? Talvez…
Outra obra cinematográfica que explora também a questão, e até de forma mais crível que criar dinossauros a partir da mordida de um mosquito, é o filme O 6º Dia, estrelado pelo Arnold Schwarzenegger. Na película, o ator austríaco era um piloto de helicóptero que fora duplicado sem saber, por meio de uma empresa de clonagem de animais chamada Repet (um trocadilho com as palavras repetir e pet, de animal). O cinema já estava dando todas as dicas para a comercialização da técnica.
Mas e no mundo real? Como isso funciona?
A Coreia do Sul foi uma das precursoras da técnica em 2005, produzindo seu primeiro cãozinho clonado. A China e os Estados Unidos vieram em seguida, duplicando os saudosos bichinhos para seus donos.
Analisemos um pouco mais a fundo a ViaGen, empresa americana que opera no segmento desde 2015, cobra 50 mil dólares para a clonagem de um cão. O valor pode chegar perto de 150 mil dólares se o animal clonado for de grande porte, como um cavalo, por exemplo.
A técnica usada pela ViaGen consiste no cultivo de células em laboratório e sua injeção em óvulo sem núcleos. Depois de alguns procedimentos demasiados técnicos, chega-se ao estágio embrionário. A partir daí, então, é preciso alocá-lo em uma barriga de aluguel, para que ocorra uma gestação normal.
Apesar de o resultado gerar um animalzinho idêntico fisicamente, ele será apenas isso: um gêmeo. A personalidade, a experiência, o comportamento não são “migrados” para o novo bichinho. A sua consciência e futuro são completamente novos, abertos. Mas, é claro, que nada impede que o resultado seja muito próximo do que o seu dono espera, principalmente se levarmos em conta que os pets, numa análise simplória, são formados pela equação “instinto + condicionamento”.
Você, leitor, que agora chega ao fim deste ensaio deve estar se perguntando: mas que raios é o Juscelino do título? Bom, Juscelino foi o meu hamster que, infelizmente, deixou a nossa família há pouco tempo. Ele era meu companheiro de trabalho nas empreitadas de home office, meu filho peludo, como costumava brincar com os amigos, ao se referir a ele… Acredite ou não, estou com um tufo de seu pelo e uns pedaços fossilizados de suas fezes preservados, apenas aguardando a popularização dessa tecnologia. Quem sabe o meu “ratinho” não dá as caras por aí em breve?