MÚSICA
Por Renan Simões
Em seu álbum de estreia, de 1964, Nara Leão apresenta um repertório impecável, em um feliz diálogo entre as diversas linhas do samba e a ambiência jazzística da bossa-nova. Com produção e direção de Aloysio de Oliveira e arranjos de Lindolfo Gaya, o disco ilustra as transformações vivenciadas pela bossa-nova, e apresenta uma das cantoras mais especiais de toda a música brasileira, que brilha sem esforço em cada nota entoada.
A incrível Marcha da Quarta-feira de Cinzas, com um quê de alienígena e sempre atual, é uma composição da dupla Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, que também assina a mordaz crítica de Maria Moita. O repertório de Baden Powell é bastante explorado com o registro de Vou por aí, parceria com Aloysio de Oliveira, e Berimbau e Consolação, feitas em parceria com Vinicius de Moraes.
Uma levada afro com toques bluesísticos se faz presente em Canção da terra de Edu Lobo e Ruy Guerra, dupla que também assina o momento mais introspectivo do álbum: Réquiem para um amor. Há espaço também para sambas leves como Diz que fui por aí de Zé Keti e Hortênsio Rocha, e O sol nascerá de Cartola e Elton Medeiros, que se contrapõem ao triste samba Luz negra de Nelson Cavaquinho e Hirai Barros. Infelizmente, a faixa Nanã, composição e arranjo de Moacir Santos, não faz jus à grandeza do tema.
Nara Leão, Nara, uma voz realmente diferenciada e expressiva expandindo os limites da bossa-nova! Ouça, desfrute, reflita, repasse: